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Uma ideia mítica alimenta histórias de horror sobre maternidade e trabalho

Mito alimenta aspecto cruel do mercado de trabalho em que, diariamente, se tem notícias de alguma mãe que demorou 5 anos para ser promovida

Por Camila Pati
Atualizado em 19 dez 2019, 16h13 - Publicado em 13 Maio 2018, 06h00
 (Tatyana Tomsickova/Thinkstock)
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São Paulo – Um bom presente para as mães brasileiras, neste Dia das Mães, seriam pesquisas feitas no Brasil que comprovassem o que pesquisadores internacionais já revelaram sobre a produtividade no trabalho de mulheres após a maternidade.

“Estudos mostram que quando a mulher retorna ao trabalho ela é mais produtiva. Porque queremos cumprir bem o trabalho porque queremos chegar a casa em horário saudável porque temos nossos filhos”, diz Mariana Deperon, sócia-fundadora da Tree Diversidade e mãe de uma menina de quatro anos.

A pesquisa “Paternidade e Produtividade de Mão de Obra Altamente Qualificada” (Parenthood and Productivity of Highly Skilled Labor), do Federal Reserve Bank of St Louis, banco dos Estados Unidos, por exemplo, analisou cerca de 10 mil mulheres por um período de 30 anos e concluiu, entre outras questões, que mães são mais produtivas, em especial, mães com mais de um filho.

Mas, infelizmente, esse tema não é fruto de pesquisas robustas no Brasil. A chancela científica seria importante aliada no combate a ideias preconcebidas que alimentam um aspecto cruel do mercado de trabalho em que, diariamente, se tem notícias de alguma mãe que demorou cinco anos para ser promovida ou de outra que foi mandada embora no minuto em que o prazo legal expirou.

Basta a qualquer profissional consultar a memória para venham à tona histórias tristes. Como a da profissional que ao engravidar pela segunda vez teve a certeza de que a promoção iminente até então “subiria no telhado” definitivamente.

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Esse drama foi visto de perto por Mariana Deperon, quando ocupava cargo de liderança no mundo corporativo. “A moça veio me contar da gravidez muito nervosa dizendo que a segunda gestação, apesar de desejada por ela, não teria vindo em boa hora e que estava com medo de contar para o chefe dela porque ele impediria o seu crescimento na empresa”, conta. E impediu. “Ela só foi promovida quando mudou de setor”, conta Mariana.

Viés inconsciente: quando o preconceito nem é percebido

Histórias assim são fruto desse mito da baixa produtividade pós licença maternidade. Nem sempre esse prejulgamento é ostensivo. Não menos perigoso e limitante, ele pode aparecer também de forma mais sutil, sem que a pessoa perceba que está sendo preconceituosa. A esse tipo de preconceito não consciente dá-se o nome de viés inconsciente.

Ele reforça a ideia de que só é possível conciliar o papel de mãe e a carreira se houver uma preparação comparável ao treino de um atleta que vai encarar uma maratona. Na opinião de Mariana, o termo organização é mais adequado do que preparação. “Quando fala em se preparar parece que a mulher é inapta para isso”, diz Mariana.

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Mais do que uma preparação “de outro planeta”, as mães precisam organizar uma rede de apoio- incluindo parceiro, quando houver, familiares, pessoas de confiança, creche ou escola – para trabalharem, se a decisão for a de seguir no mercado de trabalho.

Por isso, Mariana enxerga com alguma desconfiança programas focados na tal “preparação”. “Como pesquisadora, eu gosto de me questionar se essas ferramentas vão apoiar a mulher ou vão reforçar estereótipos”, diz.

Segundo a coach Lúcia Korkes, é interessante que as mulheres tenham consciência de que podem estar sob influência de padrões e pressões externas. “Opiniões e modelos externos pressionam também e são parâmetros que devem ser visitados, mas com a consciência de que são do outro”, diz.

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Lúcia e a também coach Renata Cintra lançaram o livro Maternidade & Carreira em formato de baralho com 100 cartas para pensar o jeito de ser mãe e profissional. Promover a tomada de consciência em mulheres que já são mães, que planejam ser ou que estão pensando sobre isso é, justamente, o objetivo das duas especialistas, que também são mães.

As cartas trazem questões que tocam em elementos objetivos, condutas e atitudes. Muitas delas apareceriam certamente em uma sessão de coaching. “Ferramenta de perguntas é uma lanterna que leva luz em pontos escuros dentro de nós”, diz Lúcia.

O formato em baralho é lúdico, mas as reflexões propostas são profundas. O impacto externo por exemplo é tema de cartas com perguntas como por exemplo: “você já parou para pensar se as questões que a afligem pertencem a você ou se você está sendo influenciada por pressões externas sem perceber?”

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