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Efeitos psicológicos do coronavírus. Como não surtar na quarentena?

Quais os prejuízos para saúde mental que já estamos vivenciando? Um psiquiatra e uma psicóloga respondem e dão dicas para não pirar de vez

Por Camila Pati
Atualizado em 20 mar 2020, 16h14 - Publicado em 20 mar 2020, 15h00
mulher triste
 (Milada Vigerova/Unsplash)
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São Paulo – Em meio a dois notórios gatilhos de estresse, as preocupações com a saúde física e financeira, não tem sido fácil a vida de muitos brasileiros nos grandes centros urbanos. Com escolas, comércio, parques e empresas fechadas (ou na iminência), já se discute no meio científico sobre os efeitos da quarentena forçada pela pandemia de coronavírus na saúde mental.

A revista científica The Lancet divulgou uma revisão de pesquisas em que traz as sequelas da quarentena de 2002. Depois de isolamento durante o período da epidemia da síndrome respiratória aguda (SARS) 30% das pessoas tiveram sintomas de estresse pós-traumático e 31% foram diagnosticadas com depressão.

Psiquiatras e psicólogos já testemunham o crescer generalizado da tensão.  “As pessoas assistem como espectadoras suas empresas definharem e pensam em como vão poder pagar suas despesas. O medo do desemprego volta a assombrar”, diz a psicóloga Edwiges Parra, fundadora da EMIND Mente Emocional e colunista da VOCÊ S/A.

Edwiges, que é especialista em psicologia organizacional, também tem sentido um aumento do estresse entre os profissionais em home office compulsório. “Uma coisa é fazer home office uma ou duas vezes por semana voluntariamente, outra coisa é se ver confinado em quarentena. Tem uma curva de adaptabilidade”, diz.

Nesses primeiros dias, Edwiges ouviu queixas de mais horas de trabalho, além do aumento do estresse por conta da mudança de ambiente. Em um cenário de restrição e incertezas crescentes como o atual,  a produtividade cai e o número de horas dedicadas ao trabalho aumenta.

 

O psiquiatra Roberto Aylmer indica a falta de controle como um dos fatores mais angustiantes da experiência humana. A novidade é que a insegurança, como o coronavírus, é pandêmica: atinge a todos, o tempo todo no mundo todo. “Este é o clássico contexto VUCA (volátil, incerto – do inglês uncertain –  complexo e ambíguo, que sai dos mercados para a vida de todos”, diz.

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A privação do contato social é um problema por si só, e nesse caso tem sido agravada pela desorganização do futuro. “Nosso cérebro precisa de uma base mínima de “certeza” no futuro para se organizar. Sem essa esperança, vemos os estados depressivos e apáticos que têm grande impacto sobre a capacidade de pensar e reagir de uma pessoa”, explica.

Na expectativa de um isolamento imposto pelo governo, nos moldes do que tem sido feito na Europa para mitigar riscos de transmissão da Covid – 19, há quem esteja se colocando e experimentando de antemão o cenário europeu.  “É gastar recursos psicológicos vivendo uma condição em que ainda não estou”, explica Edwiges. Longe de ignorar as recomendações de prevenção, a especialista indica menos ancoragem no futuro e mais no momento presente. “Olhar para isso momento a momento, e, em cada situação, e seguir orientações dos órgãos responsáveis”, diz.

Líderes devem estar atentos à motivação da equipe

Além de evitar sobrecarregar a equipe, uma questão que Edwiges tem trabalhado com líderes de times em home office é a necessidade de atentar à motivação do liderados e entender que a vulnerabilidade pode se apresentar em diferentes momentos do expediente. “Há mais fatores de interferências e outras variáveis que vão exigir compreensão e flexibilidade”, diz.

A dica é que os gestores estabeleçam horários fixos para reuniões semanais com o time e mantenham as conversas individuais. Também é indicado que orientem seus subordinados a lidarem com os dados e fatos reais do dia a dia.

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Ainda assim, os profissionais devem estar preparados para receber muitas dúvidas sobre volta do trabalho presencial, segurança do emprego, saúde financeira da empresa, entre outras. “Peça para que as pessoas se concentrem no cenário real e que aguardem informações em canais oficiais”, diz Edwiges.  A especialista mudou sua rotina e tem oferecido pacotes de terapia online para empresas que quiserem dar suporte aos funcionários nesse momento de home office compulsório.

Outras iniciativas voltadas à preservação da saúde mental começam a aparecer. O  Psicologia Viva, maior portal de orientação psicológica do Brasil, com certificação e autorização do Conselho Federal de Psicologia, está disponibilizando uma consulta psicológica online cortesia para residentes do estado de São Paulo. Para utilizar o benefício é preciso fazer um cadastro no site: https://conteudo.psicologiaviva.com.br/brasileirossp

Psiquiatra dá 5 dicas para sobreviver à quarentena sem surtar

Roberto Aylmer explica que o medo é como um remédio: até uma dose salva vidas, depois de uma certa quantidade vira veneno e pode matar. “Por isso é importante manter a lucidez e, quem sabe, após todo esse tsunami social, possamos sair mais fortes do que entramos. Não apenas com resistência ao vírus, mas resistência como seres humanos”, diz.

A seguir confira algumas sugestões que o especialista enviou à VOCÊ S/A e que podem ser úteis para preservar a saúde mental na quarentena:

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  1. Se preocupe com outras pessoas além de você

“Uma forma de sair do rodamoinho emocional é ser apoio para quem precisa. Coloque no elevador do seu prédio um cartaz oferecendo para ir ao mercado ou farmácia para pessoas idosas. Coloque seu nome e telefone. Pague aos seus empregados diaristas que não poderão ir trabalhar (sei que pode fazer falta para você, mas para eles será a diferença entre o pão e a fome). Seja generoso. Isso cura você do medo”.

2. Reduza o tempo de exposição à informação

“Não leia tudo, todos os grupos de WhatsApp, todos os posts, todos os jornais… isso inunda sua mente de um único assunto, mas tem o viés da notícia que, para valer a pena, tem que ser dramática. Procure fontes oficiais e não repasse dicas, mensagens de alertas ou truques caseiros para vencer o vírus. Isso vicia.”

3. Crie e mantenha uma rotina para seu corpo – mente – espírito (não só para o trabalho)

“O sol é fundamental para nosso corpo e mente. Mesmo com a restrição de ir à praia, tente pegar um sol na sua janela ou quando sair para algo na rua. Busque fazer exercícios em casa e reduza carboidratos (primeira escolha em tempo de ansiedade). Mantenha rotinas e tempos para o seu trabalho, mas melhore o seu tempo com refeições (não coma vendo o celular ou a TV) e seja grato por ter esse lugar abrigado com comida. A gratidão é um antídoto para a loucura”.

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4. Não fique ocioso muito tempo

“Faça aquela arrumação geral que você está se prometendo, estude coisas novas, escreva mensagens positivas, telefone para alguém e fale coisas boas, Tudo isso vai te dando a percepção de que sua vida está funcionando”.

5. Descubra ou desenvolva a sua espiritualidade

“Dentro de cada um de nós há uma percepção de algo maior, de uma ordem que costura todas as coisas”. Todos nós já passamos por grandes crises e grandes perdas. Já pensamos que o mundo tinha acabado, mas, se hoje somos fortes, foi por conta daquelas experiências que chegamos até aqui. Nossa economia está abalada, nossas finanças pessoais também. Nosso trabalho é incerto, mas nossa vida é maior do que isso”.

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