Continua após publicidade

Da Suméria para a sua casa: veja como é trabalhar na área de logística

A logística forma as veias e artérias da economia. E agora, com a ascensão definitiva das compras online, ela ganha um papel ainda mais central.

Por Juliana Américo
Atualizado em 14 jan 2021, 18h12 - Publicado em 8 jan 2021, 09h00
-
 (Alexandre Battibugli/VOCÊ S/A)
Continua após publicidade

Sem logística, não existe comércio. Na Suméria da Idade do Bronze (3000 a.C.), não havia bronze. Esse metal é uma liga de cobre e estanho, e era o favorito da época para a fabricação de armas. Os sumérios, que viviam onde hoje fica o Iraque, precisavam do comércio para obter as matérias-primas do bronze. A fonte de estanho ficava 700 quilômetros ao Norte, no atual Irã. A de cobre, 1.200 quilômetros ao Sul, pelo mar, onde hoje estão os Emirados Árabes.

Comerciantes, então, levavam tecidos e grãos, em caravanas e barcos, para esses lugares. E voltavam carregados de cobre e estanho para revender nas vilas sumérias. Graças a essa rede logística, a Suméria floresceu. E teve tempo para criar certas novidades: os centros urbanos e a escrita – que começou como uma forma de registrar quantidades de grãos e de cobre, e logo evoluiu para a poesia, a literatura. Sem logística, não teríamos nada disso.

E não teríamos este país continental onde você está sentado agora. O Brasil é uma obra da logística. Para o bem e para o mal, o país sempre dependeu de exportação de matéria-prima – no século 17, açúcar; no 18, ouro; no 19, café; hoje, soja, minério de ferro, petróleo, celulose, carne.

A logística move toda a economia, e as empresas em transporte e entregas correspondem a 4% do PIB – com um faturamento de R$ 201 bilhões. Além disso, a logística gera 1,5 milhão de postos de trabalho diretos e indiretos, de acordo com dados da Associação Brasileira de Operadores Logísticos.

Claro que o setor não passou imune à Covid-19. Em março, a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística registrou uma redução de 38,6% no volume de cargas nas estradas. Além disso, 85,3% das empresas do segmento perceberam queda na demanda. Culpa da baixa nas exportações.

Continua após a publicidade

Enquanto a indústria e o agronegócio sofriam, porém, o varejo e o comércio eletrônico bombavam. Nos três primeiros meses da pandemia, o número de compradores online subiu 70% – até então, as estimativas da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) eram a de que uma alta assim levaria dez anos para se materializar. Rolou 40 vezes mais rápido.
Com isso, diversas empresas aproveitaram para investir nas suas áreas de logística. O Mercado Livre, por exemplo, lançou a sua própria frota de aviões de carga, formada por quatro aeronaves alugadas, todas pintadinhas de amarelo, a cor da empresa. Já a Amazon trouxe para o Brasil o seu programa monstruoso de logística, que reúne pequenas companhias de entrega para agilizar o envio de encomendas.

É um fenômeno global, como não poderia deixar de ser. A empresa de capital de risco 500 Startups, que apoia empreendedores em mais de 75 países, identificou um aumento de 32% nos investidores interessados em startups de logística pelo mundo.

Novo papel

Um indício da importância que a área vem ganhando (não só na pandemia, mas nos últimos anos) é a ascensão de especialistas em logística para a diretoria-geral de certas empresas. Um exemplo disso é o CEO da Natura América Latina; antes de assumir a presidência em 2016, João Paulo Ferreira atuou na área de supply chain – essencialmente logística, que cuida da compra de matéria-prima até a entrega ao cliente.

Continua após a publicidade

Com o crescimento da demanda, o mercado tem dificuldade de encontrar profissionais experientes no segmento. “Hoje existem cursos de tecnólogo na área, e as graduações em administração e engenharia da produção estão preparadas para formar esse profissional. Mas antes a logística não fazia parte da grade curricular das faculdades”, diz Pedro Moreira, presidente da Abralog (Associação Brasileira de Logística).

E formação precisa ser sólida. Para trabalhar com logística hoje é preciso ter familiaridade com uma miríade de softwares de gestão, como sistemas de gerenciamento de armazém (WMS) e de transportes (TMS).

Das embalagens para a supervisão

Anara Andrade da Cruz, de 35 anos, completou, agora em janeiro, dez anos na área de logística. Natural de Jundiaí, começou como auxiliar de embalagem na Cnova – a empresa fazia parte do Grupo Casino e era responsável pelo comércio eletrônico das marcas da multinacional; em 2019, ela foi totalmente incorporada à Via Varejo.

Continua após a publicidade
sa272_PROFISSOES_2
(Alexandre Battibugli/VOCÊ S/A)

Cinco meses depois de começar nas embalagens, Anara foi promovida a ajudante operacional, e se tornou a primeira mulher da companhia a operar uma transpaleteira, que é um equipamento de movimentação de carga. “Quando fui fazer o curso preparatório para poder operar a máquina, eu era a única mulher na sala. E teve aquele burburinho de ‘nossa, uma menina vai fazer isso’.” De fato, a área de logística é bem masculina. A Abralog estima que 60% dos trabalhadores do setor sejam homens.

Mas isso não impediu o desenvolvimento profissional de Anara; ela passou pelo cargo de conferente (que é quem verifica todos os produtos que vão para a entrega) antes de ser promovida para supervisora de logística, em 2015. “A ideia de que esse é um trabalho para homens está sendo quebrada aos poucos. Recentemente, uma funcionária minha foi promovida para auxiliar de empilhadeira, e dei todo o apoio.”

Continua após a publicidade

Para assumir o cargo de liderança, ela precisou fazer a graduação como tecnóloga em logística, mas ressalta que o diferencial mesmo está nas habilidades comportamentais. “A parte técnica você aprende no dia a dia. O primordial é saber lidar com as pessoas, ser criativa e ter muita resiliência. Porque as coisas mudam rápido.”

De fato. Quando a demanda aumenta abruptamente, como aconteceu com a do comércio eletrônico em 2020, o profissional da área precisa encontrar maneiras de agilizar o trabalho – como reorganizar a equipe para ter mais gente atendendo as áreas mais sobrecarregadas, além de considerar novas tecnologias que deixem os processos mais azeitados.

E ainda aquela característica que provavelmente é a mais importante desde os tempos da Suméria: as relações humanas. “Tenho 60 pessoas na equipe e todos os dias preciso direcionar as demandas, saber ouvir e manter todo mundo engajado. Dirigir a paleteira é bem mais fácil do que gerir pessoas.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.