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Veja como minimizar o impacto da crise no bolso e proteger as finanças

Os efeitos devastadores da contaminação pela Covid-19 se alastram e afetam também a conta bancária dos brasileiros. Veja como se organizar financeiramente

Por Juliana Américo
Atualizado em 30 jun 2020, 06h00 - Publicado em 30 jun 2020, 06h00
 (Ilustração: Victor Beuren/Você S/A)
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Matéria originalmente publicada na Revista VOCÊ S/A, edição 264, em 07 de maio de 2020. 

No começo de abril, o Fundo Monetário Internacional divulgou um relatório indicando que os efeitos do coronavírus na economia mundial causariam uma crise comparável à da Grande Depressão, em 1929. Segundo o FMI, o isolamento social, medida que tem sido defendida por especialistas e autoridades em saúde como a mais eficaz contra a disseminação da doença, e a consequente paralisação de diversas atividades econômicas irão gerar uma retração de 3% na economia global em 2020. O momento atual, batizado pelo órgão como Grande Paralisação, será pior do que a crise de 2008 e, pela primeira vez desde os anos 30, fará tanto economias avançadas quanto emergentes entrar em recessão.

Com o Brasil não será diferente. O país será, inclusive, uma das nações em desenvolvimento mais afetadas. Isso porque antes mesmo do início da adoção de medidas de isolamento social a taxa de desemprego por aqui estava alta. No primeiro trimestre deste ano o índice subiu de 11,2% para 11,6%, o que representava 12,3 milhões de cidadãos sem trabalho. E as previsões são pessimistas. De acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre), por causa da pandemia, nos próximos três meses essa taxa pode decolar ainda mais, atingindo 16,1% da população e fazendo com que mais 5 milhões de trabalhadores entrem na fila do desemprego.

Soma-se a esse cenário a publicação da Medida Provisória 936 no início de abril, que autoriza às empresas reduzirem até 70% do salário e da jornada dos trabalhadores, visando evitar demissões. Ou seja, num futuro próximo, parte das pessoas estará sem emprego, dependendo do auxílio emergencial de 600 reais fornecido pelo governo, e outros tantos estarão com o orçamento reduzido em mais da metade. Nesse contexto, torna-se urgente criar estratégias para proteger também a saúde do bolso durante a pandemia.

Na ponta do lápis

Independentemente de estar com a conta bancária saudável antes do coronavírus, o período de instabilidade pede uma revisão geral do orçamento. “Tanto os trabalhadores com carteira assinada quanto os autônomos e empresários precisarão conhecer sua situação financeira. E a verdade é que a maioria das pessoas não sabe quanto gasta e quanto recebe por mês”, afirma Ricardo Hiraki, sócio fundador da consultoria financeira Plano.

Um exemplo disso é que, segundo um levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) divulgado em janeiro, 48% dos brasileiros não monitoravam o orçamento. Outros 20% também não faziam nenhum registro de gastos ou recebimentos mensais.

Para aqueles que conseguiram poupar nos últimos anos, ter ciência do orçamento mensal é importante para mensurar por quanto tempo a reserva financeira irá durar enquanto a economia não voltar ao normal. “É lógico que será necessário fazer algumas mudanças de hábitos. Mas se você tem menos de seis meses garantidos é preciso realizar uma verdadeira operação de guerra”, diz Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin).

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A dica de ouro é mexer nas economias apenas quando não existir mais nenhuma outra fonte de renda. Se o contexto for de redução de salário ou de existência de seguro-desemprego, o mais aconselhável é adaptar o orçamento para a nova realidade.

Cortando na carne

Na hora de reajustar as contas, priorize três frentes: alimentação, saúde e educação. As duas primeiras estão relacionadas à manutenção da vida, logo, não devem ser reduzidas; já a última é importante para garantir capacitação profissional, algo imprescindível para se manter no mercado após a crise. “Nos próximos meses nós vamos ver uma concorrência maior no mundo do trabalho. Por isso, mesmo quem não perdeu o emprego precisa pensar em se atualizar. Isso sem contar que aprender algo novo pode ser uma boa oportunidade de obter renda extra”, afirma Reinaldo. Então, aproveite para garimpar descontos e cursos gratuitos que estão sendo oferecidos por diversas instituições durante o isolamento.

Gastos com roupas, carros e lazer podem ser cortados ou reduzidos ao máximo. E, embora seja preciso economizar nas contas de aluguel, luz e energia, estas últimas podem ser negociadas, uma vez que as concessionárias estão mais flexíveis com a cobrança dos serviços. O Senado, por exemplo, aprovou um projeto de lei que proí­be decisões de despejo por falta de pagamento de aluguel até o dia 30 de outubro. Por sua vez, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) suspendeu por 90 dias os cortes no fornecimento de energia para os inadimplentes.

Escolhas inteligentes

Mas o não pagamento de despesas básicas deve ser adotado apenas em último caso. Isso porque as medidas citadas acima não impedem que o consumidor fique com restrições no nome, por exemplo. Sem contar que, após o período de crise, os serviços poderão ser interrompidos; e os valores devidos, cobrados normalmente.

Uma opção melhor é aproveitar a prorrogação de pagamento de tributos federais, incluindo imposto de renda, simples nacional, PIS/Pasep e Cofins. Para os empreendedores, existe ainda a possibilidade de adiar ou parcelar a contribuição do FGTS dos funcionários. “Aproveite e verifique junto aos bancos e serviços contratados o pagamento de taxas e assinaturas desnecessárias. O ideal era já ter cortado esses gastos antes mesmo da crise”, afirma Ricardo, da consultoria Plano.

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No azul ou no vermelho

A pandemia aumentou ainda mais o número de famílias brasileiras endividadas. Em janeiro, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) registrou recorde no número de lares com contas atrasadas (67%). Em dezembro do ano passado, o índice se encontrava em 65%, por exemplo. A orientação para quem está no vermelho é a mesma de sempre: renegociação.

E a boa notícia é que, diante do iminente aumento da inadimplência, cinco grandes instituições financeiras nacionais (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander) passaram a oferecer condições especiais para aqueles que desejam rever os pagamentos. É possível, por exemplo, suspender parcelas de financiamento por períodos que variam de 60 a 180 dias ou então encontrar novas linhas de crédito.

Contudo, o cartão de crédito e o cheque especial, grandes vilões do orçamento, devem continuar sendo evitados. Ainda que projetos de redução das taxas de juro dos dois produtos estejam tramitando no Congresso, apenas a Caixa Econômica Federal anunciou, de fato, a diminuição do cheque especial de 4,9% para 2,9% ao mês. A taxa de juro do crédito rotativo da instituição também caiu, de 7,7% para 2,9% mensais. “O cenário ideal é pagar à vista e, de preferência, com desconto”, afirma Reinaldo, da Abefin.

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Você pode estar se perguntando: “Minha renda reduziu, então não preciso separar uma quantia para investimentos, certo?”. Errado. Os especialistas são unânimes em dizer que, para aqueles que estão no azul, agora também é hora de pensar nas aplicações, seja para aproveitar a baixa da bolsa de valores, seja para melhorar a reserva financeira. “Existem oportunidades em títulos de renda fixa prefixada e ativos atrelados à inflação, por exemplo”, afirma Ricardo, da Plano.

Para quem deseja investir em renda fixa em meio à economia instável, a dica é escolher títulos com liquidez diária, como o Tesouro Direto. Dessa forma, é possível resgatar o dinheiro a qualquer momento. Além disso, os investimentos prefixados são aqueles que você sabe quanto irão render desde o momento da aplicação até a data de vencimento dos títulos. Por isso, são mais seguros e menos influenciados pelas oscilações do mercado.

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Ilustração: Victor Beuren (VOCÊ S/A)
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Já o investimento em renda variável requer cuidados maiores, principalmente porque são aplicações de longo prazo, mais suscetíveis ao sobe e desce da bolsa e que exigem sangue-frio para resistir à tentação de resgatar os valores em meio a uma queda. Para quem deseja arriscar, alguns setores prometem crescer, mesmo durante a pandemia, e podem ser mais seguros. É o caso dos títulos atrelados às empresas de varejo, em especial as que já atuam com e-commerce, e de bancos — já os ativos de companhias aéreas e petroleiras devem ser evitados.

Alguns fundos de investimentos e ações também tiveram uma diminuição no valor da aplicação e se tornaram mais vantajosos, principalmente aqueles de ramos tradicionais, como saúde e energia, que não costumam oscilar muito. É o caso das ações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSNA3) e da administradora de saúde Qualicorp (QUAL3), que caí­ram de 15,68 reais para 7,17 reais e de 44,99 reais para 25,75 reais, respectivamente (conforme cotação feita em 27 de abril). “Quem investiu em dólar também pode se preparar para resgatar, uma vez que a moeda não deve subir mais do que o patamar atual”, finaliza Ricardo.


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