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O que foi o Consenso de Washington?

Nos anos 1990, o FMI tinha uma lista de recomendações baseadas no pensamento ortodoxo: manter uma dívida pública baixa, privatizar estatais, reduzir barreiras comerciais… Nos países latinos, muita gente era contra.

Por Bruno Vaiano
Atualizado em 9 fev 2023, 10h10 - Publicado em 13 jan 2023, 06h12
Ilustração de um personagem identificado como FMI lendo uma lista extensa para representante de vários países.
 (Gio Borges/VOCÊ S/A)
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Foi um pacotão padronizado de dez mudanças na política econômica e monetária que o Fundo Monetário Internacional (FMI) recomendava aos países em desenvolvimento – especialmente os latino-americanos e as ex-repúblicas soviéticas que queriam se aproximar do Ocidente – ao longo dos anos 1990. A lista, elaborada pelo economista britânico John Williamson, foi adotada de vez em 1989. Como os órgãos envolvidos (o Banco Mundial, o Depto. do Tesouro dos EUA e o próprio FMI) ficam todos sediados em Washington, o nome pegou.

O consenso consistia em várias premissas clássicas do livre-mercado e da escola de pensamento ortodoxa: manter uma dívida pública baixa em relação ao PIB, privatizar estatais, reduzir barreiras comerciais… O objetivo era deter inflação crônica e outros problemas fiscais e monetários que os governos locais com frequência tentavam resolver com planos heterodoxos mirabolantes (como congelamento de preços do Sarney ou o confisco de poupanças do Collor, ambos fracassados).

Os países que mais devem para o FMI:

1º Argentina: US$ 42,2 bi
2º Egito: US$ 16,6 bi
3º Ucrânia: US$ 9,4 bi
4º Paquistão: US$ 7,8 bi
5º Equador: US$ 7,2 bi

Especialistas de postura mais keynesiana, que defendem algum grau de intervenção do Estado na economia, torciam o nariz para o consenso – bem como líderes de esquerda de várias partes do mundo, que o consideravam uma tentativa da Casa Branca de impor sua agenda econômica a países onde ela não funcionaria tão bem.

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Não ajudava o fato de que o FMI cobrava obediência às suas diretrizes como uma condição para emprestar dinheiro às nações quebradas – e os opositores encaravam essas condições como um desafio à soberania de seus países. A disputa política em torno das intervenções do FMI na América Latina (que tentava lidar com a chamada “crise da dívida externa” dos anos 1980 e precisou de muita ajuda do Fundo) foi um tópico das brigas entre esquerda e direita na época.

Ideologia à parte, houve governos de esquerda que implantaram itens do consenso com sucesso. O caso mais famoso é a equipe econômica do primeiro mandato de Lula, que foi ortodoxa em suas decisões monetárias e fiscais, e ao mesmo tempo bem-sucedida no combate à miséria, acesso à educação superior e outras pautas sociais. Em 2005, o Brasil quitou sua última dívida com o FMI, de R$ 15,5 bilhões, contraída em 2002. Em 2009, pela primeira vez, nós emprestamos dinheiro ao Fundo em vez de pegar emprestado.

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