Por que as empresas brasileiras não estão preparadas para o home office?
68% das companhias do país não permitem o teletrabalho, mas operar assim é essencial na quarentena. Este executivo dá dicas para superar o desafio
São Paulo – Em 2019, a Citrix, multinacional americana que desenvolve softwares de trabalho remoto, aplicou uma pesquisa sobre home office em 122 empresas brasileiras públicas e privadas. O levantamento concluiu que a maior parte das companhias (cerca de 68%) não permitia que seus funcionários trabalhassem longe da empresa – mesmo que fatores como equilíbrio entre vida pessoal e profissional e flexibilidade horária estivessem entre as quatro principais demandas das pessoas na hora de aceitar uma proposta de emprego.
Com a pandemia do coronavírus, que colocou milhares de brasileiros em quarentena, as empresas tiveram que aplicar o home office na marra. Mas será que isso mudará a forma como os empregadores enxergam a prática? Luis Banhara, diretor geral da Citrix no Brasil, comenta o tema em entrevista exclusiva para VOCÊ S/A.
Por que as empresas não estavam preparadas para o home office?
Muito desse cenário acontece por conta da cultura na América Latina e do Brasil, em especial. Antes da pandemia, somente 31,97% das empresas do país permitiam o trabalho remoto por aqui. Ao lado do fator cultural, podem ser enumeradas diversas causas: a falta de ferramentas apropriadas para os colaboradores, a falta de estrutura do departamento de TI em prover essas aplicações de forma remota, a falta de treinamentos ministrados pelo RH para que os funcionários aprendessem a usá-las de forma segura e também a própria reticência dos colaboradores mais tradicionais em adotar o home office.
Esse home office forçado que estamos vivendo vai ajudar a mudar a mentalidade das companhias?
Acredito que sim, até porque o cenário atual não deixa muitas escolhas às companhias: elas terão de adotar o trabalho remoto para dar continuidade aos seus negócios ou simplesmente terão que parar. As que não estavam acostumadas ou que não adotavam terão de implementá-lo às pressas e aprender com seus próprios erros para estarem mais preparadas para um próximo momento de crise.
Essa situação mostrou para as empresas que o trabalho remoto é muito mais do que fornecer um notebook com VPN ao colaborador. Muitos outros fatores devem ser levados em conta, como a segurança do acesso, as ferramentas corretas, as aplicações necessárias, o treinamento aos funcionários e, principalmente, aos gestores, que devem ser os responsáveis por transmitir os processos corretos aos demais.
Dicas para um home office eficiente
De acordo com Luiz Banhara, funcionários de empresas despreparadas podem adotar atitudes para tornar o trabalho remoto mais produtivo e agradável. “Existem algumas medidas simples, mas extremamente efetivas para que os colaboradores não sintam tanto o baque de trabalhar de casa”, diz o executivo. Veja os conselhos dele abaixo:
Como montar seu espaço de trabalho
- Escolha um local adequado e sem ruídos para ser seu “escritório” – nada de trabalhar da cama
- Organize os horários e determine quais tarefas deverão ser cumpridas naquele dia
- Tenha equilíbrio: não comece a trabalhar muito tarde e também não estenda o horário de trabalho além do adequado
- Faça algumas pausas (por exemplo, uma pausa de 15 minutos a cada hora) para retomar o trabalho com mais energia. Isso é mais efetivo do que tentar trabalhar sem parar
- Nada de trabalhar de pijama: vestir-se com uma roupa nova ajuda a superar o baque de trabalhar de casa pela primeira vez
Como lidar com o seu chefe
- Procure ter um “combinado” com relação às expectativas de comunicação. Pergunte se você deve inicialmente enviar um resumo ao final do dia, ou fazer uma ligação para o chefe
- Questione em quais horários o time vai operar e quando as pausas serão permitidas. Afinal, já que estamos em casa, o almoço com a família pode criar uma dinâmica interessante
Conselhos para os líderes
- Esteja “visível” para seu time
- Antecipe os desafios
- Não se esqueça de dar o exemplo
- Nas primeira semanas, proponha uma conferência para que troquem experiências: quais processos estão funcionando bem? Quais precisam de ajustes? Isso pode ser mais frequente no início, e depois que todo mundo se acostumar, mais espaçado
- Garanta que os aspectos mais “soft” também serão abordados como o humor geral da família e os desafios encontrados