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Como proteger seus investimentos em 2022

Veja como devem se comportar os ativos em um ano de juros altos, pressão inflacionária, recessão batendo à porta e, para coroar tudo, eleições.

Por Tássia Kastner | Design e colagens: Caroline Aranha
10 dez 2021, 07h15
colagem com pessoa começando uma escalada. Os investimentos são os alvos
 (Caroline Aranha/VOCÊ S/A)
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Bolas de cristal vêm com um defeito de fábrica: elas são ruins quando o assunto é investimentos. Por isso as recomendações são sempre de pensar no longo prazo, coisa de três anos para cima. Com tempo, o efeito dos juros compostos começa a surgir, e o dinheiro passa a produzir mais dinheiro com menos esforço.

Só não precisa investir e esquecer o dinheiro lá. Ajustes de rota são importantes, especialmente quando um ano tão turbulento se avizinha. Estamos falando de você, 2022.

Além da eleição presidencial, que tradicionalmente deixa investidores estressados, o Brasil e o mundo lidam com a inflação elevada. O combate às altas nos preços já fez os juros subirem com força por aqui, e os Bancos Centrais do resto do mundo sinalizam que vão fazer o mesmo nos próximos meses.

Isso turva o horizonte. Economistas passaram mais de três meses revisando as estimativas de inflação e a taxa de juros para 2021 e 2022*. A principal razão foi a mudança de rota do governo, que decidiu abrir o cofre e gastar mais no ano eleitoral. Isso turbina a inflação e força o Banco Central a subir mais os juros.

E uma Selic em alta tira automaticamente a atratividade da bolsa, já que o retorno da renda fixa, mais segura, aumenta. As ações precisam pagar dividendos maiores para compensar o déficit. O problema é que o juro alto torna essa tarefa mais difícil: ele faz o consumo diminuir, o que baixa o lucro, e a fonte dos dividendos seca. Significa que você precisa sair vendendo suas ações? Não necessariamente. Aqui vão seis investimentos para 2022 e o que é preciso saber sobre eles.

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Tesouro Selic

Você não vai querer entrar em 2022 sem um airbag para te proteger das batidas inevitáveis e cada vez mais fortes do mercado financeiro. É para isso que servem investimentos tipo o Tesouro Selic, o título público que rende a taxa básica de juros da economia.

Ele é importante para duas coisas. A primeira é ser sua reserva de emergência, aquela grana que equivale a pelo menos seis meses dos seus gastos (ou até um ano, se você for PJ) e que serve para cobrir imprevistos de qualquer tipo.

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Vários deles assombram. Neste momento, o mercado financeiro aposta que a economia brasileira voltará para a recessão em 2022. Isso significa que o desemprego, hoje acima de 13%, continuará bastante alto. Há ainda a inflação, que deixou o orçamento de todo mundo com menos folga, e aí ter a grana extra num investimento seguro (que não traz perdas) e líquido (fácil de sacar) se torna essencial para evitar dívidas.

Muita gente desanimou do Tesouro Selic porque ele estava rendendo menos do que a inflação – o problema tradicional da caderneta de poupança. Ainda está: enquanto o IPCA acumulado em 12 meses está 10%, o juro do país vai fechar o ano na casa de um dígito. Quer dizer: nos últimos 12 meses, R$ 10.000 investidos precisariam se converter em
R$ 11.162 só para que você mantivesse o poder de compra.

Esse tipo de investimento não é só airbag; é também amortecedor. Eis o segundo motivo para tê-lo: como ele rende um cascalhinho todos os dias, não sofre com as oscilações de mercado dos outros investimentos. Aí, se o resto do seu dinheiro está despencando por um motivo qualquer, essa fatia em Tesouro Selic segura a barra. Quer ver?

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Pegue R$ 100 mil. Investidos no Tesouro Selic, eles teriam rendido R$ 3.350 nos últimos 12 meses. Total: R$ 103.350. Se você tivesse colocado os mesmos R$ 100.000 em um fundo ETF que replica o Ibovespa, teria fechado o período com R$ 95.160. Se você tivesse dividido o dinheiro – 50% em Tesouro Selic, 50% na bolsa –, teria minimizado o estrago. Os R$ 100.000 teriam virado R$ 99.255.

Continua pouco animador, afinal é um prejuízo. Como a gente disse, Tesouro Selic é instrumento de proteção. Mas, para garantir que seu dinheiro mantenha ou aumente o seu poder de compra no longo prazo, você precisa de outros investimentos. O que nos leva ao item número 2.

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Tesouro IPCA+

O presidente do Banco Central tem um grande trabalho: controlar a inflação e levá-la para a meta. E, bem, ele tem dito que está difícil cumprir essa tarefa, enquanto o mercado financeiro afirma que o BC perdeu o controle. Isso significa que os preços podem continuar a subir por mais tempo do que a sua conta bancária gostaria.

Péssimo, mas esse copo tem um lado meio cheio. Quando a inflação está em alta, o mercado financeiro passa a apostar em juros cada vez maiores. Nisso, outro título público passa a pagar rios de dinheiro: Tesouro IPCA+.

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Eles estão rendendo coisa de 5% ao ano mais o IPCA – em 2020, pagavam só 3%. Ganho real, acima da inflação, de 5% ao longo de anos e anos é algo capaz de garantir uma aposentadoria.

Se você investisse R$ 10 mil hoje e fizesse novos aportes de modestos R$ 100 todo mês, chegaria em 2045 com R$ 126 mil líquidos (já descontados os impostos) – e o valor investido terá sido de apenas R$ 38,1 mil. Eis a mágica dos juros compostos, que o IPCA+ traz para você como nenhum outro título público. Só uma observação: isso leva em consideração que suas novas compras serão com o mesmo rendimento de 5%, o que está longe de ser a regra, mas já passa uma ideia.

Em 2022, conforme as eleições avançam, existe a chance de esses 5% ficarem ainda mais gordinhos. É que normalmente investidores temem mudanças, e cobram mais para emprestar ao governo. Aí a taxa do Tesouro IPCA+ sobe.

Tem um detalhe importante: se você investiu antes, seu dinheiro vai parecer menor lá na conta da corretora. Mas é só manter a grana quietinha que a sua rentabilidade tá garantida.

E outra coisa deve mudar para 2022. A inflação ficou alta não só no Brasil, mas no mundo todo. É resultado de um excesso de dinheiro que os governos injetaram nas suas economias para impedir um colapso durante a pandemia. Além disso, a produção de bens caiu, também por causa da pandemia. Com mais dinheiro em circulação e menos produtos para comprar, os preços sobem (note que o dinheiro extra nem precisa chegar a toda a população para que isso aconteça; basta o topo da pirâmide ter mais dinheiro para dar início a disparadas nos preços).

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Em 2022, países ricos devem começar a subir juros. Foi quando investidores estrangeiros começam a tirar dinheiro do Brasil em busca do colo mais seguro dos títulos públicos americanos. Para continuarmos atraentes, nós precisamos subir mais os juros aqui. Assim, surgem as oportunidades na renda fixa – como essa do IPCA+ pagando 5% de juro real. Isso é uma má notícia para renda variável, porém.

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ETFs

A bolsa brasileira bateu a marca de 4 milhões de investidores em 2021. Mas, conforme os juros começaram a subir, esse povo começou a resgatar uma parte do dinheiro em busca da renda fixa. Natural. Quem investe em empresas faz isso na expectativa de ganhar mais do que levaria emprestando para o governo, ou em qualquer outro produto de renda fixa (CDBs, LCIs etc.).

Tem um problema de expectativas também. No início de 2021, bancos e corretoras apostavam que o Ibovespa bateria os 150 mil pontos – os mais conservadores estimavam 130 mil pontos. Isso daria uma valorização entre 9% e 26%. Em junho, chegamos aos 130 mil (um recorde), mas desde então a bolsa sofreu um tombo feio. Agora, só um milagre impediria o principal índice da bolsa de fechar no negativo.

Em 2022, a coisa vai ficar ainda mais complicada. O Morgan Stanley prevê o Ibovespa em 120 mil pontos ao fim de 2022 (basicamente o patamar do final de 2020, por sinal). A Ativa Investimentos fala em 117 mil. O Bank of America fez um levantamento em novembro com gestores de fundos e descobriu que só 31% dos entrevistados acreditavam que o índice poderia ir acima de 120 mil pontos no ano que vem.

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Tem a ver com as expectativas para a economia brasileira. Com o juro mais alto, o dinheiro fica mais caro. E aí fica mais difícil para as empresas investirem, enquanto as pessoas consomem menos. O resultado é que a economia encolhe, e leva junto os lucros das empresas.

Como o preço das ações depende de quanto essa empresa pode lucrar, a bolsa também entra em uma espiral negativa. Isso significa que os ETFs, os fundos que copiam índices de ações, tipo o Ibovespa, podem entrar em um inverno rigoroso. Por outro lado, se você acreditar que crises são passageiras e que logo o mercado retomará sua trajetória de alta, terá uma oportunidade de comprar barato.

Existem também os ETFs setoriais e temáticos, que seguem índices de small caps (empresas menores, com mais potencial de crescimento) ou só ações de tecnologia, por exemplo. Eles começaram a surgir na bolsa neste ano, mas devem se tornar ainda mais arriscados, já que alguns setores podem se dar ainda pior do que o resto do mercado – e a bola de cristal não consegue prever quais se darão melhor.

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Stock picking + dividendos

A crise traz um outro lado. Há quem acredite que a volatilidade de 2022 pode ser uma boa janela para comprar ações de empresas sólidas, capazes de resistir a intempéries na economia, a preços módicos. Essa é a estratégia Warren Buffett de investir, por sinal.

O jeito é procurar por empresas que vendem produtos de que você não consegue abrir mão mesmo em momentos de aperto financeiro. Numa crise, todo mundo adia a compra de uma geladeira nova, mas não tem como deixar de comer.

Frigoríficos têm se saído bem em 2021 em parte por causa disso. As ações da Marfrig acumulam alta de mais de 70% no ano, enquanto as da JBS sobem 50%. Não há no horizonte nada que possa mudar a trajetória dessas empresas, mesmo com os tropeços da economia brasileira. Até porque elas produzem e vendem mais lá fora do que aqui no Brasil.

Gente mais ousada já colocou na lista de ações defensivas a Petz, já que consumidores também têm resistido a reduzir gastos com seus animais de estimação (veja mais na página 18).
Não dá para parar de comer. Nem de tomar banho – e aí entra o gasto com a conta de luz, que alimenta os lucros das empresas de energia. Então as listas defensivas costumam contar com essas companhias. E com bancos também, já que eles ganham mais dinheiro quando a taxa de juros sobe.

Por outro lado, caçar dividendos deve se tornar uma tarefa mais difícil. Na média, o dividend yield do Ibovespa é de 4%. Empresas generosas com seus acionistas costumam pagar perto de 10%. Só que, com o juro acima dessa faixa em 2022, esse tipo de estratégia de investimento fica menos atrativa.

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Dólar

“Se fizer muita besteira, o dólar pode ir a R$ 5”, disse Paulo Guedes em março de 2020. Bem, ele foi para R$ 5 e continuou subindo. O patamar do câmbio para 2022, segundo boa parte dos economistas, é de R$ 5,50.

Isso significa o seguinte: tentar investir diretamente em dólar, comprando moeda ou um fundo cambial, pode ser arriscado para chuchu, já que as previsões do mercado financeiro indicam que ele pode estar no teto. Muita atenção a esse pode. Diz o ditado que o câmbio existe para ensinar humildade aos economistas: cravar o valor futuro do dólar é sempre um chute.

Mesmo assim, ter investimentos atrelados ao dólar continua sendo uma boa ideia. Fazer isso permite que você dilua o risco de ser brasileiro em ano de eleição (em qualquer ano, na verdade). E dá para colar no dólar de várias maneiras. Uma delas é comprar na B3 ETFs que replicam índices de ações lá de fora, caso do IVVB11, um fundo que segue o S&P 500, o clube das 500 maiores empresas dos EUA.

Um segundo jeito é comprar BDRs de ações gringas. O importante aí é a filosofia lá do item 4: buscar empresas com potencial de continuar crescendo e
dando lucros mesmo sob um cenário econômico adverso no mundo todo.

Por fim, você também pode abrir uma conta em uma corretora lá fora e comprar ações diretamente, em dólar. Pelo menos três delas facilitam o processo de abertura de conta para brasileiros, e falam português com você, caso da Avenue, da Passfolio e da Stake.

Mas cuidado: o S&P 500 está nas suas máximas históricas e a alta de juros nos EUA prevista para o próximo ano também pode sacudir o mercado de lá.

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Cripto

Isso é para quem gosta de aventuras, afinal criptomoeda é a epítome perfeita de especulação. Elas não são moedas de verdade e tampouco são um ativo, já que não têm valor intrínseco (diferente de ações, cujo lastro é o lucro das empresas, ou mesmo do ouro, que tem o valor sustentado pela demanda da indústria de joias). Quem compra cripto só faz isso porque espera que alguém vá topar comprar mais adiante por um preço ainda maior. De fato, tem acontecido, tanto que o bitcoin acumula alta de 112% no ano. O ethereum, espetaculares 500%.

Existem mais de 13 mil criptomoedas. Nisso, a chance de golpe vai para a estratosfera. Aconteceu com gente que se jogou na Squid, uma cripto cujo nome era inspirado na série Round 6, da Netflix (que nada tem a ver com a tramoia). Ela se valorizou 28.000.000%, mas em cinco minutos virou pó. Os criadores desse esquema venderam tudo e embolsaram pelo menos US$ 3,5 milhões. Quando o público percebeu que era cilada, o valor caiu a zero.

Também não convém comprar criptomoedas com base nas ondas, como os tuítes de Elon Musk. O dono da Tesla move o mercado a cada postagem, e pode levar você a prejuízos. Aconteceu quando ele anunciou que estava abandonando o bitcoin por causa da poluição que a mineração da cripto causa – os supercomputadores que escavam novas moedas consomem muita energia, e o carvão ainda é a principal fonte.

Mais um detalhe. Comprar e vender criptos pode sair caro: existem taxas para negociar e para saque do dinheiro em reais. Elas chegam a custar R$ 10 por operação, mas a corretora também pode cobrar um percentual do valor. Se você for retirar R$ 1.000, deixa para a exchange algo como R$ 15. Uma alternativa para quem quer entrar nessa, mesmo sabendo que o risco de perder tudo é real, são os ETFs em negociação na B3, caso do HASH11 (que investe em uma cesta de criptos) e do QBTC11 (só de bitcoins). Mas eles também têm taxas relativamente altas para ETFs – até 1,3%, contra 0,3% ou menos dos normais.

Dito isso, um dos argumentos pró-cripto é que elas se comportariam de maneira oposta a outros investimentos de risco. Ou seja, quando a bolsa cai, elas sobem. Mas não é o que acontece. Por fim, não custa repetir. Mesmo investidores experientes, se são sérios, mantêm no máximo 5% do dinheiro em criptos. Se algo der errado, é só o dinheiro do cassino.

*Segundo as estimativas do Boletim Focus, que o Banco Central recolhe semanalmente.

 

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