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Casa S/A: Quando juntar pais e filhos no escritório dá certo

Conheça três famílias que trabalham com sucesso no mesmo negócio – e qual a fórmula para que a relação parental não atrapalhe a profissional.

Por Luana Franzão
16 ago 2024, 08h00
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 (Arte/Fotos: Divulgação/Você S/A)
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m maio de 2023, os olhos de muita gente estavam esperando a conclusão da briga pela cadeira mais alta da Waystar Royco, gigante fictícia da comunicação. Acompanhamos os últimos episódios da série Succession, onde três filhos e outros personagens disputavam a herança do taciturno Logan Roy.

A obra ajuda a solidificar no imaginário popular a percepção de que trabalhar em família é uma fria. Quando há dinheiro envolvido, ninguém ama ninguém.

Exemplos da vida real mostram que não é bem assim: conviver em casa e no escritório pode ser saudável. Basta buscar sempre o equilíbrio e ter relações transparentes.

A sucessão entre pais e filhos é a receita de sucesso em algumas casas. Aqui, falaremos de três famílias que se deram bem trabalhando em família para projetar, construir e decorar outros lares.

Desenhos da infância viram projetos: Dado e Guilherme Castello Branco

O arquiteto Dado Castello Branco construiu sua fama prestando atenção nos detalhes. Não perder nada de vista é o que lhe angariou clientes durante uma carreira ocupada no universo da arquitetura.

Ver o pai projetando inspirou Guilherme a seguir o mesmo caminho. Na hora de prestar o vestibular, quase escolheu administrar empresas, mas a arquitetura acabou vencendo o duelo aos 45 minutos do segundo tempo.

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Hoje, ele assume aos poucos as responsabilidades no escritório do pai.

“Eu acho que trabalhar com uma pessoa muito voltada para o detalhe, como ele, tem lados bons e ruins. Eu também sou detalhista, às vezes a gente acaba até discutindo por conta desses detalhes. Mas, no conjunto, é muito bom. O nível de exigência faz com que o trabalho fique sempre melhor”, disse.

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Dado e Guilherme Castello Branco (Divulgação/Divulgação)

Casa, para Guilherme – que desenha muitas –, é onde você se sente bem, acolhido, para onde você tem vontade de voltar. O ambiente de trabalho é quase assim, relata. “Somos muito abertos um com o outro e isso facilita o trabalho.”

Entretanto, as discussões de trabalho volta e meia aparecem em casa, e vice-versa. Tentam evitar o assunto à mesa de jantar, quando a família está toda junta. “No geral, dá para separar bem.”

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Trabalhar com o pai, na visão do filho, foi uma decisão muito acertada. “Temos visões diferentes e um agrega o outro. O trabalho e a relação ficam mais fáceis, e nos tornamos ainda mais próximos por estarmos trabalhando juntos todos os dias.”

De tijolo em tijolo: André e Germano Penazzi

André Penazzi também cresceu em meio às obras. Desde que se entende por gente, o negócio da família é a construção civil. O avô era engenheiro, o pai e o tio, na mesma profissão, abriram juntos uma incorporadora. Tudo em família.

O filho se interessou, naturalmente, em seguir pelo mesmo caminho. “Para mim, obra era parque de diversão”, disse. “Eu morava em casas que meu pai construiu.”

Ele não teve dúvidas ao escolher a carreira: engenheiro, com certeza. Apesar da tradição familiar, o emprego não era garantido. Eram muitos irmãos e primos para encaixar na empresa. O pai e o tio bateram o martelo: cada um com seu projeto.

Foi assim que André começou a tocar pequenas obras desde os 18 anos, quando começou a estudar o ofício. Eram pequenas casas para o programa Minha Casa, Minha Vida, iniciativa do Governo Federal para facilitar o acesso à casa própria, iniciada em 2009.

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André e Germano Penazzi (Divulgação/Divulgação)

Os empreendimentos foram crescendo até alcançar o porte de segunda maior incorporadora do Nordeste. A Setai, construtora fundada e comandada por André, concentra seus investimentos no estado da Paraíba. Hoje, são mais de 200 obras entregues, sobretudo no setor de imóveis de luxo.

Com a prosperidade dos negócios, ele sentiu a necessidade de trazer seus exemplos para mais perto. O pai, Germano Penazzi, foi integrado ao conselho de administração da Setai, e ajuda o filho e os colegas nas decisões mais importantes. O irmão de André – engenheiro, claro – também faz parte da equipe.

É uma situação inusitada, quando comparada a outras instâncias de pais e filhos no escritório. Aqui o filho é CEO, e o pai, conselheiro. André diz que Germano não vê problema nessa hierarquia. Ele acredita que o patriarca respeita seu tino para os negócios, e normalmente confia na palavra da prole.

Muita coisa que eu tentei no passado deu certo. Eu adquiri alguma credibilidade com ele. Até hoje ele brinca, diz que se alguém me vir pulando de um precipício, pode pular junto, porque vai dar certo.

André Penazzi
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A solução da família para não se estranhar no trabalho foi dividir as tarefas. Enquanto André fica com a parte estratégica, Germano aconselha o time e dá direcionamento nas obras. 

Maturidade é um elemento fundamental na relação, para o executivo. Os irmãos acumularam muitos anos de experiência no mercado e sabem respeitar os conhecimentos do pai. Há um reconhecimento mútuo da expertise de cada um, e por isso as intervenções são mínimas.

Ele diz que os outros colaboradores levam na boa a questão de a empresa ser bastante familiar. Sentem-se acolhidos, na opinião de André.

De dentro para fora: André e Arnaldo Danemberg

Uma casa, depois de projetada e construída, permanece sem alma quando não há cuidado com o que a decora. Trazer vida e história para os ambientes é o métier da família Danemberg.

Arnaldo Danemberg, antiquarista e intelectual da mobília, construiu uma vida em restaurar e vender peças de valor artístico e histórico. Na Rua Groenlândia, Jardim América, coração da decoração de luxo em São Paulo, ele construiu seu espaço.

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O antiquário Arnaldo Danemberg Collection tornou-se sinônimo de bom gosto. Engana-se quem acha que vai encontrar peças de segunda mão a preços acessíveis.

Aqui, quando se fala em herança, não se trata apenas de business. Falamos sobre a cultura, tradição e conhecimento que passa de geração em geração.

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André e Arnaldo Danemberg (Divulgação/Divulgação)

Pai, Arnaldo, e filho, André, se dividem nas funções de gerir o negócio. O mais novo toca, sobretudo, a parte executiva. A relação com os clientes, finanças e expansão estão na sua conta. O pai cuida do acervo e da pesquisa. Entre viagens para a Europa para procurar e avaliar novas peças, ele estuda a história do mobiliário.

A família mantém um depósito na cidade francesa de Bordeaux há 20 anos, onde guardam o que encontraram ao longo do tempo.

Uma das paixões de André, o filho, é a difusão do conhecimento acumulado pelos Danemberg. Ele dá aulas e palestras acerca do antiquarianismo, principalmente em universidades de arquitetura e para profissionais da área. Expandir a vocação educacional do negócio está entre os planos para o futuro.

Na verdade, a família inteira está na empresa. A segunda filha de Arnaldo, Paloma Danemberg, toca o AD.Studio, também antiquário, mas voltado para o gosto das novas gerações. A esposa, psicóloga, é do RH, e ajuda a costurar as relações que se entrelaçam.

Segundo pai e filho, o que une a família na vida, e nos negócios, é o propósito comum: difundir e perpetuar a preservação da história da arte, principalmente no mobiliário. A noção de legado é presente em tudo o que fazem.

“Meu pai é meu mestre”, disse André. Ele diz se inspirar na produção intelectual e postura do pai, enquanto este confia na dedicação e conhecimento dos filhos.

Como não levar os problemas do escritório para a mesa de jantar

Nas relações entre pais e filhos no trabalho, existem dois contratos em jogo: o de trabalho e o da relação parental. Cada um com suas cláusulas e particularidades. Naturalmente, a paternidade se sobrepõe na maioria dos casos.

Segundo Wanderley Cintra, psicólogo especialista em relações de trabalho, o primeiro passo para manter uma relação saudável é entender que essas sobreposições existem. “É melhor assumir de vez que existe uma relação pessoal. Lidar com isso da maneira mais realista possível, em vez de tentar fingir uma neutralidade, ajuda a dar consistência às interações.”

É uma forma de lidar com problemas reais, quando aparecerem, em vez de tentar imaginar o que pode acontecer.

Demarcar os lugares para cada discussão também é importante. No escritório, tente ao máximo não trazer conversas domésticas, e vice-versa em casa. Não é fácil, mas o esforço pode ajudar.

“Coisas triviais, a gente pode até falar, mas é melhor deixar os assuntos críticos para os espaços aos quais eles pertencem”, disse o psicólogo.

O filho do dono sempre será o filho do dono, não tem jeito. É muito mais fácil atrair um olhar torto dos colegas ao cometer deslizes.

Para diminuir atritos com a equipe, e até melhorar a autoestima dos filhos-funcionários, é preciso garantir que ele não terá vantagens em relação aos outros colegas: punições, benefícios, salário, promoções. Tudo tem que ser o mais equilibrado possível com o restante da empresa.

“O filho tem que saber que ele vai ser cobrado de uma forma diferente, e não terá benefícios por ser filho do patrão.”

Há diferentes formas de desequilíbrio no contrato pai-filho quando falamos em empresas. Há pais que passam a mão na cabeça dos filhos, e há outros que cobram os mais novos em excesso. Às vezes essa cobrança leva ao sucesso, mas pode extenuar os laços parentais.

“Felicidade não é uma coisa inerente ao trabalho. Há um desgaste natural, conflitos, divergências de ideias e opiniões. Isso é importante e faz a empresa crescer.”

No fim das contas, a palavra que deve guiar essa relação é assertividade. “Ter um feedback muito assertivo é importante. Funciona bem para estabelecer qual é o limite, quando estamos discutindo demais, falando muito alto. É uma espécie de proteção da relação”, disse.

Saber conversar é a chave para tudo.

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