Task masking: a arte de fingir que está trabalhando
Não é só por preguiça. A própria cultura organizacional premia quem apenas parece produtivo quando não há uma boa métrica de resultados.

Tem algumas palavras no português que, dependendo do contexto, podem significar coisas diferentes: por exemplo, descascar uma manga e dobrar uma manga. No primeiro caso, estamos falando de uma fruta; no segundo, de uma peça de roupa.
Com a palavra “performance”, acontece o mesmo: no teatro, ela é uma atuação para entreter, emocionar e fazer refletir; já no ambiente corporativo, diz respeito à entrega de resultados, produtividade e eficiência. Em um contexto, você é uma personagem atuando para um público; no outro, não deveriam existir atores e atrizes, encenações, maquiagem nem nada semelhante.
Contudo, em algum grau, é isso o que tem acontecido. Estou me referindo a um termo no qual você, talvez, já tenha esbarrado na internet: task masking.
Trata-se de uma prática que vem se popularizando nas redes sociais – algo como “mascarar tarefas”, traduzindo ao pé da letra. O conceito ganhou força especialmente entre a geração mais nova e diz respeito ao ato de uma pessoa parecer ocupada no trabalho sem, de fato, ser produtiva.
Em vez de realizar atividades estratégicas, que geram impacto real, o indivíduo foca em tarefas pequenas, rotineiras e de pouco valor. O que importa não é fazer, mas parecer – no caso, parecer eficiente.
Antes que alguém já venha apontar o dedo para “a juventude de hoje em dia”, vamos dar um passo para trás e nos perguntar como chegamos até aqui.
A máscara da produtividade conta pontos na empresa
Em tempos de cultura da performance exacerbada e da corrida por escalar o resultado dos negócios, não é difícil entender por que o task masking ganhou popularidade. Não é que o problema seja a produtividade em si ou que a busca pelo crescimento da empresa seja errada, a questão é que tais objetivos, por vezes, levam a uma competição baseada na aparência.
Estou falando sobre quando, além de perseguirmos as metas, sentimos que precisamos demonstrar constantemente que estamos com a agenda sempre ocupada, sem tempo para nada, como se essa fosse a melhor maneira de validar o nosso valor. E isso pode ter a ver também com a insegurança no mercado de trabalho.
Será que, na sua empresa, as pessoas sentem que precisam “mostrar serviço” para não serem descartadas? Em ambientes em que as entregas são medidas por volume e presença – e não por impacto –, mascarar tarefas pode parecer a única forma de manter o emprego a salvo, mas esse certamente não é um caminho rumo a um clima organizacional saudável e a sustentabilidade do negócio.
Como evitar?
Para além do óbvio, o problema do task masking é que ele pode gerar um círculo vicioso. Times ficam sobrecarregados com trabalho irrelevante, líderes têm dificuldade para identificar quem está realmente gerando valor, e a cultura da empresa se torna superficial, focada em “estar ocupado” em vez de “ser efetivo”.
Por isso, para quem lidera uma equipe, a reflexão que fica é: no dia a dia, você está premiando a performance real ou apenas a aparência dela? Avaliar resultados concretos, eliminar reuniões desnecessárias e criar um ambiente seguro para discutir prioridades são passos fundamentais para combater o task masking.
Agora, se você não está em uma posição de gestão, vale pensar se o que tem ocupado seu tempo é trabalho de verdade ou apenas maquiagem de produtividade. Não se engane, “mascarar tarefas” e viver de aparências não é prejudicial apenas para a empresa: também mina seu próprio desenvolvimento, sua motivação e sua satisfação profissional no longo prazo.
Performance com personagens, figurino e cenário é boa no palco. No mundo do trabalho, precisamos de entrega genuína, propósito claro e conexões autênticas.