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Boa convivência com seu adversário pode ajudar sua carreira

Deixar a disputa de lado e investir em uma convivência saudável com um adversário pode render lições surpreendentes

Por Marcia Di Domenico
Atualizado em 23 dez 2019, 13h42 - Publicado em 12 jan 2018, 09h00
Rafael Nadal (à esq.) e Roger Federer: grandes adversários, os tenistas jogaram no mesmo lado da quadra em um torneiro de duplas (Getty Images/Getty Images)
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No esporte, Rafael Nadal e Roger Federer, atualmente números 1 e 2 no ranking mundial da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), alimentam uma rivalidade que dura mais de uma década e já se enfrentaram dezenas de vezes em lados opostos da rede. Em setembro deste ano, o espanhol e o suíço dividiram a quadra de um jeito inusitado: em vez de adversários, foram companheiros em uma partida de duplas da Laver Cup, torneio amistoso que aconteceu em Praga, na República Tcheca. Eles venceram por 2 sets a 1 uma das duplas americanas em um jogo tão aguardado quanto suado.

Fora da quadra, os atletas são amigos e fãs um do outro. Na competição, encenaram o que no dia a dia de trabalho é rotina, embora nem todo mundo se dê conta: aquele adversário profissional (seja o colega da empresa concorrente, seja seu vizinho de baia no escritório, com quem você está sempre disputando visibilidade e reconhecimento) pode ser um grande aliado de seu sucesso.

Que fique claro: a disputa predatória por posições ou promoções, que ainda reina nas empresas mais conservadoras, está fadada a desaparecer. Na realidade dos negócios modernos, “colaboração” é a palavra de ordem. Compartilhar recursos e conhecimento, oferecer e pedir ajuda e comemorar juntos as conquistas são atitudes de uma concorrência colaborativa, que se baseia no respeito, na ética e na sustentabilidade do negócio, sem precisar deixar de lado a preocupação com o lucro. “Cada vez mais, o que se defende é que ninguém precisa pisar no oponente para conquistar um lugar de destaque”, diz o coach Nélio Bilate, da NB Heart, consultoria de São Paulo. “A competição saudável é o que leva à evolução constante de indivíduos e corporações.”

A “coopetição”, termo difundido nos anos 90 para descrever estratégias de negócios que valorizam a atuação conjunta de pessoas e organizações a fim de gerar oportunidades positivas para todos os envolvidos, nunca foi tão atual. Gigantes do setor automobilístico e de tecnologia, por exemplo, já praticam a teoria, unindo-se no desenvolvimento de soluções com mais agilidade e menos custos. Entre pessoas físicas, o lucro também é certo. Descubra aprendizados valiosos, de vida e de carreira, que podem surgir dessa parceria tão rica.

1. O RIVAL É SEU TRAMPOLIM

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Numa entrevista após a vitória na Laver Cup, Roger Federer reforçou a importância do rival espanhol para sua carreira. “Nadal sempre foi minha maior inspiração, pelas jogadas e pela intensidade em quadra. Tive de reinventar completamente meu jogo para enfrentá-lo, de modo que devo parte do meu sucesso a ele”, disse. Quando o adversário a ser vencido é uma empresa concorrente, o profissional a seu lado no escritório ou outro candidato no processo de seleção, a lição também é válida. “Enxergar algo que você ainda precisa desenvolver deve ser a deixa para buscar novos aprendizados e aperfeiçoamento”, diz Maria Candida Baumer de Azevedo, da People & Results, consultoria de carreira, de São Paulo.

2. GANHAR NÃO É TUDO

Perseguir a todo custo o posto mais alto do pódio (ou de maior destaque no trabalho) quase sempre é certeza de uma vida estressante e, de certo modo, limitada e solitária. Focar seus esforços para estar entre os melhores, não importa quantos estejam acima, parece mais negócio. “Quando você elimina a comparação com os outros e diminui o nível de exigência consigo mesmo, fica livre para agir de acordo com sua verdade e cresce de forma construtiva sem o sofrimento de ter de ser melhor do que alguém”, diz Adriana Prates, presidente da Dasein Executive Search, consultoria de recrutamento, de Belo Horizonte.   

3. NINGUÉM VENCE SOZINHO

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No esporte, só há competição porque há oponentes. Na vida corporativa, por sua vez, toda vitória é conquista de um time. “Somar visões de mundo, habilidades e estilos diferentes de trabalho ajuda a lidar com processos e projetos complexos e a encontrar soluções que um profissional, sozinho, talvez não conseguisse”, diz Nélio. Nem os líderes são autossuficientes. um gestor deve equilibrar e estimular potencialidades, de modo a incluir todos os talentos — assim como um treinador eficiente.   

4. CONFLITOS FAZEM CRESCER

Ambientes corporativos hostis, em que se incentiva um cabo de guerra diário, ainda existem. Se você trabalha num lugar assim, mas não pretende fazer o jogo do predador, precisa se adaptar para não virar presa. “Autocontrole, paciência, resiliência e resistência a frustrações são emoções a ser trabalhadas para não acabar desmotivado ou doente”, afirma Adriana. No fim, todas essas qualidades fazem de qualquer pessoa um ser humano melhor.

5. NOVAS FERRAMENTAS DE TRABALHO

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Na partida em que jogaram em dupla, Federer e Nadal colocaram em prática habilidades que não necessariamente acessam nas partidas de simples, nas quais são reis. O interesse pelo outro e a convivência amistosa com a concorrência tÊm dessas coisas: obrigam à adaptação, expandem o repertório, geram autoconhecimento, somam competências ao arsenal técnico e intelectual. E, quanto mais ferramentas você tem à mão, mais preparado fica para enfrentar desafios e se destacar.

6. ERRO TAMBÉM É APRENDIZADO

O colega da baia ao lado que está sempre atrasado na entrega das tarefas ou que se comunica de modo ríspido com a equipe também pode ser uma inspiração sobre como não agir. “Observar com atenção as ações e as escolhas do concorrente ou do parceiro de time traz insights importantes do que deve ser evitado para obter bons resultados”, diz Adriana. De quebra, você aprende a olhar para si mesmo e para suas qualidades de modo mais acolhedor, sem achar o outro uma ameaça.

7. OUTRO ÂNGULO

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Conhecer o jogo da concorrência é básico para o sucesso de qualquer negócio. Imagine duas empresas do mesmo segmento: uma que investe pesado em tecnologia para desenvolver seus produtos e outra que foca o apelo emocional para alavancar as vendas. Colocar-se no lugar do adversário é uma maneira de olhar o cliente de outro ponto de vista e captar informações que não se tinha sobre ele para, então, aprimorar o relacionamento e o serviço oferecido. 

“Nadal sempre foi minha maior inspiração, pelas jogadas e pela intensidade em quadra. Tive de reinventar completamente meu jogo para enfrentá-lo, de modo que devo parte do meu sucesso a ele”

Roger Federer
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