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Controller: entenda esta profissão da área financeira

Conhecimento contábil, visão 360° e boa comunicação são atribuições de um controller. Veja como investir na carreira e a rotina de quem já está nela.

Por Monique Lima
Atualizado em 17 Maio 2024, 16h41 - Publicado em 8 mar 2021, 06h00
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Fernando Henrique, 35 anos. Antes de ser controller, foi auditor da consultoria Deloitte. (Celso Doni/VOCÊ S/A)
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O controller é o head de contabilidade de uma empresa. Sua função primordial é coordenar a produção dos balanços da companhia. Isso o torna peça-chave principalmente em empresas de capital aberto, que devem satisfações a seus acionistas e a todo o mercado financeiro.

Para entender melhor a importância dessa figura, vamos a um exemplo prático. Em fevereiro de 2020, a gestora de fundos de investimentos Squadra verificou em uma análise de balanços que a resseguradora IRB Brasil estava superfaturando lucros em seus balanços. 85% do valor de mercado da companhia se perdeu nessa brincadeira. Mais tarde, a empresa colocaria a culpa em diretores que já tinham deixado a empresa. (leia mais sobre a IRB aqui).

Se os acionistas majoritários da resseguradora (Bradesco e Itaú) tivessem um bom controller – além de outro CEO e outro CFO, claro –, teria sido bem mais complicado para a diretoria da época ter perpetrado a maquiagem, que lhes conferia bônus vultosos. Pois está no escopo de atividades do controller ser os olhos e os ouvidos dos acionistas dentro da organização, de modo que a boa governança seja preservada.

Está aí o ponto-chave da profissão: garantir uma boa governança.

Anos atrás, o controller era basicamente um profissional de contabilidade, com funções quase que exclusivamente burocráticas, como cuidar da documentação fiscal, regularizar a parte tributária, zelar pelos custos da empresa. Mas a profissão evoluiu.

Depois de escândalos envolvendo a administração de grandes empresas – como da Lava Jato no Brasil e o da Enron, outra maquiadora de balanços, nos EUA –, boa parte das grandes empresas entendeu que precisava de um profissional que também fosse uma espécie de auditor exclusivo, um zelador da boa gestão e dos interesses dos donos. E essa honra coube ao cabeça da contabilidade, também conhecido como gerente ou diretor de controladoria: o nosso amigo controller.

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Outra função importante do cargo está atrelada à visão estratégica do negócio. Para que esse papel fique mais claro, vamos imaginar uma situação concreta. Recentemente, o Estado de São Paulo aumentou o ICMS de vários produtos, o que acarreta em aumento nos custos para as empresas. Em momentos assim, qualquer companhia entra num dilema. Repassar todo o aumento para os consumidores? Engolir o prejuízo, para não perder clientes? Buscar novos fornecedores, mais baratos, para anular a alta tributária? São decisões que, no fim, cabem ao CEO e ao CFO. Mas a presença de um controller competente, com todos os números da empresa na ponta da língua, é fundamental para que a empresa tome a decisão mais correta, mais financeiramente sustentável.

Controllers e contadores

Nem todo contador é um controller em potencial, e nem todo controller é contador. A nomenclatura, afinal, se refere a um cargo, não a uma formação acadêmica. “Contadores, em geral, são assistentes, analistas ou até mesmo gerentes, que respondem ao controller”, diz Lucas Papa, gerente da consultoria de recrutamento Michael Page. Já o controller pode ter vindo de outra área, não necessariamente da contabilidade.

Dentro desse cenário, os contadores vão preparar relatórios e produzir os números do orçamento. O controller junta todos esses dados e os interpreta dentro da realidade do negócio. Visão estratégica.

É muito comum que em empresas menores o controller e o CFO sejam a mesma pessoa; afinal, visão estratégica, liderança e cuidados com a boa governança são atribuições do líder executivo do financeiro. Porém, em companhias maiores, são postos separados, em que o controller responde diretamente ao CFO.

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Um dos motivos para a profissão estar em alta nos últimos anos é justamente por conta dessa ligação. Lucas Papa explica que, em tempos de crise (como o de agora), muitas organizações trocam de CFO e de controller para passar uma mensagem ao mercado: “olhem, estamos em busca de profissionais mais qualificados para organizar nossas finanças”. E isso tem feito a demanda pelo cargo aumentar.

Requisitos de gente grande

A formação mais comum de um controller é em Ciências Contábeis. Mas, como dissemos, não se trata de um pré-requisito. Outros cursos, como Administração, Economia e Engenharia, também são bem aceitos pelo mercado.

Mas a formação acadêmica é o de menos. Por se tratar de um cargo sênior, o que importa mesmo é a trajetória profissional. “Você não termina a faculdade e é contratado como controller. É comum empresas olharem para profissionais que já passaram por consultorias, por exemplo, por estarem familiarizados com auditorias e balanços”, afirma Lucas Papa.

Não só isso. Se o domínio da parte técnica bastava no passado, hoje também exige-se um bom perfil comportamental. Habilidades de comunicação e de mediação entre diferentes áreas da empresa são fundamentais. Sem isso, não há como contribuir na parte estratégica. Logo, não dá para ser um controller na acepção moderna do cargo.

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Outro ponto de destaque é a visão holística, ou seja, entender a cultura da empresa, a importância de cada área para construção do todo e de que forma movimentos da sociedade e do mercado podem influenciar no negócio.

Curiosos por natureza

Formado em Ciências Contábeis pela PUC-SP, com pós-graduação em Finanças, Fernando Henrique de Moraes, 35 anos, começou a carreira ainda na faculdade, lá em 2005. Seu primeiro emprego na área de contabilidade foi na consultoria Deloitte, como auditor. Por nove anos, Fernando trabalhou com revisões financeiras, fiscais e tributárias. Até que, no final de 2014, surgiu a primeira oportunidade como controlador financeiro na GLP, uma multinacional de fundos imobiliários sediada em Cingapura.

Foi a partir desse primeiro contato que nasceu a paixão pela atividade. Hoje, Fernando é controller na empresa de locação e venda de imóveis Quinto Andar. “Vejo muito a minha profissão como a de um guardião da empresa, que precisa fazer a parte chata de pôr o pé no freio e avisar o que não dá para fazer. Mas que também ajuda na hora de viabilizar um projeto novo e está por trás de toda a concretização.”

O dia a dia de Fernando no Quinto Andar começa com a digestão do noticiário. “Leio os principais jornais pela manhã e, em seguida, repasso para as áreas responsáveis o que acho que pode influenciar nos negócios. Pode ser um novo projeto de lei, o IPO de uma companhia que pode nos impactar, novidades tributárias, tudo que pode afetar nossa realidade enquanto empresa”, diz. Pelo menos 20% do seu dia corresponde a esse olhar atento.
Os 80% restantes não podem ser classificados como “rotina”, pois são bem dinâmicos: reuniões com o pessoal de áreas diversas, revisões de relatórios, análises de projetos, aprovação de novos produtos e o treinamento constante de sua equipe de controladoria.

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O segredo da profissão, segundo Fernando, está na curiosidade. Só com altas doses dessa característica o profissional terá condições de entender o negócio de diferentes empresas, interpretar demonstrações financeiras, adquirir conhecimentos jurídicos… Enfim, o necessário para aliar um respaldo técnico acima de qualquer suspeita à capacidade de tecer estratégias de longo prazo – o combo ideal para o cargo.

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(Arte/VOCÊ S/A)
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