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Conheça o petisco que esconde a medicação dos pets, criado por uma estudante de veterinária

Tutora de um cão idoso, Isadora Borba criou um alimento para facilitar aquele momento terrível: o de convencer o pet a tomar remédio. E transformou o produto em um negócio em ascensão.

Por Guilherme Jacques
14 jan 2022, 05h22
Isadora, estudante de veterinária.
 (Diego Lopes/VOCÊ S/A)
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O mero ato de acariciar um animal de estimação diminui o nível de cortisol – o hormônio do estresse. Mas a relação entre tutor e o amigo de quatro patas não se resume aos momentos de carinho, claro. Quem já teve que medicar seu bichinho sabe: sobram mordidas, patadas e desespero para todos os lados.

A alternativa clássica é misturar o remédio com a ração favorita dele. A tática pode funcionar nas primeiras tentativas. Mas é difícil enganar os pets por muito tempo. Imagine, então, quando é preciso tratar alguma doença crônica, que exija medicação diária.

Claro que, em pleno 2022, esse não é um problema sem solução. Ela existe: são alimentos feitos especialmente para facilitar a administração de remédios. Tratam-se de petiscos que funcionam como uma massinha de modelar comestível. Você pega essa massinha e envolve o remédio para escondê-lo. Esse tipo de ração também tem gosto e aroma fortes o bastante para que o pet não perceba o remédio. Se ele curtir a comidinha nova, passa a tomar sua medicação com prazer. Problema resolvido.

O problema: muitos tutores não conhecem esse tipo de alternativa. Era o caso da estudante de veterinária Isadora Borba, 23 anos, de Porto Alegre (RS). “Tenho um cachorro idoso, que usa medicação de forma contínua. Sempre foi difícil administrá-la. Ele ficava nervoso, cuspia o remédio. Então comecei a buscar em sites no exterior, para ver se existia algo que pudesse ajudar nesse processo.”

Nessas pesquisas, Isadora encontrou as rações gringas com receptáculo para comprimidos. E viu uma oportunidade ali. “Nos estágios que eu já tinha feito pela universidade, na área clínica, todo mundo costumava reclamar sobre a mesma dificuldade.”

Nota: já existiam versões brasileiras desse tipo de produto, mas não era algo fácil de achar nos pet shops. A universitária da Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) percebeu, então, que havia uma lacuna no mercado pet pronta para ser explorada.

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E que mercado. Em 2006, o faturamento da indústria nacional de produtos para animais de estimação foi de R$ 3,3 bilhões. Em 2020, já eram R$ 27 bi – com o nicho de alimentação respondendo por 75% do bolo. Também não faltava espírito empreendedor em Isadora. “Desde pequena eu gostava de fazer coisas para vender. Pulseiras, sabonetes artesanais.”

A fome e a vontade de comer acabaram se unindo graças a uma iniciativa da UFRGS. A universidade tem um programa de fomento de startups, chamado Iniciação Empreendedora. É uma bolsa que paga R$ 400 por 13 meses aos estudantes contemplados e, mais importante, fornece auxílio do corpo docente para a evolução dos projetos.

Para concorrer, você precisa apresentar uma ideia de negócio, e já chegar com uma equipe formada – por colegas e mais um professor da universidade, que vai atuar como mentor do grupo.

Isadora, então, convidou seu professor de nutrição veterinária, Luciano Trevizan, e o amigo Lucas Fortes, estudante de administração. Nascia ali o projeto do MedSnack: petiscos caninos feitos sob medida para a administração de medicamentos.

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O grupo foi aprovado na edição de 2020 da Iniciação Empreendedora. “O professor me deu todo o auxílio para o desenvolvimento da fórmula, enquanto o colega da administração me ajudou com a parte de gestão”, conta.

O petisco desenvolvido por Isadora.
(Diego Lopes/VOCÊ S/A)

O desafio foi chegar a uma fórmula ideal. Não é simples: a massa deve seguir moldável depois de assada e ser tão palatável quanto uma ração comum – o risco é que o gosto mais forte, camuflador de remédio, resulte em algo desagradável para o bichinho.

“Demorei quase um ano, fazendo tudo em casa, já que os laboratórios da universidade estavam fechados por causa da pandemia. Testava com o meu cachorro para ver se ele aceitava.”

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Depois, Isadora buscou nas redes sociais voluntários que topassem testar com os seus cães também. E diz ter obtido uma taxa de aprovação de 97%. Era meio caminho andado. Com a versão final da receita em mãos, faltava tirar o plano de negócios do papel.

Frebo Pet

Terminada a bolsa, o professor e o amigo saíram do projeto. Isadora, porém, seguiu firme. Comprou equipamentos para produzir os petiscos em grandes quantidades, buscou um lugar que obedecesse às normas sanitárias para a fabricação de alimentos, encomendou embalagens e criou a identidade visual do MedSnack.

Para vender as caixinhas de petiscos especiais, criou um site de e-commerce chamado Frebo Pet, em maio de 2021. E começou a receber as primeiras encomendas, de donos de pet shop.

Fazendo tudo por conta própria, é claro que ela passou por alguns sufocos. “Um dia antes do lançamento do site, as embalagens chegaram com as cores erradas. Depois, ainda tive que lidar com uma máquina que estragou quando eu precisava entregar um pedido de 100 unidades.”

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Nada que não pudesse ser contornado. E a demanda foi crescendo. Em julho, ela fornecia petiscos para dez lojistas. Hoje, já são 50 pontos, em cinco estados – Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia.

Nesse meio tempo, o produto também chamou a atenção da Cobasi, que tem presença nacional e um marketplace com mais de 20 mil itens. “Três meses depois do lançamento, eles vieram nos procurar. Me mandaram um WhatsApp dizendo que tinham visto um anúncio nosso e que queriam colocar o MedSnack lá. Para mim, foi um reconhecimento muito grande”, conta Isadora.

Agora a empreendedora aumenta suas apostas. Em novembro, com apenas seis meses do início da Frebo Pet, ela lançou uma versão do MedSnack para gatos. Adaptou os ingredientes para chegar a um sabor que agradasse o paladar dos felinos e mantivesse a finalidade principal: tornar os remédios imperceptíveis.

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Atualmente, as duas versões do MedSnack são os únicos itens disponíveis na Frebo, mas a ideia é ampliá-lo. “Quero que a Frebo seja uma marca que una várias linhas de produtos. Meu propósito é criar mais soluções para o cotidiano de pets e tutores. Em breve, pretendo apresentar uma para mau hálito, por exemplo.”

Ela também trabalha para tornar os petiscos mais conhecidos no mundo dos pet shops. Seu plano é fazer parcerias com representantes comerciais autônomos, que apresentem o produto Brasil afora. Em outra frente, envia MedSnacks como mimo para influenciadores digitais, em troca de exposição nas redes.

Isadora junto a um cão consumindo seu produto.
(Diego Lopes/VOCÊ S/A)

De acordo com Isadora, o negócio ainda não dá lucro. O faturamento fica na faixa de R$ 8 mil por mês, e é totalmente revertido para a operação. Mesmo assim, ela diz que não pretende ir atrás de investidores por enquanto. “Até agora, consigo caminhar com as próprias pernas, investindo dinheiro meu e da Frebo. Enquanto isso for possível, acho que é o ideal”, explica.

Em paralelo à trajetória construída até aqui, Isadora tem trabalhado na alteração do prazo de validade do MedSnack. Desde o lançamento, ela tinha ciência de que 70 dias (a que o produto tem hoje) não bastavam – afinal, lojistas demoram mais do que isso para conseguir vender seus lotes. Por isso, mesmo sem interromper as vendas, ela refez a fórmula e encaminhou uma nova versão para os testes necessários. Agora, está esperando o resultado da análise de laboratório que deve confirmar a extensão do prazo para seis meses – o que deve ajudar nos negócios.

Enquanto isso, ela também precisa dar conta da faculdade. Um bocado de responsabilidades para uma empreendedora tão jovem. Mas Isadora tem tudo para tirar de letra, pois sobra foco ali. “A Frebo é meu plano A, B e C. O mercado existe e o produto tem potencial. Se tiver sucesso é porque fui pelo caminho certo. Se fracassar, será por minha causa também.”

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