Vacina em novembro começa a tirar o turismo do buraco
Mas a promessa não bastou para animar as bolsas. Nem isso nem a garantia do Fed de juros baixos até a Copa do Qatar. Entenda por quê.
Os EUA anunciaram que terão “uma ou duas” vacinas disponíveis ao público ainda em novembro. A China também. Imagina o efeito disso no setor de turismo, o mais castigado pelo vírus? Os investidores imaginaram. E fizeram com que a operadora de viagens CVC tivesse a maior alta do dia (4,12%), seguida pelas companhias aéreas Azul (3,78%) e Gol (3,40%).
Mas isso não bastou para o Ibovespa fechar em alta. O fato é que os 100k sublimaram de novo: o índice fechou em 99.575 pontos (-0,62).
Em parte, culpa da Vale, que, no papel de empresa mais valiosa do país, responde por 11% do índice. O minério de ferro levou um tombo e fechou numa queda forte de 3,36%, a US$ 124,20, no porto de Qingdao (China). E levou as ações da mineradora junto (-2,60%).
Não foi só isso, porém. Outro responsável por quedas por aqui foi o Fed. Lembra daquelas propagandas de aparelho de TV dizendo que a garantia ia “até a próxima Copa”? Então.
Alguém do Fed deve ter morado no Brasil por um tempo, porque foi mais ou menos o que eles fizeram hoje. O banco central dos EUA afirmou que a “Selic” deles segue inalterada (entre 0% e 0,25%) pelo menos até a Copa do Qatar – um pouco mais, na verdade; a Copa de 2022 vai acontecer em dezembro, e o Fed sinalizou que sua garantia de juros baixos até pelo menos 2023.
Além disso, eles melhoraram sua previsão de recuo do PIB por lá em 2020 de 6,5% para 3,7%, e reduziu a previsão de taxa de desemprego de 9,3% para 7,6%. Mas o foco ficou mesmo no eventual efeito deletério que juros tão baixos, por tanto tempo, possam causar à economia americana (e mundial, dado que o dólar é basicamente a moeda universal).
Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, reiterou o que já tinha dito em agosto: afirmou que vai buscar uma meta de inflação de longo prazo de 2%, mas que também vai tolerar variações ligeiramente acima disso. Ou seja: o Fed vai seguir uma política econômica totalmente focada em gerar empregos (via juros baixos, que injetam dinheiro na economia), e sem ligar grande coisa para a inflação (o momento em que o dinheiro injetado afoga a economia, e os preços começam a subir sem controle simplesmente por excesso de grana na praça).
O receio de que o dólar saia da pandemia desvalorizado por uma inflação galopante fez com que a moeda americana caísse 0,96% por aqui, a R$ 5,23. E aí que vem o efeito negativo para o Ibovespa. As empresas brasileiras que têm grande parte de suas parte da sua receita em dólar deram uma bela tombada: é o caso das companhias alimentícias Minerva (-3,61%), JBS (-3,15%) e Marfrig (-2,40%), além da Suzano (-2,68%), de papel e celulose – se cada pregão fosse um campeonato, as quatro teriam ficado na zona de rebaixamento.
Lá fora, os índices também não responderam bem ao anúncio de Powell: S&P 500 (-0,46%m a 3.385 pontos) e Nasdaq Composite (-1,25%, a 11.050 pontos) tiveram um dia ruim, a despeito das notícias animadoras sobre as vacinas e da garantia de juros no chão até a próxima Copa, e além. É isso. Juro baixo tende a mover bolsas para cima. Por outro lado, o compromisso de manutenção do juro quase zero por tanto tempo revela que o Fed não está seguro de uma recuperação rápida da economia. Powell mesmo pontuou que republicanos e democratas do congresso cheguem logo a um acordo para conceder novos estímulos para a economia (ou seja, mais empréstimos e cortes de impostos), senão o futuro será sombrio. O problema aí são as eleições. Com os dois grandes partidos em pé de guerra até as eleições de novembro, fica cada vez mais difícil tecer um acordo entre ambos para aprovar os tais estímulos. Enquanto o impasse permanecer, as águas do mercado seguirão turbulentas.
Maiores altas
CVC: 4,12%
Azul: 3,78%
Gol: 3,40%
Energisa: 2,61%
Yduq: 2,36%
Maiores baixas
Minerva: -3,61%
JBS: -3,15%
Suzano: -2,68%
Petróleo
Brent: +4,17%, a US$ 42,22 o barril
WTI: +4,91%, a US$ 40,16 o barril