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O segredo dos maiores executivos do país? Este bar exclusivíssimo no coração dos Jardins

De dia, uma loja de doces. De noite, um bar em que o topo da pirâmide corporativa se reúne para confraternizar e fechar parcerias milionárias. Conheça a Sweet Secrets, doce segredo de David Politanski e Felipe Lombardi.

Por Sofia Kercher
Atualizado em 5 ago 2024, 13h24 - Publicado em 5 ago 2024, 12h00
letreiro rosa e branco escrito "sweet secrets"
 (Divulgação/VOCÊ S/A)
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issão da noite: conhecer um bar ultraexclusivo e pseudo-secreto em São Paulo. 

Cá para nós: não é exatamente o tipo de estabelecimento que tenho costume de frequentar. Sendo entusiasta de botecos que levam o nome do dono, têm metade de seus espaços de confraternização na calçada e cardápio formado por friturinhas, litros de cerveja e combinações etílicas de procedência duvidosa, eu não fazia ideia do que esperar. O único toque que eu recebi veio do Alê, meu editor: a entrada do ambiente provavelmente envolveria montar em um cavalo de carrossel. Aquela seria uma noite e tanto. 

Depois de aproximadamente 15 combinações de roupa – adivinhar dresscode de bar secreto não é exatamente a mais fácil das incumbências jornalísticas – e 45 minutos no trânsito paulistano, lá estava eu. O endereço me levou a uma loja de doces, com fachada rosa chiclete e decorações importadas diretamente da fábrica de Willy Wonka. À minha frente, uma fila de colegas de trabalho dividia confidências do expediente, sonorizadas por um carregado sotaque paulistano. Andy, a simpática recepcionista, pergunta meu nome e me entrega uma chave – o cartão de entrada ao doce paraíso. Desbloqueei a infâme porta secreta, neguei subir no cavalo (respeitosamente), e fiz a travessia. Começava ali, oficialmente, minha experiência no Sweet Secrets.

David Politanski, um dos fundadores da parada, me esperava com um copo de gin cheio de água em mãos (para se camuflar melhor no ambiente sem perder a compostura, diz). Sentamos em uma das mesas laterais da casa, que tem forte inspiração nos bares dos Estados Unidos circa 1920 – justamente o berço de todo o conceito speakeasy. Cortesia da lei seca da época, que o executivo fez questão de seguir à risca.

Eu sei, eu sei… Lamento informar, querido leitor, mas esse texto será um exercício de imaginação. Fotos dentro da casa são expressamente proibidas (e descrições minuciosas de minha parte, infelizmente, também). Um adesivo preto com o logo da casa foi prontamente colocado na câmera do meu celular, para eu não me esquecer. Depois de subir (metafórica ou literalmente) na garupa do cavalo e atravessar o portal, stories e seus congêneres virtuais viram pecado capital. O que acontece no Sweet Secrets, fica no Sweet Secrets.

Se servir de consolo, uma rápida pesquisa “Bares EUA 1920” no Google já te dá uma ideia da coisa. É por lá, inclusive, que David passa seu horário comercial: são 11 anos de relacionamento entre ele e a gigante tech de pesquisas, onde ele atua como head de Vendas. 

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A vida de empreendedor, por outro lado, é flerte mais recente. Apesar da vontade sempre ter existido – cortesia de seus pais, ambos donos de seus próprios negócios – o Sweet só ganhou vida em 2021. Mas a ideia já estava na cabeça do executivo havia cinco anos, e começou na guapíssima Buenos Aires. Vamos lá.

Um speakeasy para chamar de seu

O dia de trabalho de David tinha sido dos bons. Depois de fechar um negócio com os hermanos, ele começou a escarafunchar a internet por lugares de comemoração dignos da parceria. Foi ali que recebeu uma indicação de bar de um colega de trabalho. Endereço em mãos, clientes no carro: estava inaugurado o happy hour dos campeões.

O local, você deve imaginar, de bar não tinha nada. Em vez disso, Politanski deu de cara com um restaurante japonês. Questionados, atendentes da casa e clientes fizeram a egípcia. 

Isso não matou a comemoração – comer comida japonesa dificilmente é o pior dos castigos – mas deixou uma pulguinha atrás da orelha do executivo. Foi só na volta para o Brasil que ele descobriu que o dito bar era secreto, e que havia um procedimento para entrar. Bingo.

Ao que tudo indica, o primeiro speakeasy a gente nunca esquece. Tanto que, quase um ano e meio depois, ele retornou à capital do tango, e fez questão de entrar no restaurante-japonês-barra-bar-super-secreto. Foi o primeiro gostinho da exclusividade. E o suficiente para deixá-lo viciado.

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A pira nos speakeasies casou perfeitamente com o momento de carreira do executivo, que assumiu o cargo de liderança no Google. Como uma das exigências da posição era a disponibilidade de carimbar o passaporte com mais frequência, ele passou esse tempo viajando e colecionando experiências como aquela em Singapura, Londres, Nova York e mais uma pá de outras cidades cosmopolitas. 

Tentando encontrar o gostinho doce da exclusividade por aqui, em terras paulistanas, David sentiu o amargor da falta. Segundo o executivo, não havia lugares que replicavam a sensação que encontrou nos bares ocultos mundo afora (e como todo o ponto do negócio é ser secreto, a VCSA não consegue exatamente apurar se isso é fato ou não. Vamos ter de conceder um voto de confiança).

Mais do que isso, David sentia falta, enquanto executivo, de lugares em que poderia se conectar com seus pares, trocar experiências de liderança e, acima de tudo, firmar parcerias de negócio. “Se o CEO do Google vem para o Brasil, onde você levaria ele? Naquele momento, eu não saberia te responder”, conta.

David decidiu assumir a tarefa para si. Depois de meia década rodando o globo, coletando referências e ruminando a ideia, a flexibilidade forçada a todos nós pela pandemia foi o catalisador para que o projeto saísse da cabeça do executivo e ganhasse bases concretas. O primeiro passo? Definir o local.

Comer, beber, bailar e negociar

A ideia inicial de David e de seu partner in crime, o empreendedor Felipe Lombardi, era montar o negócio em uma casa nos Jardins, mas a legislação residencial não era a mais amigável. Depois de esmiuçar a zona sul da cidade, os sócios encontraram um espaço perfeito no bairro, perto de um restaurante com duas estrelas Michelin (o endereço eu também vou ficar devendo – mas o choro é livre e o Google também). 

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A estrutura do lugar, a decoração, os móveis, os mais minuciosos detalhes: praticamente tudo ali foi pensado e feito do zero. Tudo isso pela bagatela inicial de R$ 9 milhões (uma parte de sócios, outra do bolso de Politanski e Lombardi). 

Tentando encontrar o gostinho doce da exclusividade por aqui, em terras paulistanas, David sentiu o amargor da falta.

A segunda etapa foi a definição do cardápio. Ele deixa claro que tem aversão ao achismo: a estrutura da cozinha e decisão dos pratos foi supervisionada pelo chef Luiz Filipe Souza, dono de uma estrelinha Michelin, e os drinks foram desenvolvidos pelo peruano Aaron Diaz, que veio à cidade especialmente para treinar a equipe de coquetelaria.

Como a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte, os meninos contrataram especialistas para fazer a curadoria da música e das atrações que seriam convocadas toda noite. Também contrataram atores para fazer a transição dos convidados de um espaço a outro. 

Falando neles, os sócios optaram por um número simbólico: inicialmente, 100 membros foram selecionados. “Nosso critério foi: pessoas extremamente influentes dentro de seus meios, sem considerar redes sociais”, detalha Politanski. 

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Como a banda toca

(Quase) três anos depois, esses cem membros viraram 250. Mas a exclusividade no Sweet não é instituição homogênea. David e Felipe estão no topo da pirâmide, seguidos de sócio-investidores; embaixadores (que representam a casa e têm prioridade nos eventos); membros pagantes (cerca de 30%), membros e convidados de membros. 

Dois homens brancos sentados, fitando a câmera. O da esquerda esta de calça cinza, sapatos pretos, e camiseta preta. O segundo, sapato branco, calça preta e camiseta preta. O primeiro, loiro. O segundo, moreno.
À esquerda, David Politanski. À direita, Felipe Lombardi. Os dois empresários fundaram a Sweet em 2021. (Divulgação/VOCÊ S/A)

Quanto custa para entrar? David não me conta. Mas diz que ainda não cravou um valor. “Enquanto continuarem me pagando sem questionar, eu entendo que não cheguei num valor que é adequado ao serviço que ofereço”, argumenta. 

Quem entra, quem sai e quem está em qual nível fica a critério de uma távola exclusivíssima de comparsas, que elegem cerca de quatro ou cinco novos membros todo mês. Não existe, hoje, teto máximo previsto para a quantidade de novatos (ele explica que enquanto a galera conseguir circular tranquila pelo espaço, está valendo).

O Sweets monta sua agenda ao redor de três eventos: Insights, Talks e Networking. No primeiro, seis a oito CEOs de grandes empresas são convidados para receber alguns sortudos em mesas íntimas – uma sessão de mentoria on steroids. O segundo é um esquema de palestras sobre temas relevantes, e o terceiro, um evento mais livre (uma confra, vai) para ajudar a estabelecer relações profissionais mais sólidas entre os membros.

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Além disso, os sweet secreters podem fazer eventos corporativos dentro do espaço – estavam rolando dois durante nosso papo. Segundo David, é ali que mora a maior receita da casa.

Sweet dreams are made of this

Tudo isso nos leva à discussão: se um doce segredo vai parar no jornal, ele ainda é um doce segredo?

E não só por aqui, na Você S/A. O speakeasy ganhou notoriedade em outros veículos em 2022, quando viralizou no TikTok. Com fotos e vídeos liberados na loja de doces (que funciona como uma loja normal, aberta ao público), a Geração Z divulgou o endereço e foi à loucura na fantástica fábrica de Politanski.

Quanto custa para entrar? David não me conta. Mas diz que ainda não cravou um valor.

Apesar disso, ele não vê paradoxo. Segundo o executivo, o segredo do sucesso não é, bom, o segredo: e sim a exclusividade. As pessoas sabem que o lugar existe, mas não podem acessá-lo. A mensagem fica clara – e a clientela, satisfeita. 

Inclusive, são percepções como essa que David atribui à sua vida dupla. Mais de uma década no Google trouxe ao executivo uma visão de negócios, experiência de gestão, contratação e capacitação diferenciadas, que permitiram com que o Sweet se tornasse o que é hoje. 

Isso somado, claro, à estabilidade de ter um salário todo fim de mês no Google. Especialmente para um empreendimento como esse, cujo retorno inicial era negativo. “Um me dá a confiança que eu preciso para investir no outro”, resume o executivo. O melhor dos dois mundos.

Doce futuro

Ao som de The Thrill Is Gone, clássica de B.B King, meu papo com David se encaminhava ao fim. A última pergunta anotada no meu caderno era um acompanhamento dos planos de expansão da casa, amplamente defendidos pelo seu sócio na primeira batelada de entrevistas concedidas alguns anos atrás.

Segundo o executivo, o segredo do sucesso não é, bom, o segredo: e sim a exclusividade. As pessoas sabem que o lugar existe, mas não podem acessá-lo.

Ao que tudo indica, eles estão sem pressa. Apesar da expansão estar nos planos, ela ainda não aconteceu: David argumenta que ainda há muito potencial inexplorado no paciente-zero do Sweet, e eles querem entender o limite para reproduzir o empreendimento de maneira mais lucrativa no futuro. Futuro esse que pode ser no Brasil ou lá fora – a ver.

Acima de tudo, o executivo quer fazer o possível e o impossível para deixar um legado de autenticidade. E que ela, somada à decoração, à performance artística, aos drinks autorais, às comidas Michelin, seja o catalisador de grandes e prósperos negócios. Firmados ali, comemorados ali. O ciclo doce do sucesso.

Depois de quase duas horas de papo, me despedi de David, entreguei a chavinha do paraíso e voltei à realidade. Na hora de chamar um Uber para casa, notei o adesivo do Sweet, ainda colado na minha câmera traseira. Me gera uma sensação agridoce. Provavelmente fruto de sair de um lugar que eu não poderia voltar mais (a escassez, afinal, mexe até com a mais cética das jornalistas). Mas a emoção foi breve. Aos bares de procedência duvidosa, nós sempre teremos direito – e isso me basta, sempre. Saúde! 

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