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Na maratona dos investimentos, mulheres largam no pelotão de trás, diz especialista em finanças pessoais

Ana Leoni trabalha com educação financeira há 16 anos. No portal Dinheiro com Atitude, ela tenta ajudar mais mulheres a cuidarem do próprio dinheiro.

Por Guilherme Eler, Tássia Kastner
12 Maio 2021, 10h10
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 (Ana Leoni/Divulgação)
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O número de mulheres investindo na bolsa alcançou, no final de abril, uma marca histórica: 1 milhão de cadastros. Isso significa que, desde 2018, quando eram apenas 179 mil investidoras mulheres, a participação delas cresceu 590%. CPFs femininos ainda são minoria, é verdade, mas agora representam cerca de 27% do total. O número de investidores homens soma 2,6 milhões.  

Apesar do aumento vertiginoso da participação feminina nos últimos anos, o caminho até o equilíbrio entre gêneros ainda é longo. É o que indica, por exemplo, o relatório “Raio X do Investidor 2020”, feito pela Anbima (Associação Brasileiras das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais).

O levantamento mostrou que 46% das mulheres das classes A, B e C são casadas ou estão em uma união estável. Desse grupo, menos que a metade (48%) possui algum investimento financeiro – o que inclui deixar as economias guardadas na poupança, caso de 81% das entrevistadas. O problema é que hoje a poupança não cobre sequer a inflação.

“Na maratona dos investimentos, as mulheres largam no pelotão de trás. Por quê? A gente ganha menos e tem menos autonomia na gestão financeira”, afirma Ana Leoni, especialista em educação financeira que, por anos, foi superintendente da Anbima. Atualmente ela se dedica ao projeto Dinheiro com Atitude, voltado para mulheres. O trabalho se baseia em desenvolver a autoconfiança feminina. “Quando a gente começa a investir, é muito legal. Eu acho que é um prazer tão grande quanto o do consumo”, diz.

Ana já faz isso há 16 anos. No começo, não conseguia explicar para as pessoas o que era seu trabalho. “‘Cê dá curso, né?’, as pessoas perguntavam.”

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Mas, de 2018 para cá, a coisa mudou. Mais gente começou a se interessar sobre investimentos e finanças pessoais. É que investimento de risco, como a bolsa, só faz sentido quando a renda fixa rende pouco. Em 2016, estávamos com juros de 14,25% ao ano. Em 2018, eles haviam caído para 6,5%. Foi quando o pequeno investidor brasileiro começou a se incomodar com o baixo rendimento da poupança e dos títulos públicos, e passou a buscar alternativas.

“Com uma taxa de juros alta [que era de dois dígitos ainda em 2017], era muitíssimo difícil convencer as pessoas a fazer esse tipo de diversificação. Ou você investia num título público, com risco muito baixo, ou a poupança acabava sendo uma alternativa. Com a taxa de juros de hoje [3,50% ao ano], você tem que fazer um pouco mais de manobra para ter um rendimento, senão seu dinheiro perde valor ao longo do tempo”, diz Ana.

E isso valia para homens e mulheres, claro. O primeiro milhão de investidores da bolsa, por sinal, foi alcançado em 2019. Hoje são 3,6 milhões de CPFs por lá, o que dá a dimensão do crescimento do mercado.

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O lance é que, com a queda dos juros, os homens se jogaram de cabeça na bolsa. E mesmo que o crescimento das mulheres investidoras tenha sido maior, isso é apenas um reflexo estatístico de quão atrás elas estavam.

“O discurso das instituições [de investimento] no passado, em geral, era sobre retorno rápido. Isso não é uma coisa tão valorizada quando a gente tá falando das mulheres. Quando a mulher chega na bolsa, ela costuma chegar com uma avaliação mais correta, de que a bolsa é um lugar para se investir no longo prazo”, avalia Ana.

Isso tem tudo a ver com objetivos financeiros, que a especialista divide em três estágios. “Um é o equilíbrio financeiro, ou seja, a pessoa ter uma renda suficiente para se manter. O segundo é a independência financeira: ter recursos suficientes para passar por uma crise, fazer uma escolha de carreira, comprar uma casa, fazer uma viagem. E o terceiro é autonomia financeira. Isso quer dizer zerar as contas, começar a construir um processo de independência. O que nós, mulheres, mais precisamos é isso, é a autonomia financeira.”

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O problema é que muitas mulheres até trabalham e poderiam ser independentes, mas o dinheiro é controlado pelo marido. “Há pessoas que, às vezes, nem conseguem se separar, porque não têm como gerir os próprios recursos e tocar a vida sozinha. Por conta da dependência financeira, acabam se submetendo a relacionamentos ruins, tóxicos e abusivos.” 

Sem falar que mulheres tendem a gastar uma parcela maior da renda com despesas da família e deixam de investir para a velhice. “Eu tenho 48 anos, muitas mulheres na minha idade não têm nada guardado ainda, mas a gente vai viver possivelmente mais quarenta anos, brincando”, afirma.

Ana sugere uma abordagem diferente para quem quer começar a investir. “Ninguém precisa se tornar especialista em produtos [financeiros]. As pessoas têm que ser especialistas nelas mesmas.”

Isso quer dizer saber o objetivo do investimento. “A primeira coisa é pensar: qual objetivo financeiro você tem? Se a resposta for “Quero comprar uma casa no interior”, é preciso saber em qual cidade, quanto custa, qual é a manutenção que essa casa vai ter. Eu quero me aposentar bem”. Com quantos anos exatamente, e qual renda você precisa ter?  Com isso, você vai saber fazer as perguntas certas [para a corretora ou o gerente de banco] e você vai saber no mínimo se estão te oferecendo alguma coisa que possa soar coerente ou não. A gente nunca vai ter todas as informações possíveis para tomar uma decisão”, sugere.

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