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Startup cresce ajudando caminhoneiros autônomos a encontrar cargas

Em 2019, a Truckpad alcançou um milhão de caminhoneiros e movimentou 700 milhões de reais em cargas. Para 2020 o objetivo é chegar em 2 bilhões

Por Monique Lima
Atualizado em 1 abr 2020, 11h41 - Publicado em 27 mar 2020, 15h00
Com 250 funcionários, o objetivo da startup é chegar a 600 em 2020 (Truckpad/Divulgação)
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Praticamente tudo que é utilizado em nossa sociedade passa por um caminhão. Essenciais para a economia, os caminhoneiros movimentam 60% da demanda de mercadorias do país, percorrendo os 1,7 milhões de quilômetros em estradas que cobrem o território nacional, de acordo com os dados da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam). O modal ferroviário é o segundo mais utilizado, com 21% das cargas, enquanto o aquaviário detém 14% e o aéreo 5%.

Em meio à crise do coronavírus, a demanda pelo transporte de diversos produtos diminuiu, mas para outros produtos explodiu como, por exemplo: alimentos, sabão em pó, desinfetante e detergente, álcool gel, água sanitária, produtos de higiene, medicamentos, produtos farmacêuticos e hospitalares.

A rotina dessa profissão, resumidamente, consiste em receber a carga da transportadora e conduzi-la ao destino.  Para profissionais que são contratados por empresas, o fluxo é simples – entregar e receber –, porém, para os motoristas autônomos (que usam caminhão próprio, sem vínculo com nenhuma empresa) essa captação não é orgânica. Dependentes de agenciadoras para encontrar fretes, muitos passam dias, até semanas, sem conseguir fechar uma nova viagem.

É aí que entra o Truckpad. Fundada em 2012, a startup identificou uma lacuna no segmento e atua como marketplace. Seus clientes são caminhoneiros independentes em busca de mercadorias e companhias que não possuem veículos próprios ou terceirizadas para transporte. Em 2019, a startup movimentou 700 milhões de reais em frete e conquistou o aporte da chinesa Full Truck Alliance (FTA), plataforma global, similar a brasileira.

A aventura de uma startup

Durante toda sua vida, Carlos Mira, 52 anos, trabalhou na empresa da família. Sócio do empreendimento, ele conhecia as falhas e dificuldades da área, o que o levou a desejar uma solução. Em 2011, numa visita ao Vale do Silício, ele teve a ideia do Truckpad e voltou disposto a coloca-la em prática. “Vendi a minha parte na transportadora e com um caderno debaixo do braço fui para a Endeavor [organização de apoio a empreendedores ao redor do mundo] aprender a montar uma startup”, diz Carlos.

Com um investimento inicial na casa dos 100.000 dólares, os primeiros passos foram para montar um MVP (Produto Mínimo Viável) que comprovasse que o aplicativo era funcional. “Foi bem na linha startupeiro mesmo, com reuniões no starbucks e pitchs em todos os eventos possíveis”, conta. Ainda com os negócios em fase inicial, a empresa ganhou o prêmio Startup Weekend, em 2013 e Carlos foi convidado a passar pela aceleração Plug and Play, no Vale do Silício.

A incubação se iniciou em 2014 e durou seis meses. “Lá eu me conectei com os melhores e mais talentosos profissionais de tecnologia, que me ajudaram muito. Foram várias dicas que oxigenaram o aplicativo”. A partir daí as coisas começaram a acontecer mais rápido. A empresa terminou o programa como a startup mais inovadora do ano e com novos investimentos da LBS Local, grupo dono da Maplink e do Apontador, da Movile, que controla o iFood e Sympla, e da própria Plug and Play.

As parcerias que se seguiram foram com grande foco na estratégia do negócio. Em 2016, Carlos assinou um acordo de sociedade com a Mercedes-Benz e deu início ao Corporate Partners, setor da startup que oferece Business Intelligence às empresas, em troca de serviços diferenciados para os caminhoneiros. Hoje, nomes como BOSCH, ZF (Freios Varga, Sachs, TRW), Michelin Pneus, Filtros MANN, Vinilona Sansuy, Sascar Rastreamentos, Mapfre Seguros e SKF Rolamentos, estão associados à plataforma.

Como funciona o Truckpad?

O objetivo do Truckpad, segundo Carlos, é melhorar a jornada do caminhoneiro autônomo oferecendo soluções focadas. “Conversei com motoristas que chegavam a rodar semanas para encontrar um frete dentro da rota deles”, conta Carlos. E, complementa. “Os terminais de carga são um caos, com um monte de gente berrando oferecendo frete e os motoristas disputando. E o caminhoneiro ainda paga taxas enormes para o agenciador”.

O Truckpad oferece um aplicativo com soluções de geoposicionamento e curadoria em que o motorista consegue encontrar a carga de acordo com sua localização, assim como as transportadoras. Ao selecionar um caminhoneiro, a empresa visualiza todas as informações profissionais, como quantidade de viagens feitas, feedbacks recebidos, documentos, além de autorizações de seguradoras e gerenciadoras de risco.

O mesmo é obtido na contrapartida do caminhoneiro, que verifica qual é a empresa, as cargas transportadas, feedback de tratativas e regularização documentais. “Tudo isso é um serviço de tecnologia fundamental para os envolvidos. É uma segurança que oferecemos para os dois lados e um diferencial que agenciadoras não conseguem dar”, explica Carlos.

O serviço é pago pelas companhias que contratam o frete em um modelo de assinatura da plataforma (por 59 reais) ou com um percentual à startup por cada operação (que varia de 0,5% até 2,%). Já o caminhoneiro não tem nenhum custo para utilizar os serviços.

Projeções

Até o momento, já foram efetuados 1,2 milhão de downloads, com 400 mil motoristas autônomos cadastrados. Carlos deseja alcançar a cobertura total dessa frota, estimada em 2,77 milhões pela CNT (Confederação Nacional do Transporte). Para 2020, o empreendimento projetava uma movimentação de 2 bilhões de reais. Mas a previsão foi feita antes da pandemia de coronavírus.

Alcançar esse número não vai ser fácil, mas para isso o Truckpad planeja aumentar o seu quadro de funcionários. Atualmente, o time conta com 250 colaboradores. A sede da empresa fica no bairro Higienópolis, em São Paulo. Até julho deste ano, a expectativa era chegar em 600 funcionários. “O objetivo é grande e para isso precisamos de pessoas apaixonadas e que estejam dispostas a fazer esse sonho acontecer”, diz Carlos.

Também para 2020, a expectativa era de início do serviço de mobile commerce para os usuários da plataforma. A ideia é utilizar os dados coletados para oferecer produtos e serviços focados, com descontos exclusivos e possibilidade de instalação ao longo da rota dos motoristas. “Quando eu começo a entender a performance do cara, onde vai, o que precisa, como o caminhão está, posso oferecer peças, produtos e serviços de forma assertiva”, afirma Carlos.

A experiência de conhecer algumas gigantes de tecnologia no Vale do Silício ensinou o executivo a não pensar pequeno — e a colocar o crescimento da plataforma em primeiro lugar.

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