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Sua carreira precisa de adrenalina? Estes esportes vão ajudar

Praticar atividades esportivas de risco elevado auxilia no desenvolvimento de competências como liderança e tomada de decisões, além de aliviar o estresse

Por Juliana Américo, da VOCÊ S/A
Atualizado em 19 dez 2019, 15h34 - Publicado em 3 ago 2019, 06h00
Lucy Onodera, sócia-diretora da rede de clínicas Onodera Estética |  (Foto: Germano Lüders/VOCÊ S/A)
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Estado de alerta, pupilas dilatadas, mãos suadas, frio na barriga e coração acelerado. Essas são algumas das sensações que ocorrem quando se praticam esportes radicais.

Por mais que a ideia de pular de um avião a cerca de 4 000 metros de altura, torcendo para o paraquedas abrir, seja assustadora para alguns, muitos profissionais estão deixando de lado as tradicionais aulas de yoga, meditação e lutas em busca de esportes que aumentem o nível de adrenalina no corpo.

Além de relaxar, as atividades de alto risco auxiliam no desenvolvimento de habilidades importantes para o dia a dia de trabalho, como liderança, autocontrole, comunicação e gerenciamento de tempo.

“É como uma válvula de escape. Ajuda a reconectar com o próprio corpo e a liberar hormônios que trazem bem-estar”, diz Bruno da Matta Machado, sócio e diretor da consultoria de recursos humanos Upside Group.

É difícil encontrar números exatos sobre a popularidade dos esportes radicais, principalmente porque muitos adeptos são amadores e não há um controle por parte das associações. Mas alguns dados mostram um aumento da prática de atividades de aventura.

O Ministério do Turismo do Nepal, por exemplo, registrou em abril um número recorde de 381 autorizações para escalada do Monte Everest. A procura foi tanta que no mês de maio houve um engarrafamento de alpinistas, causando a morte de pelo menos 11 pessoas.

Além disso, um estudo divulgado em 2017 pela Allied Market Research prevê crescimento de 200% no mercado global de turismo de aventura até 2023 — o nicho movimentou 683 bilhões de dólares em 2018, segundo a Adventure Travel Trade Association.

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(redação/VOCÊ S/A)

Entender por que algumas pessoas se aventuram a ponto de colocar a vida em risco não é fácil. Nem a literatura médica tem um consenso sobre isso.

Um estudo publicado em 2014 por Cynthia Thomson, da Universidade British Columbia, Ph.D. em cinesiologia (ciência que estuda o movimento corporal), sugere que indivíduos atraídos por esportes mais arriscados podem ter uma predisposição genética que modifica os receptores da dopamina.

Basicamente, quanto mais receptores a pessoa possui, mais hormônio precisa ser liberado para que ela se sinta estimulada.

Além disso, com mais receptores e mais dopamina, o indivíduo sente mais prazer em situações de estresse.

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Outras pesquisas indicam que altos níveis de testosterona durante o pré-natal podem influenciar na redução do medo ao risco.

A psicóloga e psicanalista Michele Silveira ressalta que qualquer escolha na vida envolve questões conscientes, inconscientes e experiências. E isso vale também para os esportes.

“Esse tipo de atividade não é para qualquer um e não acredito que seja algo que possa ser desenvolvido. Quando você se identifica com um esporte de risco, já existe uma predisposição”, afirma.

Corpo, mente e um pouco mais

Além dos clássicos benefícios da prática de esportes, como melhora do condicionamento físico, equilíbrio, flexibilidade, emagrecimento e ganho de resistência, estudos mostram que os esportes radicais podem resultar em melhorias nos casos de ansiedade, depressão, hiperatividade e déficit de atenção graças à liberação de hormônios neurotransmissores de bem-estar, como dopamina, serotonina e endorfina.

Uma pesquisa feita em 2004 por Irwin Lucki, professor de psiquiatria e farmacologia na Universidade da Pensilvânia Medical Center, na Filadélfia, descobriu que a adrenalina pode provocar no cérebro o mesmo efeito dos antidepressivos.

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O tipo de esporte escolhido também resulta em efeitos diferentes no corpo. Uma escalada, por exemplo, parece ser mais efetiva na luta contra a depressão do que esportes tradicionais, de acordo com um artigo científico publicado no periódico BMC Psychiatry. Tanto que hospitais psiquiátricos na Alemanha já usam a atividade como uma abordagem terapêutica.

Um estudo francês de 2017, publicado no Frontiers in Psychology, revela que o mergulho pode se comparar à meditação por causa do controle respiratório. Os praticantes percebem redução do estresse, melhora do humor e aumento das habilidades de atenção e concentração, além da percepção sensorial.

A prática de esportes radicais ainda permite aprimorar as habilidades necessárias para lidar com a ansiedade. Isso porque os adeptos regulares sofrem uma mudança química no cérebro, o que os ajuda a permanecer calmos e concentrados por mais tempo.

“As pessoas que praticam esportes radicais apresentam mudanças na produção de noradrenalina e neuroreceptores, por isso têm determinadas reações e conseguem sair mais rápido de situações estressantes ou perigosas”, diz a psiquiatra Michele.

Além disso, essas atividades estimulam a leitura rápida do ambiente (quais são as condições favoráveis e desfavoráveis), a percepção de seus pontos fortes e fracos e o controle do medo.

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“Aprender a gerenciar e avaliar o risco assumido no esporte é similar ao ambiente de trabalho, em momentos como as tomadas de decisões importantes”, afirma Bruno, da Upside Group.

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(Ilustração: Guilherme Henrique/VOCÊ S/A)

Em grupo

As vantagens da prática de esportes radicais não são apenas individuais. Tanto que muitas empresas passaram a usar o turismo de aventura para integrar a equipe.

Giancarlo Valias, sócio-diretor da companhia de viagens e atividades de aventura para ambiente corporativo Ventura Empresarial, afirma que desde multinacionais até pequenos escritórios buscam atividades para trabalhar sincronismo, planejamento, liderança e confiança.

“No rafting, por exemplo, criam-se algumas situações durante a descida do rio para trabalhar conceitos como liderança e confiança”, diz Giancarlo. “Fazemos um rodízio entre as pessoas para que cada uma se torne instrutora do bote por um período e colocamos uma venda nos olhos dos outros participantes para que eles sigam somente a instrução daquela pessoa. ”

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Outras atividades, como acampamento e trekking, ajudam no desenvolvimento de trabalho em equipe e melhoram a comunicação, uma vez que cada integrante do grupo é responsável por um trabalho ou objeto importante para que tudo dê certo.

“Um fica com a bússola, outro com a medição, outro com o cronômetro e outro com a planilha. Eles exercitam planejamento, gestão de tempo e trabalho em equipe”, afirma Giancarlo.

Independentemente do esporte escolhido, o fato é que o elevado risco de morte requer mais comprometimento do atleta, exigindo que ele se desligue completamente dos problemas e esteja focado no que está fazendo.

Qualquer erro pode ser o último, mas os aprendizados podem superar os receios.

Velocidade máxima

Enfrentar altas velocidades não é um problema para Lucy Onodera, (foto de abertura) sócia-diretora da rede de clínicas Onodera Estética. A paulistana de 40 anos pratica esportes desde criança graças à influência de seu pai, Ikuo Onodera, ex-treinador da seleção brasileira de judô.

Há 15 anos, ela começou a fazer corrida de aventura e mountain bike enduro — modalidade que envolve circuitos de subidas e descidas de bicicleta.

Os treinos durante a semana são na academia, pensando no aeróbico e na resistência, mas a diversão começa mesmo nos fins de semana, quando a executiva vai para o “meio do mato”, como costuma brincar. “Acabei de voltar do Peru e estou me preparando para ir ao Canadá. ”

Lucy explica que os esportes radicais ensinam muitas coisas que podem ser levadas para o ambiente de trabalho. No caso da corrida esportiva, a atividade é realizada em grupo, por isso é preciso ter planejamento, preparação emocional e saber lidar com as pessoas em situações de estresse.

“Tem horas que cada um está em um momento emocional diferente, mas você precisa de todo mundo para chegar ao final da prova. Também existe a questão da confiança, porque você passa 24 horas ali, precisa dormir no meio da floresta.”

Já no mountain bike o desafio está no foco e na antecipação de problemas, pois, durante a descida em alta velocidade, é preciso estar atento para não cair.

“Hoje, eu sei lidar com qualquer problema, porque sei que já consegui vencer muitos desafios e situações extremas durante as atividades. ”


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Aloysio Carvalho: CEO da Falconi Capital pratica manobras aéreas (Foto: Alexandre Rezende / Nitro/VOCÊ S/A)

Adrenalina nas alturas

A aviação sempre foi uma paixão de Aloysio Carvalho, de 46 anos, CEO da Falconi Capital, tanto que o executivo já voava com a família. Porém, há oito anos, o mineiro quis fazer aulas para poder assumir o comando caso tivesse algum problema durante o voo.

Foi quando descobriu as acrobacias aéreas. “Todo mundo acha perigoso, mas a aviação é uma atividade muito padronizada e que precisa de disciplina, tem lista de checagem para tudo. ”

Aloysio passou por um treinamento de mais de 10 horas de voo acrobático, que inclui aula em solo, no ar e com manobras. O executivo afirma que o maior aprendizado foi entender que existe risco em qualquer atividade, inclusive as profissionais, mas que o maior risco é não conhecer os perigos e não estar preparado para lidar com eles.

“Quem não arrisca, não empreende, não cria, não faz nada de novo, mas é preciso ter responsabilidade. ”A atividade ainda o ajuda a tomar decisões mais rápidas e a aliviar o estresse do dia a dia.

“Você precisa estar totalmente focado no esporte, então, acaba se desligando do trabalho e, depois, percebe que encontrou algumas soluções para os problemas que estava tendo. Esse é um dos melhores momentos para mim. Às vezes, até minha esposa fala que eu estou precisando fazer um voo. ”


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Ana Araújo, diretora de produto na plataforma de audiolivros Auti Books, escalando a Pedra do Urubu / Pista Claudio Coutinho – RJ (Foto: André Valentim/VOCÊ S/A)

No topo do mundo

Desde criança, Ana Araújo, de 40 anos, gosta de atividades que proporcionem contato com a natureza. Praticou hipismo e mountain bike, mas foi na escalada que ela se descobriu, aos 22 anos. “Comecei com escalada em rocha, passei a fazer trilhas cada vez mais longas até chegar às montanhas de altitude. ”

Diretora de produto na plataforma de áudio-livros Auti Books, Ana afirma que o esporte afetou diretamente a forma como lida com as dificuldades no trabalho, fazendo com que compreenda melhor quais são os problemas e as prioridades e entenda por que é tão importante que as pessoas ajam em conjunto.

“Quando eu faço montanhismo com meus amigos, todo mundo tem de trabalhar em equipe, planejar, pensar na logística, avaliar o que pode ou não dar errado. Tem horas que a gente precisa ter conversas mais duras e francas. No trabalho essa rotina é muito parecida. ”

O treinamento de Ana começa logo cedo, na academia. Todos os dias, a carioca faz treinos de musculação e aeróbico com foco na prevenção de lesões. Depois do trabalho, três vezes por semana frequenta um ginásio de escalada indoor. E no fim de semana consegue colocar em prática o esporte.

Já escalou montanhas no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Peru e na Argentina, agora se prepara para escalar, em 2021, o Aconcágua, a montanha mais alta fora da Ásia, localizada na Cordilheira dos Andes.

“O esporte demanda muito planejamento e disciplina. Já fiz diversos cursos de escalada, autorresgate, guia de montanha, orientação em floresta e quero fazer um treinamento de escalada em gelo. ”


Flavio Hojaij

Foto: Germano Lüders
13/06/2019
Flavio Hojaij, médico-cirurgião e professor da USP, faz natação diariamente (Foto: Germano Lüders/VOCÊ S/A)

Continue a nadar

Quem entra no consultório de Flávio Hojaij, médico especialista em cirurgia de cabeça e pescoço e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), não imagina que nas horas vagas o paulistano de 54 anos nada longas distâncias em alto-mar.

Praticante de maratona aquática desde 1983, Flávio treina durante 1 hora de segunda a sexta. Nos fins de semana, quando a previsão do tempo permite, desce para o litoral paulista para se jogar no mar. “Fiz minha primeira prova em água aberta quando tinha uns 33 anos e adorei. Venho nadando desde então. ”

Em 2011, ele participou de uma das competições mais longas de sua vida: a 14 Bis, uma maratona de 24 quilômetros de nado em mar aberto no canal entre as cidades de Bertioga e Guarujá, completando o trajeto depois de 7 horas de prova.

Em 2013, ele estava treinando para atravessar o Canal da Mancha, entre a Inglaterra e a França, mas uma lesão no ombro obrigou o adiamento dos planos.

O médico afirma que a atividade o ajuda a desenvolver habilidades como disciplina, resiliência e liderança, mas que é preciso ter um trabalho psicológico e de resistência intenso.

“Se você está em uma corrida de rua e passa mal, é só sentar no chão para se recuperar. Na natação, quando você está no meio do mar, não pode parar. Por isso, é preciso se conhecer, conhecer seus limites, e isso é para a vida, não só para os esportes. ”


 

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