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Caneca da fortuna: empreendedor fatura R$5 milhões com franquia de brindes

Especializada em brindes personalizados, a Caricanecas se destacou em meio à pandemia, e faturou R$ 5 milhões no primeiro semestre.

Por Monique Lima
Atualizado em 8 jul 2021, 10h19 - Publicado em 1 out 2020, 08h00
Wdson Sandenys, fundador do Caricanecas (Caricanecas/Divulgação)
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Era 2011. Às 5 horas da manhã, todos os dias, o despertador de Dinho tocava. Em menos de uma hora ele precisava estar no centro comercial de Jundiaí, interior de São Paulo, para oferecer suas caricaturas aos funcionários dos estabelecimentos da região. A oferta era interessante: por R$ 15, você levava uma caricatura, sua ou de algum amigo, estampada numa camiseta ou num quadro. E, se na hora da entrega você não gostasse do desenho, não precisava pagar.

Um ano antes de iniciar esses périplos por Jundiaí, em 2010, Dinho estava empregado como operador no maior centro de logística da cidade. Ao receber a proposta de uma amiga para fazer 50 caricaturas que seriam oferecidas de brinde aos funcionários da empresa dela, porém, percebeu que conseguiria faturar mais do que o mês inteiro de expediente como operador se cobrasse R$ 50 reais por desenho. Isso renderia R$ 2.500 pelo trabalho de uma madrugada – 40% mais do que seu salário, de R$ 1.800.

Foi então que Dinho (cujo nome no RG é Wdson Sandenys) apertou aquele botão com nome de palavrão e deixou o emprego – ao som de “isso é uma loucura”, recitado pelos pais. Em três meses, porém, ele já tinha uma clientela fiel no centrinho. Eram novos pedidos para caricaturas de filhos, amigos, cachorros, cônjuges, sempre com fotos enviadas por e-mail e o desenho feito de casa, no próprio quarto. Com o boca a boca, as prospecções na rua se tornaram desnecessárias. A aventura se tornava profissão.

Nasce um negócio

O mercado de brindes personalizados movimenta R$ 7 bilhões por ano. De acordo com o Sebrae e a Abrinde (Associação Brasileira de Brindes), o país possui 3.500 empresas envolvidas nesse mercado. Seja para campanhas corporativas ou comemorações familiares, não faltam clientes nessa área. Wdson navegou nessa onda e, em 2011, nascia a Dinho Caricaturas, sua primeira empresa. “Fiz parcerias com algumas gráficas em Jundiaí. Foi um boom de pedidos.”

A paixão por desenho sempre existiu na vida de Dinho. Na faculdade, seus cadernos tinham mais caricaturas dos amigos e professores do que conteúdo sobre as aulas do curso de logística. “A faculdade eu até terminei, mas o emprego na área de logística eu larguei na primeira oportunidade de trabalhar com arte. Foi a melhor coisa que fiz.”

Com o aumento da demanda, ele não estava mais dando conta do trabalho sozinho. Contratou atendente, colorista e desenhista. Três anos depois, em 2014, já tinha 13 funcionários, entre artistas e o pessoal da administração. Foi aí que chegou seu primeiro faturamento anual de R$ 1 milhão. “Estávamos decolando, mas o nome da marca [Dinho Caricaturas] era uma complicação. Como remetia a mim, os clientes questionavam se era eu mesmo quem estava fazendo os desenhos, mas a essa altura atuava muito mais na administração do negócio”, relembra. Era hora de se renovar.

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Para uma revisão de marca, em 2015, ele desembolsou R$ 200 mil. O investimento cobria um novo modelo de negócio, com site de hospedagem para vendas online, logo e portfólio mais amplo. A proposta do Cartooneria – novo nome da empresa – era produzir qualquer tipo de desenho, em qualquer brinde, incluindo cadernos e canecas. Foi aí que ele pescou algo novo.

A Caricanecas

A venda dos brindes, em geral, era razoável, mas a de canecas se tornou rapidamente o maior destaque: mais de 90% dos pedidos. “Em 2016, criei um site separado e uma marca própria para testar. Fiz o logo em uma tarde, contratei a hospedagem do site por um mês e batizei o projeto de Caricanecas.” Depois de uma semana no ar, a nova marca já tinha se estabelecido: apresentou um faturamento equivalente ao que Dinho tirava num mês inteiro com o Cartooneria.

Para o fundador, o sucesso da empresa não está calcado só na escolha da mídia, mas também no estilo dos desenhos. “A Caricanecas oferece caricaturas mais realistas e delicadas, em vez daquelas com traços de humor, que muitas vezes constrange a pessoa”, afirma Dinho. De fato: uma caricatura clássica, que coloca um nariz gigante num narigudo e olhos do tamanho de um pires em alguém com as órbitas oculares avantajadas, serviria mais como um presente de inimigo secreto. Desenhos mais básicos, como o que você vê nestas páginas, têm um público maior.

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Imagens mais realistas, e menos caricatas, ajudam nas vendas: 10 mil desenhos por mês. (Caricanecas/Divulgação)
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Outro ponto que Dinho destaca é a escolha do nome da empresa, que já remete ao produto. “Somos conhecidos como uma empresa que faz caricaturas em canecas. Isso ajudou a fixar nosso nome no mercado, apesar de oferecermos outros tipos de brindes. É mais fácil você seduzir o cliente com um único item e, quando ele já estiver imerso no site, poderá descobrir outros produtos que queira comprar [o que inclui canecas sem caricatura].”

As encomendas passaram a vir do país todo. Mas o preço de frete inviabilizava a entrega para outros Estados. Para resolver a questão, Dinho precisou passar por uma crítica ruim. Em 2017, ele participou do reality show Shark Tank Brasil, como fundador do Cartooneria. Nos bastidores, um dos jurados disse que não via franqueabilidade em seu negócio e que, em determinado momento, ele não cresceria mais. Isso ficou na sua mente. “De certa forma foi uma afronta, mas me permitiu virar uma chavinha. Decidi que faria da Caricanecas uma franquia.”

As franquias

Com a ajuda do Sebrae e de uma consultoria particular, em maio de 2018, nascia a rede de franquias da Caricanecas, já com 20 unidades. É um modelo simples, home based, que não requer o aluguel de um ponto comercial. A franqueadora envia os equipamentos de impressão e, claro, o franqueado não precisa desenhar nada. “Fazemos os desenhos na sede, recebemos as fotos e enviamos a caricatura”, diz Dinho. O franqueado também precisa comprar as canecas – ou seja lá qual for a mídia – para a caricatura. Segundo o fundador, cada unidade tem um faturamento mensal entre R$ 5 mil e R$ 10 mil, em média. O investimento inicial para abrir a franquia é de R$ 9 mil.

Hoje a franqueadora possui 83 funcionários, agora locados em São Bernardo (SP), e conta com 600 franqueados país afora. Neste ano, o faturamento no primeiro semestre alcançou o valor de 2019 inteiro: R$ 5 milhões. “Nas primeiras semanas de quarentena, não vendemos praticamente nada, mas em abril vimos um crescimento inédito”, conta o empresário. O número de pedidos, que ficava entre 5 mil caricaturas por mês pré-pandemia, cresceu para mais de 10 mil. O interesse pelo negócio de franquias também foi uma surpresa. Só nos últimos seis meses, foram 220 novos contratos.

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“Olhando para trás, vejo que todas as transições foram naturais. Resultado do crescimento do próprio negócio.” A meta para o final de 2020 é chegar a mil franquias, com um faturamento de R$ 10 milhões.

A verdade é que esse é um momento positivo para a área de franquias mais simples, como a da Caricanecas. De acordo com a ABF (Associação Brasileira de Franchising), o setor cresceu 6,9% em 2019, comparado ao ano de 2018. Mesmo com a pandemia, estima-se que 2020 feche com um crescimento de 8%, impulsionado justamente pelas franquias home based – compatíveis tanto com o trabalho remoto como com a crise econômica, já que elas exigem um investimento menor quando comparado às lojas físicas.

Com o Brasil conquistado, o objetivo da Caricanecas é virar multinacional. “Devemos começar no Chile, depois Argentina e Portugal”. “No começo, eu só queria ser desenhista, arte pela arte. Hoje eu quero muito mais.” Nada mal para um artista que, até outro dia, vendia seu trabalho de porta em porta no centrinho de Jundiaí.


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