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Luciana Camargo

Diretora estratégica da Associação Brasileira de RH (ABRH-SP). Escreve sobre carreiras, liderança, diversidade e inclusão e desenvolvimento pessoal
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O papel dos líderes no mundo com mais propósito

Todos querem fazer melhor uso do tempo e se identificarem com a vida que vivemos. Como o líder pode conectar os propósitos das empresas aos propósitos dos funcionários?

Por Luciana Camargo
Atualizado em 4 Maio 2022, 10h36 - Publicado em 28 abr 2022, 10h39
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 (Luis Alvarez/Getty Images)
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Muitos sinais apontam para uma nova realidade do mundo social e profissional moderno que está surgindo: está cada vez mais difícil viver e trabalhar sem um propósito.

O período da pandemia nos estimulou a refletir profundamente sobre nossas vidas e sobre a importância de se trabalhar com propósito, ou seja, de encontrar algo que traga significado para o nosso tempo e dedicação. Que nos faça bem. 

O tempo é precioso. Seguir a vida com a sensação de que ela está passando e não estamos crescendo, evoluindo ou chegando mais perto da felicidade é um pensamento que traz muito desconforto. 

Em seu podcast “The Not So Great Resignation”, Adam Grant e o professor Anthony Klotz, que previu o fenômeno “The Great Resignation” nos EUA, discutem quais as razões por trás do aumento de demissões voluntárias nas empresas: 

  • Burnout: em um cenário de longas horas de trabalho, com os deveres e demandas pessoais em paralelo, o burnout desconecta as pessoas do trabalho e de outras pessoas. Na maioria das vezes, a solução é tomar um tempo para se recuperar mental e emocionalmente.
  • Medo de ficar doente e morrer: em outras palavras, “estou vivendo a vida que quero viver?”
  • Autonomia e flexibilidade: a pandemia e o trabalho remoto trouxeram um sentimento de liberdade e autonomia. A perda desta flexibilidade também estimulou uma reflexão intensa sobre a ressignificação do nosso tempo pessoal e profissional.

O ambiente que nos rodeia mostra que viver uma vida sem propósito não é luxo, nem modismo. Queremos fazer o melhor uso do nosso tempo e nos identificar com a vida que vivemos. Tudo isso traz uma reflexão incontornável: como as empresas devem agir e construir suas culturas em face a um paradigma tão novo e desafiador? Como conectar os propósitos das empresas aos propósitos das pessoas que as compõem? Como criar ambientes dos quais as pessoas queiram ser parte?

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As lideranças têm um papel fundamental nesta transformação. Serão atores centrais da redefinição de culturas empresariais que conversam com questões íntimas do mundo moderno. Se o mundo mudou, o papel da liderança também deve evoluir. 

O modelo de liderança tradicional, que dita regras, não abre espaço para diálogo e feedback, que acredita ter todas as respostas, não se encaixa mais em um mundo tão ágil e dinâmico, que requer soluções para problemas cada vez mais complexos.

Tudo isso perpassa a criação de um propósito que vá além do lucro. A sobrevivência das empresas hoje depende da sua capacidade de se manter relevante para as pessoas que nela trabalham e para sociedade, capacidade de gerar soluções sustentáveis, e um  impacto positivo no mundo.

As pessoas que compõem as organizações também têm suas expectativas: elas buscam autenticidade, transparência nas relações, na partilha de informações e formação de conexões reais. Não há mais espaço para uso da verticalidade e da força para impor decisões, alimentar imagens de líderes como heróis infalíveis, que estão, na maioria do tempo, tão distantes da realidade dos colaboradores. 

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É da natureza de um mercado ágil e complexo a necessidade de um trabalho com mais liberdade, autonomia, criatividade e habilidade para gerir times com múltiplos talentos e particularidades individuais. 

Mais comumente do que imaginamos, líderes “sabe-tudo” se afastam da vida real e criam uma realidade paralela cercada, de bajuladores ou de pessoas que também estão distantes da realidade dos times.

Os líderes têm uma importante missão de conectar times com propósitos. Não estamos falando aqui que o líder moderno é o representante de uma ideia previamente formada. Cada empresa deve traçar o perfil de liderança de acordo com seus valores pilares e estratégicos, seu momento, e seus desafios.

No artigo “5 Principles of Purposeful Leadership” da HBR por Hubert Joly, o antigo Chairman e CEO da BestBuy, lista algumas características desejadas quando idealizamos líderes com propósito. E, de fato, ao refletir sobre minha própria experiência, observei múltiplas vezes como esses valores tornam-se cada vez mais fundamentais para a gestão de times de alta performance – e felizes e realizados com o que fazem. 

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  1. Ser claro quanto a seu propósito.
    Aqui, temos o ponto de partida da definição do propósito do líder e do propósito do time. É responsabilidade do líder o alinhamento dos propósitos da empresa e estratégia de negócios, sendo o principal porta-voz desses valores, deixando-os claros, e fomentando a transparência desde o início. Para que o propósito da empresa seja um catalisador do sucesso é necessário que os próprios líderes tenham clareza sobre seus propósitos e saibam relacioná-los e conectá-los com o propósito daqueles que eles lideram.
  2. Ser conduzido por valores.
    Todas as empresas são definidas pelos seus valores, mas os reais valores são aqueles que não ficam só no papel: são os que guiam a cultura, a convivência e a estratégia das pessoas. Valores devem refletir genuinamente a realidade dos colaboradores.
    Bons líderes sabem qual é a sua maior ferramenta para transformação de cultura: comportar-se dando o exemplo. Agir de forma íntegra e em alinhamento com os valores comuns possui um poder inestimável para a definição de cultura organizacional. Em outras palavras, bons líderes inspiram por ações, não palavras, promovendo os valores da empresa.
  3. Seja autêntico.
    É muito difícil inspirar valores se eles não são verdadeiros para você mesmo. De aprendizagem constante à escuta ativa, a verdadeira autenticidade é muito, muito difícil de ser substituída.
    Crie um ambiente para que você e as pessoas se sintam seguras, felizes, e confortáveis para serem elas mesmas. Trazer emoção para o ambiente de trabalho, cultivar um ecossistema rico para troca de experiências, aprendizados, e com espaço para momentos descontraídos. Isso não significa descarregar tudo em seu time, mas compartilhar emoções quando isso for apropriado e ajudar a todos.
  4. Ser claro com o seu papel.
    O papel fundamental do líder no ambiente que cria, como dito no primeiro ponto, é intimamente ligado à capacidade de ser transparente com seu time.
    Segundo Hubert, o líder não escolhe as circunstâncias, mas ele escolhe o mindset que ele adota para reagir a elas. Líderes ajudam pessoas e enxergam oportunidades e potencial. E isso é possível em um ambiente seguro e cultivo a uma positividade saudável. Sendo claro sobre o papel do líder, poderíamos dizer que é criar um ambiente onde as pessoas vejam valor em dar o melhor de si e compor o coletivo que forma uma empresa.
  5. Seja claro sobre quem você serve. Dica: não é você mesmo.
    O elemento fundamental de uma liderança focada no propósito é ser claro sobre quem você serve na sua posição – nos momentos bons e ruins. Como líder, você serve às pessoas da linha de frente que geram negócios, seu time, seus colegas, e ao Conselho.
    Adam Grant, em seu livro “Givers and Takers”, nos ensina que os “givers” estão sempre dispostos a ajudar sem receber nada em troca. Eles entendem como natural pedir e aceitar ajuda. Colaboram e se conectam com os outros porque não se intimidam em mostrar vulnerabilidades.
    Recentemente, estive em Israel, e trouxe comigo a memória de uma aula inesquecível com a Professora (e pianista) PhD Orit Wolf. Eu me inspirei com suas mensagens sobre identificar os “givers” em novos contextos, e a profunda realização de ser “giver” na vida de alguém. Não é somente sobre o que fazemos, mas também como fazemos. 

É fundamental a comunicação – aberta e transparente – sobre comportamentos esperados. Trata-se da capacidade de ver o mundo e as situações por meio de perspectivas diferentes do seu próprio ponto de vista. Ambientes inclusivos têm isso como pilar. E ambientes ricos em trocas criam times mais versáteis, capazes de prever e propor problemas e soluções, e atender às metas de performance do time. Porém, sem um ambiente seguro, sempre haverá gargalos em potencial.

Nossas vidas e nosso trabalho são muito mais interessantes com propósito, e o mesmo vale para líderes. Para terminar, compartilho uma reflexão da Professora Orit Wolf. Pergunte a si mesmo: quem eu sou, o que eu sou, como eu sou, e por que eu sou?

Estas perguntas nos ajudam a entender nosso papel no mundo, e direcionar nossas ações como líderes. Elas norteiam nossa jornada para nos transformarmos em líderes melhores, e pessoas melhores (e mais felizes e realizadas!).

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