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Brasil: a hora da virada

PIB em alta, inflação em baixa, melhora na perspectiva de risco e algum entendimento entre governo e BC. Junho veio com uma série de boas notícias. Que seja só o começo. 

Por Alexandre Versignassi
14 jul 2023, 05h20
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 (Leonidas Santana/Getty Images)
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Junho de 2023 foi um mês especial. Logo no dia 1º, veio o anúncio do crescimento do PIB no primeiro trimestre: 4% na comparação com o 1T22, versus uma expectativa de 3%. Ou seja: a economia mostrou força mesmo sob juros pesados. 

Juros que, sim, vêm fazendo seu trabalho contra a inflação. Uma semana depois do anúncio do PIB veio o IPCA de maio, com outra surpresa: apenas 0,23% no mês. Foi o menor desde setembro de 2022, quando o índice tinha ficado negativo na esteira das desonerações nos combustíveis. 

Com o resultado de maio, a inflação em 12 meses cedeu para 3,94% – abaixo do teto da meta para 2023 (4,75%). Nada mal para um índice que tinha começado o ano em 5,77%, e que viveu seu pico logo ali, em abril de 2022, quando a inflação em termos anuais chegou a nauseantes 12,13%.  

A tendência para o segundo semestre é que a inflação em 12 meses retome um pouco de terreno. As deflações de julho, agosto e setembro do ano passado têm ajudado a puxá-la para baixo. Conforme esses números antigos vão saindo da conta, cresce a pressão de alta para o IPCA anual. Mesmo assim, o mercado vê um cenário sob controle. O Boletim Focus, pesquisa semanal do BC junto aos agentes financeiros, passou a apontar para uma inflação de 4,98% ao final do ano. Antes da divulgação do IPCA de maio, a aposta estava em menos digeríveis 5,69%.

Mas a grande notícia do mês, e do semestre, ainda estava por vir. Ela chegou no dia 14 de junho, quando a S&P deu um upgrade em sua “perspectiva” para o Brasil. A S&P faz parte da elite global das agências de classificação, junto da Moody’s e da Fitch. Parte do trabalho delas é avaliar o risco de cada país dar calote em sua dívida. Ou quase isso. Governos podem imprimir dinheiro para honrar seus débitos, se forem loucos o bastante. Mas, como já lembrou o próprio Haddad, isso é calote do mesmo jeito: a moeda desvaloriza (inflação), e o credor fica na mão. É o que aconteceu na Argentina. 

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Como o Brasil é o Pelé da inflação, com taxas de dois dígitos em todos os anos entre 1953 e 1995 (mais alguns espirros acima dessa linha vermelha depois), nossa “nota de risco” é baixa. 

As da S&P vêm na forma de letras: “AAA” é a máxima. Depois vem “AA” e “A”. Essa escala vai descendo. Depois de “A”, tem “BBB”, “BB”… A gradação termina num “C” solitário. E depois ainda vem a raspa do tacho, o “D”, de default. Como se vê, a S&P é amiga do trocadilho: fazem esse esforço todo com letras duplas e triplas só para chegar à inicial do termo em inglês para “calote” lá embaixo. 

O empenho no refinamento da escala tem outra etapa, os sinais de “+” e de “-”. A classificação de risco de um país pode não ser exatamente “BB”, por exemplo. Mas “BB+”, um pouco melhor, ou “BB-”, um pouco pior. 

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A do Brasil é BB-. Só que tem mais um detalhe. A S&P não dá só a nota. De tempos em tempos, divulga sua perspectiva para que o país suba de degrau. A nossa era “estável” (eufemismo para “não temos como opinar”). Em junho, subiu para “positiva”. Significa que temos chances reais de perder o sinal de menos. E, quem sabe, chegar ao cobiçado “grau de investimento” – a partir de BBB-. 

A melhora é alvissareira porque atrai mais dinheiro gringo para a nossa dívida pública. Com o eventual aumento na demanda pelos títulos do Tesouro, o país pode oferecer juros menores para rolar seus débitos, e isso ajuda a manter as contas em dia.

A S&P citou o crescimento do PIB, a baixa da inflação, e os esforços na criação do arcabouço fiscal como os pontos que levaram os analistas da agência a olhar com mais carinho para o Brasil. 

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Na última semana do mês, viria a cereja do bolo: governo e Banco Central concordaram em manter a meta de inflação em 3% (aumentá-la de supetão, como Lula chegou a defender, geraria uma crisede confiança). 

De carona nas boas notícias do mês, o Ibovespa virou o jogo. Até o final de maio, acumulava uma baixa em 2023. Mas subiu 9% em junho, fechando a primeira metade do ano 7,6% no verde. E os juros futuros, não menos importantes, entraram em queda livre, pavimentando o caminho para o início dos cortes na Selic a partir de agosto.   

Que seja só o começo. Bom segundo semestre para todos nós.

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