O impacto da pandemia no bem-estar (e no bolso) dos brasileiros, segundo este estudo
Renda média caiu abaixo dos R$ 1 mil pela primeira vez desde 2012 e o índice que mede felicidade baixou ao menor nível em 15 anos. Entenda.
O Brasil ficou mais desigual e a renda média da população – especialmente a dos mais pobres – diminuiu em comparação ao início da pandemia de Covid-19 no país, em março de 2020. E isso teve impacto direto no bem-estar dos brasileiros. Desde então, ficamos também mais infelizes: o índice que mede satisfação alcançou o ponto mais baixo desde o início da série histórica, em 2006.
As conclusões aparecem na pesquisa “Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia”, publicada na última segunda-feira (14) e assinada pelo economista Marcelo Neri, pesquisador da FGV e diretor do FGV Social (Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas). Você pode lê-la na íntegra clicando aqui.
O estudo avaliou um conjunto de indicadores objetivos e subjetivos para mensurar os impactos da pandemia no Brasil, pouco mais de um ano depois da confirmação do primeiro caso de Covid-19.
O primeiro desses indicadores é o índice Gini, usado mundialmente para medir desigualdade – ou quanto os mais ricos estão distantes dos mais pobres. Os valores do índice variam de zero a 1000. Quanto mais próximo de zero, menos desigual. A pandemia contribuiu para ampliar as diferenças entre ricos e pobres, elevando o índice Gini do Brasil a 0,674 – mais de três centésimos acima do patamar do primeiro trimestre do ano passado, quando estava em 0,642.
A carteira dos trabalhadores também ficou, em média, menos gorda nesse período. A renda da população em idade ativa caiu 10,89% entre o primeiro trimestre de 2020 e o fim de março deste ano. Entre os mais pobres, a diminuição foi quase duas vezes maior, chegando aos 20,81%.
O salário médio per capita ficou, pela primeira vez desde 2012, ano de início da série histórica, abaixo dos mil reais mensais. Ao final de março de 2021, a renda média era de R$995. É um valor 11,3% menor que os R$1.122 de março do ano passado. Os cálculos consideram a renda média que brasileiros receberam efetivamente via trabalho dividida pelos integrantes da família, além de dados da Pnad Contínua, pesquisa feita do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os números refletem a perda de empregos, que segue forte no país desde o início da pandemia. No primeiro trimestre de 2021, 14,7% dos brasileiros (ou 14,8 milhões de pessoas) não tinham trabalho.
Com menos oportunidades de emprego e salários menores, fica mais difícil olhar o copo meio cheio. Não à toa, o índice de felicidade do brasileiro caiu ao menor nível em 15 anos durante a pandemia. A medida geral de felicidade avalia a satisfação do brasileiro com a vida, com base em sua própria percepção, numa escala de 0 a 10. Essa nota atingiu os 6,5 pontos em 2019. Mas voltou a cair em 2020, chegando aos 6,1.
No estudo da FGV, os dados de felicidade do Brasil foram colocados lado a lado com os de outros 40 outros países. No resto do mundo, a nota estacionou próximo aos 6 pontos durante a pandemia – variando de 6,02 para 6,04. Ou seja, brasileiros estão, no geral, mais desencantados do que o resto do mundo. “Em geral, indicadores objetivos e subjetivos mostram na pandemia piora das desigualdades dentro do Brasil e uma perda maior gerada para o país do que para o conjunto de 40 nações”, conclui o estudo.