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Este brasileiro conta como é reabrir negócio nos EUA em meio a pandemia

Dono de um dos restaurantes de comida brasileira mais tradicionais da Flórida, Leonardo Charamba reabre unidade e compartilha aprendizados

Por Mariana Poli, da VOCÊ S/A
Atualizado em 15 Maio 2020, 09h57 - Publicado em 14 Maio 2020, 17h00
Leonardo chamarra
Leonardo Charamba, proprietário do Camila´s, em Orlando: "Grande desafio do ramo alimentício será a segurança, ao lado da comida boa e do preço justo"  (Camila´s/Divulgação)
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O pernambucano Leonardo Charamba se mudou para os Estados Unidos em meados dos anos 90 em busca de uma oportunidade. Encontrou emprego como garçom no Camila´s, um dos mais tradicionais restaurantes de comida brasileira na Flórida. Foram 15 anos trabalhando na unidade de Orlando. Primeiro como garçom, depois como chefe dos garçons e, por fim, como gerente.

Em 2012, quando o antigo proprietário decidiu vender o negócio, ele e o sócio, Alex Alencar, paraibano que também começou no local, mas como lavador de pratos, juntaram as economias e compraram as duas lojas, de Orlando e Miami.

Sob o comando da dupla, os restaurantes, que têm clientes como Fernando e Sorocaba, Péricles, Giovanna Antonelli, cresceram 40%. Até que veio a crise do coronavírus. Obrigados a fechar as portas, Leonardo e o sócio viram o faturamento cair 85%. Atuando só com delivery desde o dia 20 de março, no final de abril os dois receberam a notícia de que poderiam reabrir a unidade de Orlando (Miami ainda não está flexibilizando o isolamento). E, no último dia 4 de maio, decidiram reabrir o salão para os clientes.

Governada pelo republicano Ron DeSantis, a Flórida é um dos estados norte-americanos que entraram na chamada Fase 1, que permite a abertura parcial de alguns estabelecimentos, entre eles os restaurantes – bares, pubs e discotecas, que obtêm ao menos 50% dos lucros com bebidas alcoólicas, seguem proibidos de operar. Os Estados Unidos são considerados o atual epicentro da doença – com mais de 1,3 milhões de casos confirmados e 82 mil mortes. Ainda assim, os empreendedores retomaram as atividades.

Em entrevista a VOCÊ S/A, Leonardo revela por que tomaram essa decisão, fala da ajuda que receberam do governo norte-americano para manter o negócio em pé e compartilha os aprendizados nos primeiros 10 dias de reabertura. “Ficamos fechados por 44 dias. Alguns restaurantes decidiram reabrir só na Fase 2, mas nós quisemos fazer isso na primeira fase porque acreditamos ser importante nos habituarmos à nova realidade.”

Segurança dos empregados
“Nos Estados Unidos os processos são rígidos e existe muita fiscalização. O DBPR [Department of Business and Professional Regulation, que regulamenta o setor] criou uma série de novas normas. Só podemos operar com 25% do restaurante [a unidade de Orlando tem capacidade para 250 pessoas; e a de Miami para 550]. Além disso, precisamos medir a temperatura de todos os nossos funcionários, conservando o prontuário de cada um deles para apresentar aos fiscais. E não podemos ter ninguém com mais 65 anos trabalhando. Todos os nossos  colaboradores – tanto os da cozinha quanto os da linha de frente – usam máscaras e luvas. O único autorizado a ficar sem as luvas é o barman. Mas ele deve lavar as mãos a cada drinque preparado. Há 40 dias, prevemos que seria difícil conseguir máscaras, luvas e álcool e começamos a comprar esses materiais.”

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Preparando o ambiente
“A lei manda que haja álcool em gel com sensores na porta, para que as pessoas não toquem em nada ao entrar. Precisamos manter as mesas distantes no mínimo 1,80 m umas das outras e ter um pote de álcool em gel em cada uma delas. Também sinalizamos o piso onde há formação de filas com adesivos para mostrar onde cada um deve ficar e abrimos duas portas, uma de entrada e outra de saída, com setas pelos corredores para que os clientes não se cruzem.”

Impacto no negócio
“Na primeira semana de quarentena, nosso faturamento caiu 85% nas duas unidades. Quando começamos com delivery, subimos um pouco. Mas, mesmo com a reabertura, o movimento segue ruim. Com queda de 70% no rendimento, tivemos de demitir. Antes da pandemia, o quadro era de 65 funcionários, 80% deles imigrantes legalizados do Brasil e da Venezuela. Agora somos em 20. Para nós é muito difícil toda essa situação, pois desligamos profissionais que, assim como nós, deixaram seus países por um sonho. Mantemos contato próximo com todos eles e queremos que tudo se resolva o quanto antes para trazê-los de volta.”

Auxílio do governo
“Entramos num plano de ajuda do governo federal chamado PPP [Paycheck Protection Program]. O auxílio chegou rápido. Preenchemos um relatório e enviamos uma comprovação da nossa folha de pagamento de 2019. Recebemos um valor correspondente a dois meses de salário de pessoal. Quem usar o montante exclusivamente para pagar pessoas, terá um abono. Uma das cláusulas afirma que se o dinheiro for utilizado só para honrar salários, 70% da dívida é perdoada. Se utilizarmos para outros fins, como aluguel, teremos de devolver 100% para o governo, em 30 anos e com juros anuais de 1%.”

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Desafios pós-pandemia
“O grande desafio é mostrar aos clientes que estão seguros vindo aqui. Temos conversado bastante com outros empresários e chegamos à conclusão de que há uma mudança no comportamento do consumidor. De agora em diante, além da qualidade da comida e do preço justo, eles vão avaliar a segurança.”

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