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Descubra como despertar a sua criatividade

Embora seja uma das três competências mais importantes para o trabalho, sete em cada dez pessoas não se consideram criativas.

Por Bárbara Nór
Atualizado em 30 abr 2021, 12h48 - Publicado em 25 out 2020, 11h00
 (Getty Imagens/VOCÊ S/A)
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Se existe uma competência cercada por uma aura de mistérios, é a criatividade. Ela é tão mitificada que parece que nós, meros mortais, nunca seremos bons o bastante para alcançá-la. E as histórias extraordinárias dos processos criativos de pessoas que revolucionaram suas áreas de atuação só reforçam nosso sentimento de impotência.

Já ouvimos falar, por exemplo, que Wolfgang Amadeus Mozart não fazia esforço nenhum para compor e que suas obras apareciam prontinhas em sua cabeça nos momentos em que ele estava sozinho e de bom humor. Ou então que Albert Einstein concebeu a teoria da relatividade enquanto estava, simplesmente, conversando com um amigo. Ou ainda que o artista plástico Wassily Kandinsky criou uma de suas telas mais famosas, Pintura com a Borda Branca, em apenas uma tarde.

Essas histórias são altamente românticas, mas, sinto informar, não passam de mitos — e são desvendadas no livro A História Secreta da Criatividade, de Kevin Ashton (Sextante, 44,90 reais). Mozart, na verdade, era um assíduo estudante de composições, ensaiava suas obras ao piano e escrevia cartas para a família dizendo que estava enfrentando bloqueios criativos. Einstein só chegou à Teoria da Relatividade depois de muito tempo observando a natureza e estudando teorias de outros cientistas para ir, pouco a pouco, se aproximando de uma descoberta autêntica.

Kandinsky levava dias em um método complexo de planejamento de suas pinturas antes de colocar as tintas na tela. Ou seja, até as mentes mais geniais sofrem e precisam trabalhar duro para criar algo inovador. E isso é ótimo, pois faz com que você e eu estejamos muito mais próximos dos gênios do que imaginávamos. Pelo menos quando se trata de criatividade.

No topo

O que precisamos fazer é desenvolver essa competência — e ela pode ser lapidada, ­assim como qualquer outra. E quem se dedicar a isso terá grandes chances de se destacar no mercado. De acordo com o relatório Future of Work, publicado em 2018 pelo Fórum Econômico Mundial, a criatividade é a terceira habilidade mais importante para o trabalho em 2020 — atrás apenas da resolução de problemas complexos e do pensamento crítico. Em 2015, a criatividade aparecia em décimo lugar na lista do fórum. Além disso, um levantamento do LinkedIn mostrou que, em 2019, essa foi a soft skill mais procurada pelos recrutadores.

A alta demanda faz sentido. Afinal, para atuar num mercado globalizado, veloz e complexo, é preciso superar padrões e ir além das formas tradicionais. E isso não se trata simplesmente de inovação. A criatividade vem antes: tem a ver com a capacidade de enxergar o mundo de uma forma diferente e encontrar saídas não imaginadas até então. “É um diferencial competitivo que, em vez de alienar o humano, permite que ele seja o componente criativo dos processos”, diz Gabriela Viana, diretora de marketing da Adobe para a América Latina. Fabio Carvalho, gerente de inovação da Faber-Castell, que ministra workshops de criatividade, completa: “As empresas têm novos concorrentes, as startups surgem rapidamente e a velocidade da mudança é impressionante. Os profissionais criativos são mais preparados para lidar com o fluxo contínuo de novos problemas”.

O grande desafio é que a maioria das pes­soas se sente impedida de criar no trabalho. É o que revela a pesquisa State of Create, da ­Adobe, feita com 5.000 adultos nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França e Japão. O estudo mostra que apenas uma em cada quatro pessoas acredita estar aproveitando seu potencial criativo e que 75% se sentem pressionados a ser mais produtivos do que inovadores no trabalho. E os pesquisadores descobriram algo interessante: os profissionais que se consideram criativos ganham, em média, 13% mais do que os demais colegas. Por isso, mesmo que seu ambiente não proporcione a criatividade, é melhor encontrar uma maneira de exercer essa competência — nem que seja para se preparar para um novo emprego ou para tocar um negócio próprio. Vai ser bom para sua carreira e para seu bolso.

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(Denilson Shikako (Fábrica de Criatividade), Jean Rosier (Sputnik) e Jean Sigel (Escola de Criatividade)/Você S/A)

Nasço, logo crio

Mais do que uma habilidade, ser criativo é uma característica do ser humano. O problema é que ela perde força com o tempo. Um estudo conduzido pelo professor americano George Land com 1.600 crianças mostrou que, em 1968, ano em que nasceram, 98% delas eram criativas. Aos 10 anos de idade, o índice caiu para 30%. Aos 30 anos, desabou para 2%. Mas, se nascemos criativos, por que perdemos isso? “Somos condicionados a seguir padrões”, diz Denilson Shikako, diretor da consultoria Fábrica de Criatividade. Somos ensinados a acreditar que a melhor resposta é a correta e que, quanto mais rápido ela vier, melhor.

“A gente se limita e acaba fazendo tudo do mesmo jeito, não aprendemos de outra forma”, diz Denilson. Em muitas empresas, a situação se agrava. Afinal, várias ainda têm o ambiente de trabalho tradicional, com hierarquia rígida, competição acirrada e pouco espaço para se arriscar ou questionar. Estar estressado e pressionado para cumprir metas também mata qualquer impulso para fazer diferente.

E não é só isso: há muita confusão sobre o que é ser criativo. “As pessoas relacionam criatividade com produto ou tecnologia”, diz Jean Sigel, cofundador da Escola de Criatividade. Esse raciocínio faz com que ela pareça inatingível ou restrita a quem sabe usar determinadas ferramentas. “Aí vira algo muito complexo, e dizem que não dá para ser criativo sem recurso ou tecnologia.”

Na verdade, a criatividade não passa de uma forma de olhar para as coisas. “Ela é como você interage com o mundo”, diz Thiago Gringon, coordenador da pós-graduação em criatividade e ambiente complexo da ESPM. “A criatividade amplia a consciência para o que está acontecendo ao redor e capacita para o futuro, para aquilo que ainda não entendemos.”

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Sim, você pode

Parece coisa de autoajuda, mas, para ser criativo, o primeiro passo é acreditar que você consegue. A vida toda deparamos com exemplos que colocam a criatividade em um pedestal, reservada somente a alguns afortunados — como falamos no começo desta reportagem. Quando essa percepção se combina a amarras como medo de rejeição e experiências negativas com erros, o resultado é a falta de confiança na própria capacidade de criar.

Não precisa ser assim. Não há certo ou erra­do, o importante é tentar — e relaxar. “A criatividade está ligada ao ócio, ao momento em que você se desloca do mundo real, faz uma viagem interna e usa suas memórias”, diz ­Sidarta Ribeiro, neurocientista diretor do ­Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e autor de O Oráculo da Noite (Companhia das Letras, 79,90 reais). Portanto, se o dia for de estresse, não se cobre para ter ideias geniais. Mas também não encontre na correria a desculpa perfeita para não tentar nunca.

Na busca pela criatividade, dê um passo atrás: pense sobre quais são as amarras que impedem seu olhar inovador. Segundo Thiago, da ESPM, para cada uma das “atitudes criativas” existe um receio por trás [veja o quadro “Atitudes X Medos”, na pág. 36]. E é a aversão a esses desconfortos que nos torna menos propensos a experimentar coisas novas. Os medos sempre vão existir. O que precisamos aprender é a tolerá-los e tentar mesmo assim.

Como muitas competências, despertar a criatividade exige uma boa dose de autoconhecimento e perseverança. É possível, por exemplo, que você consiga ter ótimas ideias quando está em casa, mas trave em uma reunião com o cliente. Por isso é tão importante seguir em frente e ter paciência. É como quando você começa a academia. Até fortalecer os músculos e ganhar resistência, continuar se exercitando vai demandar altas doses de motivação interna. Para se estimular, preste atenção em seus pontos fortes. “Cada um vai desenvolver a criatividade com base nos talentos e tipos de inteligência que domina mais”, diz Jean Sigel, da Escola de Criatividade.

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(Arte/Você S/A)
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Arsenal particular

Não existe nada totalmente inovador. “Uma ideia nova é sempre uma mistura de ideias velhas”, diz o neurocientista Sidarta. Esse milk-shake de insights tem nome científico: reestruturação de memória, momento no qual o cérebro reorganiza conhecimentos e informações que já possui de maneira a produzir algo diferente. Portanto, um grande aliado para os criativos é ter conhecimentos, experiências e interesses diversos. “Quanto maior o seu repertório, maior a chance de você inventar uma coisa nova”, diz Sidarta.

Por isso, ampliar os horizontes (e sair da zona de conforto de sua área de atuação) é tão importante. “Busque temas que você normalmente não estudaria”, diz Jean Rosier, sócio e cofun­dador da escola e consultoria Sputnik. O conselho vale para leituras, filmes e até séries que você escolhe assistir. Liste seus hábitos comuns e procure conteúdos que vão na direção oposta. Faça isso deliberadamente: os algoritmos de seu streaming vão, sempre, sugerir as mesmas coisas para você. O que, na prática, será mais do mesmo para a sua mente.

Essa atitude também pode ser usada para chacoalhar a rotina de trabalho. Se você fica o tempo todo em frente às telas, escreva alguns de seus processos no papel, por exemplo. Ou então desenhe sua lista de tarefas em vez de escrevê-la. “Isso faz seu cérebro gerar neurossinapses diferentes”, diz Mariana ­Achutti, CEO e fundadora da Sputnik.

Outro exercício interessante é perguntar a si mesmo o que pode ser feito de diferente para executar uma tarefa que você realiza todo dia. Não se assuste, pois, no começo, provavelmente nenhuma ideia surgirá. Esse bloqueio, no entanto, não é totalmente verdadeiro. As ideias ficam presas porque, antes de pensarmos nelas, costumamos acreditar que elas são ruins. Abstraia a autoavaliação. O exercício pede que você anote tudo o que vier à sua mente. Só depois a análise será feita. Lembre-se: não há certo ou errado, o processo é o que importa.

Depois do primeiro momento, é importante ver em que medida as ideias podem ser, de fato, praticadas e transformadas em algo novo. Apenas dizer para a equipe que você quer reuniões mais rápidas, por exemplo, não é tangível. No lugar disso, pode-se pensar em mudar a sala e usar mesas altas sem cadeiras — o que faria com que as pessoas fossem mais objetivas e, consequentemente, as reuniões encurtassem.

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(Arte/Você S/A)

Matérias-primas

Ser criativo não é se tornar um gênio solitário no alto da montanha com respostas para tudo. Criatividade tem a ver com empatia e colaboração: exige que nós saibamos escutar e olhar para o outro. Só assim conseguiremos criar algo que tenha valor para todos e que, de fato, seja uma resposta a uma necessidade real. Muitas vezes, é no contato com os demais que temos os melhores insights para alguma questão que já estava em nossa cabeça. “É preciso sair, conversar, ouvir e reunir pontos de vista diversos”, diz Jean Sigel.

Nesse sentido, vale voltar à infância — lembra que as crianças são muito mais criativas do que os adultos? Pois bem. Resgate o hábito de fazer perguntas. Quaisquer perguntas. “Mesmo que sejam impertinentes, as crianças sempre perguntam, sem esperar respostas prontas”, diz Jean. “Deixamos de fazer isso porque o questionamento nos tira do conforto.” Mas esse é um péssimo hábito para quem quer ser criativo.

Além de repertório e questionamento, é preciso haver motivação para criar. E ela está por todos os lados. “A matéria-prima da criatividade são os problemas”, diz Denilson, da Fábrica de Criatividade. A questão é que estamos acostumados a enxergar os problemas como males a ser eliminados rapidamente, e não como oportunidades de melhorias. Analisar problemas de forma estruturada permite encontrar novos caminhos — muitos impensáveis à primeira vista.

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(Adobe Create Magazine / Creative Types/Você S/A)
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Como tudo no desenvolvimento da criatividade, tornar-se um bom caçador de abacaxis é um processo que leva tempo. Uma forma de analisar situações e, consequentemente, encontrar problemas é o sistema conhecido como Six Thinking Hats (algo como “seis chapéus para pensar”). Ele foi desenvolvido por Edward de Bono, professor na Universidade de Oxford. De acordo com a teoria, devemos ter seis perspectivas para uma questão: o chapéu vermelho (olhar para a situação com as emoções e entender como se sente), o chapéu branco (ver de forma objetiva quais são os fatos), o chapéu amarelo (ver o lado positivo: o que vai funcionar?), o chapéu preto (ver pelo lado negativo: o que não vai dar certo?), o chapéu verde (tentar pensar em ideias alternativas) e o chapéu azul (no cenário geral, qual seria a melhor solução?). E, se você está diante de um problema que parece não ter solução, às vezes o melhor a fazer é sair para dar uma volta — nem que seja para falar com os colegas em outra sala ou tomar uma água. Com tempo e dedicação, as ideias vêm.

Ferramentas como essa estimulam a criatividade de maneira estruturada, principalmente no trabalho. Mas o importante é lembrar que não há um único jeito de ser criativo. Cabe a cada um encontrar o método que mais funciona para si mesmo — e você só vai encontrá-lo quando se dedicar diariamente a essa habilidade. Começar agora é simples, pense: o que você pode fazer de diferente hoje?


Curiosidade pura

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(Alexandre Battibugli/Você S/A)

Quando pensamos em criatividade, um dos clichês é imaginar uma agência de publicidade cheia de profissionais descolados conversando e tendo ideias sensacionais. Essa foi a realidade de William Roscito, de 39 anos, durante 15 anos. “Fiquei insatisfeito com o trabalho e queria alternativas. A agência tinha um pouco essa mitificação do artista intocável”, diz William. Ao pensar sobre o assunto, ele entendeu que a criatividade não precisava ficar restrita aos “empregos criativos” e que essa competência poderia ser aproveitada de outras formas. “Criatividade nada mais é do que responder a problemas complexos que exigem empatia e encontrar caminhos não triviais.” Com isso na cabeça, conseguiu, em 2016, uma vaga na CI&T, consultoria de tecnologia, como líder do departamento de marketing — e pouco mais de três anos depois se tornou gerente sênior de criatividade, liderando uma equipe de 30 pessoas com atuação global. “Estamos em um mercado mutável e, se assumirmos modelos pré-fabricados, estaremos bloqueando um processo criativo.” Um dos desafios de William foi o projeto de renovação arquitetônica da sede da empresa. Era preciso desenhar um layout e, para isso, ele formou uma equipe com pessoas e lideranças de diversas áreas para projetar, em conjunto, uma arquitetura que seria boa para todos. A versão final ficou pronta em cinco dias — bem antes do prazo inicial, de dois meses. “As pessoas criaram no chão, usando fita-crepe. Depois, fizemos maquetes, modelos em 3D e protótipos dos espaços.” Para William, o segredo da criatividade é a curiosidade — que precisa ser cultivada fora do trabalho. Por isso, ele tem projetos pessoais, como o cultivo de uma míni Mata Atlântica no jardim de casa e a participação num grupo de inovação. “Se eu não fizer isso, um dia virá uma máquina fazer meu trabalho.”


Cadê as soluções?

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(Omar Paixão/Você S/A)

A criatividade sempre foi importante na vida de Renata Mastrangeli, de 42 anos. E isso se evidencia por sua trajetória profissional fora do comum. Formada em desenho industrial e hotelaria e louca por artes, ela acabou migrando para o mundo corporativo ao entrar como analista em canais digitais no banco Santander, 18 anos atrás. Embora feliz com a escolha, levou um tempo para ela se encontrar totalmente na carreira. “Não entendia como minha expertise em arte combinaria com o banco”, diz. Ao longo dos anos na instituição, Renata passou por diversas áreas de negócios até chegar, em 2016, à diretoria de atendimento ao cliente — onde hoje ela é gerente. Foi nesse momento que tudo mudou. Renata fez uma pós-graduação na qual teve contato com os conceitos de criatividade e neurociência. “Resolvi me especializar para ter as ferramentas e transformar o abstrato em técnica.” Com o apoio do banco, fez cursos de criatividade e se tornou multiplicadora interna de conteúdo. Mas as coisas tomaram uma dimensão mais prática em 2018, quando ela aplicou as dinâmicas criativas para melhorar as métricas de atendimento. Com o apoio da liderança, Renata passou por 86 regionais, liderando dinâmicas de 8 a 16 horas com as equipes. O objetivo era juntar as ideias e criar soluções customizadas. “Os problemas não eram os mesmos em todos os lugares, e dar uma única solução não serviria.” Em menos de seis meses, os indicadores melhoraram em nove pontos. “O maior desafio foi provar que criatividade dá resultado”. Hoje, Renata é uma referência no assunto no Santander e sempre é convidada para falar sobre o tema em outras diretorias. “Tenho convicção de que só consegui transformar meu trabalho porque não bloqueio o mundo lá fora”.


Conhecimento diversificado

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(Eduardo Marques/Tempo Editorial/Você S/A)

Formado em economia, Rafael Figueroa, de 33 anos, passou cinco anos em bancos de investimento. Mas seu destino era o empreendedorismo. Depois de sair do banco, ele tocou uma ONG que levava tecnologias de código aberto para pequenos agricultores e uma empresa que usava drones para mapear propriedades agrícolas. Essas experiências serviram para ele entrar em contato com locais remotos do país e notar um problema: não havia acesso à medicina especializada nesses lugares. “Pensava muito sobre isso, mas faltava um elemento que ligasse as coisas”, diz. O insight veio em 2013, quando Rafael, ainda trabalhando na ONG, sofreu um acidente no interior do Rio Grande do Norte que resultou em um pé quebrado e um diagnóstico errado de um médico da cidade. “Fiquei meses sem conseguir andar por causa desse erro.” Essa foi a deixa para criar o Portal Telemedicina, uma plataforma que conecta exames feitos em locais remotos a especialistas, que diagnosticam no mesmo dia. A empresa atende cerca de 500 clínicas e hospitais em 300 cidades no Brasil e na África. A criatividade para encontrar essa solução aconteceu porque Rafael já possuía, mesmo inconscientemente, uma bagagem de experiências que estavam associadas ao problema que ele precisou resolver. Ter conhecimentos diversos é outro ponto que ajuda o empreendedor a ter ideias inovadoras. Por isso, entre seus rituais de criatividade estão as leituras diárias. Uma delas deve se relacionar à saúde, mas outra precisa ser de uma área totalmente diferente, como marketing ou economia comportamental. “Você resolve problemas de forma diferente usando outras áreas do conhecimento.”


Inovação na mesa

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(Omar Paixão/Você S/A)

Um tempo atrás, Karen Zoreck Keller, de 37 anos, líder de projetos globais na Bayer, achava que era preciso ter um dom inato para ser criativo. Mas sua carreira a desmentiu. Formada em veterinária, ela entrou na Bayer em 2006 em busca de uma mudança profissional. Deixando a clínica de lado, Karen começou a atuar como coordenadora técnica no setor de medicamentos veterinários da multinacional alemã. “Sempre gostei de pensar em fazer as coisas de modo diferente, e esse trabalho me despertou curiosidade”, diz. Logo nos primeiros meses na companhia, sua criatividade foi estimulada por um concurso global de sugestões para novos produtos. “Mandei uma ideia sem pretensão nenhuma, mas fui selecionada.” Os prêmios foram um caf�� com o presidente da empresa e uma estátua que, até hoje, está em sua mesa — para lembrá-la de sempre pensar diferente. Essa necessidade a levou a participar de workshops sobre criatividade e a imprimir alguns dos exercícios e deixá-los por perto. “São ferramentas que ajudam a fazer brainstorming e a olhar mais ao redor. Às vezes, você faz tudo no automático e perde a chance de algo novo.” E Karen começou a aplicar as metodologias em todos os seus desafios de carreira. Um dos mais recentes foi mudar a forma como os projetos globais são acompanhados. Em vez de planilhas extensas no Excel, ela montou um gráfico colorido que permite, em uma olhada, entender o andamento de projetos em cada país. A solução fez sucesso e outros locais adotaram a novidade. Nem sempre dá tudo certo: já aconteceu de ela inventar alguma coisa que não funcionou bem. “Isso me ensinou a prestar atenção no público que quero atingir e a me adequar melhor. É muito bom conseguir se divertir fazendo algo diferente, ousando um pouco.”


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