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As 150 melhores empresas pra trabalhar jogam mais limpo

Elas adotam uma postura mais transparente com seus empregados, o que garante o comprometimento deles e o resultado delas

Por Tatiana Sendin
Atualizado em 17 dez 2019, 15h29 - Publicado em 13 nov 2013, 07h49
Equipe da Perkins, em Curitiba (PR): a empresa ouviu os funcionários e desenvolveu um plano de carreira para a fábrica  (Marcelo Almeida/EXAME.com/)
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Considerada um dos quatro pilares da boa governança corporativa, a transparência na gestão ainda é uma qualidade rara de ver nas empresas. É possível contar nos dedos quem leva realmente essa prática a sério.

Prova disso é que, de 286 companhias com ações em bolsa no Brasil, 15% entraram com uma ação judicial contra a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em 2012, para não ter de divulgar ao órgão regulador todos os dados empresariais exigidos — entre eles o salário de seus executivos.

As empresas classificadas no Guia das Melhores Empresas para Trabalhar da revista VOCÊ S/A são uma exceção a essa regra corporativa. Ano a ano, o grupo que representa os melhores lugares para trabalhar no país vem aperfeiçoandoseus instrumentos de gestão para aproximar mais os funcionários  de seus negócios, tornando-se, assim, mais transparentes. 

Todas as empresas deste Guia, por exemplo, informam formalmente sua estratégia ao time e 7% delas abrem a tabela salarial integralmente até para os funcionários operacionais, uma prática rara nas companhias privadas e de extrema importância na construção de uma relação de confiança.

“A empresa que esconde informações manipula a relação com o funcionário e alimenta fantasias na cabeça do time, que sonha em ser promovido ou receber um aumento — algo que nem sempre ela será capaz de cumprir”, diz André Fischer, professor da Universidade de São Paulo (USP) e consultor da Fundação Instituto de Administração (FIA).

As companhias que jogam aberto com o funcionário deixam claro até qual posição ele pode ascender ou qual o salário máximo que ele pode obter em determinada função, aumentando, assim, seu grau de comprometimento. 

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“A transparência gera confiança; que gera alinhamento; que gera compromisso — o que leva aos resultados”, diz Josmar Bignotto, coordenador do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). 


Na riqueza e na pobreza É importante ressaltar que o jogo aberto deve acontecer também quando o placar está desfavorável àcompanhia. Em algumas empresas,  como na siderúrgica Aperam South America e na química Cristal (unidade de pigmentação), foi justamente uma crise que despertou a necessidade do diálogo sem ruídos. 

Em 2009, o aumento do preço do minério de titânio e o colapso global derrubaram, em um mês, a produção da fábrica da Cristal de 5.000 toneladas para zero. A crise fez com que a subsidiária brasileira pedisse ajuda de 120 milhões de reais à matriz, demitisse pessoas e cortasse benefícios.

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Diante dessa situação, a companhia acreditou que a melhor estratégia era falar com todo mundo sobre tudo. Foram realizadas reuniões com os funcionários de todas as áreas para apresentar os resultados fnanceiros e o plano de contingência para os dois anos seguintes.

Quatro anos depois, o pessoal exprime o orgulho que sente por ter enfrentado o problema junto. O índice que mede o grau de identificação dos funcionários com a Cristal foi de 96,5, o que permitiu a estreia da empresa no Guia como a Melhor do Setor Químico e Petroquímico.

Já a Aperam South America, produtora de aços inoxidáveis, vive com margens de lucro apertadas por causa da concorrência com o produto chinês. Desde 2008, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) caiu mais de 15%, o que a siderúrgica não esconde de ninguém. Ao contrário. A cada seis meses, os diretores percorrem as unidades falando sobre os negócios e os planos para os próximos anos.

“Deixamos claro como está a margem operacional e o Ebitda, e com isso conseguimos justificar por que o nível de investimento tem mudado e por que estamos focando nessas ações”, diz o diretor de RH, Ilder Camargo da Silva. “Isso ajuda as pessoas a decidir se querem participar ou não.”

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Cícero Penha, vice-presidente de talentos humanos do Grupo Algar, do qual faz parte a Algar Empreendimentos e Participações, presente neste Guia, conhece as vantagens de exercer uma gestão transparente. “Quando a companhia é aberta, até nos momentos de
dificuldades as pessoas se esforçam mais, dão tudo de si mesmas” diz ele.

Isso acontece porque elas entendem a situação e o que é necessário fazer para virar o jogo. O Grupo Algar adotou a prática da transparência há 20 anos, quando também enfrentou sua própria crise. De lá para cá, não só a estratégia de negócios mas também todas as políticas e práticas de recursos humanos estão escritas, disponíveis e são repassadas com frequência a seus funcionários. 

“Trimestralmente, o resultado de cada unidade do grupo é aberto, e o orçamento é divulgado área por área”, afirma Cícero. E tem mais. A Algar Empreendimentos e Participações é uma das seis corporações deste Guia que divulgam aos funcionários a planilha salarial, por faixa de cargo — o que a faz uma das dez mais transparentes entre as 150. 

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De ouvidos abertos 

A relação de transparência vai além de apenas abrir números, processos, programas e problemas. Ela também prevê que a empresa esteja disposta a ouvir. Ao ouvir seu pessoal — seja de forma abrangente, como em uma pesquisa de clima, seja de forma pontual, como em reuniões com o RH —, a companhia demonstra estar atenta às necessidades de seu time. 

Foi exatamente esse ponto que a fabricante de motores Perkins decidiu atacar para se tornar uma empresa mais transparente. Em 2012, a empresa desenvolveu o Plano de Ação Organizacional para permitir aos funcionários apontar necessidades e melhorias.

Também foram criados comitês facilitadores, com reuniões agendadas periodicamente com a equipe de RH. Uma das reivindicações colhidas foi um plano de carreira para a fábrica, que já foi desenvolvido.

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“Ouvimos o feedback das áreas para entender as demandas e estamos trabalhando juntos. Às vezes, não temos como cumprir o que pedem, por causa do negócio, mas sempre temos de explicar o porquê”, diz Elisabeth Hass, gerente de RH e TI. 

Essa é a regra da transparência. Estar em uma companhia que valoriza a abertura não signifca que ela não terá segredos. Afinal, alguns assuntos devem ser preservados em razão de negociações ou contratos. Mas signifca que os funcionários serão os primeiros a saber de tudo e terão respostas sinceras para suas indagações e o devido encaminhamento para suas reivindicações.

É isso que vai gerar o comprometimento deles e, consequentemente, garantir os melhores resultados ao negócio. 

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