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Depois da tempestade: a história de fracassos e sucessos de um empreendedor

Conheça a história do empreendedor Omar Pucci Netto que tentou e falhou até encontrar o sucesso

Por Por Mariana Amaro
Atualizado em 17 dez 2019, 15h23 - Publicado em 12 fev 2016, 09h37

SÃO PAULO – Segundo o SEBRAE, uma em cada duas empresas abertas no Brasil fecha em menos de cinco anos. O dado mostra o que muita gente já sabe: muita gente falha. 

Apesar disso, ainda é quase um tabu falar sobre isso. “Ninguém gosta de subir num palco e falar dos seus fracassos”, diz Rafael Chanin, que trouxe para o Rio Grande do Sul a FailCon, um congresso para “naturalizar a falha”, criado em San Francisco. Você pode saber mais sobre “como aprender com seus erros’ na edição de fevereiro da VOCÊ S/A, que está nas bancas. 

Encontrar outras pessoas que erraram e formas de superar o fracasso foi um problema sério na vida de Omar Pucci Netto, empreendedor de 35 anos. Ele trabalhou durante seis anos na Kimberly-Clark, na área de marketing. Entrou como estagiário e teve uma carreira meteórica. Aos 22 anos já era gerente de produtos. Pegou uma área pequena, que dava um prejuízo de 300 000 reais. Não só reverteu o prejuízo como multiplicou o faturamento superavitário em mil vezes. 

Com uma boa ideia na cabeça e muita arrogância juvenil, ele pediu demissão aos 25 anos, durante uma reunião com o presidente, para montar seu próprio negócio: um site que vendia produtos que todo mundo precisa, mas ninguém gosta de comprar, como ração para cachorro ou fraldas. O negócio não deu certo. Omar insistiu por cinco anos até perceber que era impossível e jogar a toalha. Ele errou em muitos momentos, tentou pegar diversos atalhos equivocados mas, enfim, parece ter encontrado o caminho certo para o sucesso, sempre olhando para trás e relembrando onde errou, para não seguir os mesmos passos. Ele aprendeu muito com os próprios erros e é sobre isso que ele dá o seguinte depoimento. 

Diferenças culturais

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“Nos Estados Unidos, os empreendedores que quebraram três, quatro, cinco vezes são vistos como pessoas com foco, persistentes e isso é uma coisa boa. A pessoa tem uma nova ideia e consegue investidores porque errar é perdoável lá. Aqui no Brasil isso ainda é um tabu. É óbvio que só inova quem tenta e quem tenta erra, mas o mercado não tem tolerância para o erro. O erro é o começo do processo. Você erra e depois? Quem está no fundo do poço, endividado, pensando em suicídio procura de tudo. Eu procurava matérias, documentários sobre o assunto. Não há nada no Brasil sobre isso. Encontrava muito material de fora. Os mega empreendedores não têm medo de falar que erraram.”

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Primeiro erro

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“O meu primeiro erro foi achar que eu podia tudo com 25 anos. Pedi demissão no meio de uma reunião. O presidente chegou a me chamar para conversar, dizer que tinha planos para mim, mas eu estava com aquela coisa de moleque na cabeça: me achava o cara, queria ganhar dinheiro e tinha certeza que ia conseguir. Tinha uma carreira crescente lá mas não pensei em todo o apoio de outras áreas que existia por trás da minha carreira. Achei que eu, sozinho, daria conta de tudo. Não dei.” 

O plano de voo

“Tinha um plano de negócio maravilhoso, mas a realidade era outra. Ninguém queria comprar pela internet em 2005, a margem de lucro dos produtos que eu vendia era muito pequena e eu não tinha noção do preço que deveria cobrar. A minha conta não ia fechar nunca. Na minha cabeça eu tinha que bater um faturamento alto para continuar girando. Quando você está em uma multinacional, tem todo um setor financeiro que dá um OK para o que você pode ou não fazer. Quando você está sozinho e não entende direito de números, vai dando uma enrolada, achando que precisa girar o dinheiro. Mas o que eu estava fazendo, na verdade, era aumentar as minhas dívidas. Quanto mais eu vendia, mais me endividava.” 

Soluções erradas

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“Eu cheguei a comprar espaço em uma TV e antes mesmo da chamada ir ao ar, eu montei um SAC, contratei pessoas, instalei linhas telefônicas e gastei 200 000 reais em estoque. O merchandising foi ao ar e o telefone não tocou nem uma vez. Cheguei a pensar que tinha acontecido alguma coisa com as linhas, mas não, era falta de interesse mesmo. Como ninguém queria passar o cartão de crédito no site, começamos a liberar os produtos com boletos para as pessoas pagarem depois. O que aconteceu? 90% de inadimplência. O mercado orgânico cresceu e crescemos junto. Mas quanto mais eu crescia, mais entrava no buraco. Engordei uns 20 quilos, perdi cabelo, não tinha dinheiro para mais nada. Tive uma crise de labirintite que não me deixava nem dirigir. Era uma bola de neve e não conseguia ver saída.” 

O fundo do poço

“Quando você chega no fundo do poço e está sozinho, parece que você está em um pesadelo. Lembrando agora parece até cena de um filme. Eu, sozinho, no centro de distribuição, já tinha demitido todo mundo porque não conseguia pagar o salário. E os pedidos chegando, a luz apitando, o celular tocando. E eu estava finalmente entendendo que o negócio estava completamente afundado, não tinha uma luz no fim do túnel. Cada vez que o meu telefone tocava, meu coração disparava. Eu não tinha força para atender e ouvir mais um fornecedor gritando. Eu me sentia um bosta mesmo, um derrotado que não podia nem pagar um almoço para a namorada. Fiquei deprimido mesmo. Foi uma fase terrível. Eu não queria sair de casa. Pensei em pular do prédio, mas isso não ia resolver a vida de ninguém. Foram seis anos com a corda no pescoço. Nunca ganhei um real sequer.”

A primeira luz

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“Quando você tá destruído, aceita qualquer ajuda que oferecerem. Minha namorada me levou num centro espírita. Sempre fui cético, a vida inteira. Mas quando entrei lá senti um alívio pela primeira vez em muito tempo. Consegui pensar que tinha uma área interessante na minha empresa, que sempre deu lucro, mas que eu usava para cobrir o buraco da operação principal. Era o braço de serviços, de aplicar inteligência de negócio para vendas em vários canais – não só a internet. Como eu já tinha cometido todos os erros, podia dizer exatamente o que não fazer.” 

Saindo do buraco

“Um ano e meio depois do fundo do poço eu consegui sair desse buraco. Já paguei 90% das contas. Ainda preciso devolver todo o dinheiro que um amigo meu investiu como anjo na empresa anterior, mas pretendo fazer isso em breve. Consigo levar minha mulher hoje para jantar e viajar. O grande aprendizado de tudo isso é que hoje eu dou muito mais valor para ter paz interior, fazer as coisas direito, ter saúde. Ninguém é hipócrita para dizer que dinheiro não é importante, mas meu colesterol estava na lua.”

Cegueira voluntária

“Agora eu consigo enxergar de verdade como estava escondendo a situação real até de mim mesmo. Você fica com aquele pensamento “não é possível, tem que dar certo”. Quando mais persistente eu era, mais afundava. Não conseguia olhar objetivamente as planilhas e entender que não tinha futuro. Quando eu tomei a decisão de sair da Kimberly-Clark tive muito apoio dos amigos e da família, porque meu negócio tinha um conceito fácil de vender. Muitos amigos reclamavam até que eu devia tê-los convidado para fazer parte. Escondi a situação real de muita gente por muito tempo. As pessoas perguntavam como ia a empresa eu dizia que estava ótima, com alguns probleminhas, mas muito bem, obrigado. Ai, quando eu precisava de mais um empréstimo e tinha que abrir o balanço as pessoas ficavam chocadas.” 

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Demontando um negócio

“Quando eu fui ameaçado de despejo entendi que tinha chegado o fim. Corri para vender o estoque e me pagaram 500 000 em 12 parcelas por produtos que valiam 3 milhões de reais. Vendi tudo por nada. Caixas de papelão que valiam cinco reais foram vendidas por 50 centavos. Quando as pessoas percebem que você está na lama, elas querem o melhor preço possível. O escritório era lindo, tinha piso de madeira. Peguei o que dava e fui colocando no meu carro e no do meu sócio. Desmontamos juntos. Ainda tomamos um processo trabalhista. Não guardei nada da empresa.” 

Lições aprendidas

“Se eu pudesse voltar e fazer tudo de novo, não faria nada igual. Não perderia tempo e dinheiro com áreas que não são as principais. Não negligenciaria o que os números estavam tentando me falar. Não tentaria me esconder por tanto tempo do resultado negativo. Teria pedido ajuda mais cedo. Não entraria num negócio pensando só no dinheiro.” 

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