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“Aproveitamos até os pequenos farelos no Brownie do Luiz”

Luiz Quinderé, fundador do Brownie do Luiz, marca carioca de doces, conta sua trajetória e as dificuldades de empreender no Brasil

Por Marina Verenicz
Atualizado em 8 out 2020, 16h00 - Publicado em 8 out 2020, 16h00
Luiz Quinderé, do Brownie do Luiz: “As pessoas acham que o empreendedor trabalha menos, que é algo fácil; mas não é” (Brownie do Luiz/Reprodução)
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Em 2005, Luiz Quinderé preparou sua primeira fornada de brownies caseiros para comer no intervalo da escola. Depois que seus amigos brigaram para dividir os doces, ele resolveu levar alguns para vender, no dia seguinte. E não parou mais. Em 2011, após a marca aparecer no programa da Ana Maria Braga, os brownies se popularizaram no Rio de Janeiro.

Diariamente, a Brownie do Luiz produz 8 mil unidades do doce, na fábrica carioca e em uma operação menor em Brasília. Em setembro de 2019, a rede abriu a primeira loja fora da capital fluminense, localizada em São Paulo. Atualmente, são quatro lojas próprias e 1 500 pontos de distribuição no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília. 

Na entrevista a seguir, Luiz Quinderé, fundador da marca que leva seu nome, fala sobre seu projeto e como é empreender no Brasil. 

Como surgiu a ideia de vender os doces? 

Eu não sou cozinheiro, fui totalmente pretensioso. Eu gostava muito do brownie que uma amiga fazia. Peguei a receita e pedi para a empregada dos meus pais fazer para eu levar de lanche para a escola. Mas meus amigos começaram a querer comer o meu, então no dia seguinte eu levei para vender. Fui um sucesso. Eu fui crescendo e crescendo. Vi uma oportunidade e aproveitei. 

Como a iniciativa virou uma empresa?

Ficamos fazendo os doces durante seis anos em casa. Eu dividia o valor com a minha empregada – que hoje é minha sócia – e reinvestia o restante no negócio. Não tinha gastos fixos, somente variáveis. Então o dinheiro que sobrava era usado para comprar equipamentos, como forno, batedeiras, utensílios. Até melhorei meu skate, que era meu método de entrega. Nos seis primeiros anos, eu não precisei de investimento. 

Em 2011, houve um grande marco na nossa história, que foi quando fomos no programa da Ana Maria Braga. Depois dessa aparição, houve um boom muito grande, e eu precisei sair da cozinha dos meus pais e pensar em uma escala maior de produção. Não tínhamos dinheiro para investir em uma fábrica, então eu subloquei um espaço industrial e precisei aumentar a minha capacidade produtiva para atender a nova demanda crescente que surgia. 

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Passei um ano lá. Achei que já estava na hora de montar a minha própria fábrica, mas faltava dinheiro. Eu tinha imaginado uma ordem de grandeza, mas outras coisas surgiram pelo caminho que encareceram o projeto. Peguei um empréstimo com a minha mãe, porque, entre as minhas opções de crédito, o dinheiro da família sairia mais barato. Devolvi o valor dois anos depois criando um centro de yoga, que era o sonho dela. Foi sonho por sonho, e não dinheiro por dinheiro. 

E a partir de quando você percebeu que poderia viver disso?

Não teve uma data, foi uma história de 15 anos, que representa metade da minha vida. Mas percebi um futuro desde o início. Como eu não tinha gastos fixos, logo no primeiro dia eu já tive retorno. Óbvio que era uma quantidade muito pequena e o cenário era benéfico, já que eu não pagava aluguel, funcionários e outras contas. Mas eu já tinha uma percepção que aquilo funcionaria. Minha mãe também é empreendedora. Ela tem um restaurante aqui no Rio de Janeiro, e desde pequeno eu já falava que queria ter um negócio. Isso sempre fez sentido na minha cabeça. 

Hoje vocês diversificaram a marca com outros produtos. Como foi essa decisão?

A empresa tem outros produtos, como sorvete, barra de chocolate, alfajor, picolé e cerveja, mas eles representam mais um posicionamento de marca do que de volume. Mais de 80% das nossas vendas são de brownies. 

Em termos de empreendedorismo, diversificamos para ter outras empresas. Usamos nosso know-how e nosso networking para montar outros modelos de negócios. Hoje, temos uma marca de pão de queijo chamada Yuca, e aproveitamos a nossa estrutura logística para montar uma distribuidora chamada Loop. Atualmente, essas empresas já se sustentam sozinhas. 

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Como chegaram a um modelo de negócios enxuto?

A gente aproveita desde as madeiras até os pequenos farelos que sobram nos cortes dos brownies para vender como farofa a parceiros que criam produtos com o nosso nome. Todos os móveis das nossas lojas foram produzidos pela gente, com os paletes que chegam nas fábricas. Montamos uma marcenaria para construir esses móveis. Economizamos custos aproveitando materiais que antes eram descartados. 

As lascas de brownie que sobravam quando cortávamos os doces estão entre os produtos mais vendidos, representando mais de 40% da venda. São dois produtos que iriam para o lixo e acabaram gerando receita, diminuição de custo, aumento do faturamento e margem de lucro. 

Quais são os principais desafios para empreender no Brasil?

O custo. Empreender no nosso país é algo muito difícil: 70% das empresas fecham em menos de 5 anos. Você trabalha contra esse número. São altos custos, falta de clareza nas legislações tributária e fiscal que tornam tudo muito complexo. Apensar disso, nos últimos anos houve uma melhora com a criação do microempreendedor individual. Quando eu comecei, em 2005, essa modalidade não existia.

É um ótimo auxílio para companhias menores. Na minha época, o melhor incentivo que existia era o Simples Nacional, para as que faturam até 3 milhões de reais anuais, mas era algo que não se encaixava na empresa de um menino que produzia brownies em casa, ou para um pedreiro, uma manicure. 

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No entanto, ainda existe um lapso muito grande entre os regimes tributários, como do microempreendedor para o simples, e pouca clareza. O empreendedor tem de ir andado no meio da selva e ir tirando o mato para ver o que está acontecendo na frente. 

Quais são os planos para o futuro?

Somente agora fincamos nossa bandeira nesse mercado enorme, abrimos nosso centro de distribuição e nossa loja para podermos entrar em mercados maiores. Mas atuamos em escala pequena na nossa percepção de potencial, por isso estamos fazendo alguns testes. Eu gosto muito de economia real, eu não entendo muito de economia on-line, desses novos modelos que vêm surgindo. Eu tenho vontade de desbravar, mas é muito diferente do meu campo de atuação. 

Quais as dicas para quem quer empreender no Brasil?

É preciso dar um passo de cada vez. A internet deixou os empreendedores atuais muito imediatistas. As pessoas querem abrir 100 lojas antes de abrir a primeira. Querem ter o aplicativo antes de aprender a programar. Nada é do dia para a noite. As pessoas só veem a ponta do iceberg do empreendedorismo. Não é agora que meus brownies fizeram sucesso. Eles representam um trabalho que durou metade da minha vida. 

Eu entendo que o empreendedorismo virou algo muito glamouroso de uns anos para cá, o que é muito legal, porque eu considero que seja uma das maiores ferramentas de transformação social que existe, a partir de uma mudança de mentalidade dos empreendedores. Mas as pessoas acham que o empreendedor não trabalha e que é fácil, mas não é. Há muito mais riscos que um emprego formal, muito menos segurança.

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