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O que esperar da economia após o impeachment

A mudança no cenário político trouxe ao atual governo Temer desafios como reequilibrar as contas públicas, retomar a confiança e fazer reformas estruturais

Por Por Izabel Duva Rapoport
Atualizado em 17 dez 2019, 15h19 - Publicado em 25 ago 2016, 08h00

O Brasil vive um momento de grande expectativa quanto ao futuro da sua economia, que vem sofrendo queda em todos os indicadores nos últimos meses. A mudança no cenário político trouxe ao atual governo, administrado pelo presidente interino Michel Temer, desafios como reequilibrar as contas públicas, retomar a confiança da classe empresarial e realizar reformas estruturais e institucionais. Especialistas em mercado de trabalho avaliam que as perspectivas de uma recuperação da economia no curto prazo permanecem ruins, mas que os números mais recentes ensejam otimismo com relação ao futuro, pois sinalizam uma retomada de confiança do consumidor, da indústria e de outros setores da economia, bem como um retorno gradativo de investimentos perdidos em meio à crise política-institucional.  Um dos sinais disso foi o recente crescimento do Índice de Confiança do Consumidor (ICC), medido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo. O ICC de junho registrou alta de 7,9% em relação a maio, interrompendo uma sequência de 40 meses de quedas. 

Para Fernando Góes, sócio e consultor da Ockam Consulting, consultoria de gestão de negócios com sede em São Paulo, apesar das incertezas pairando no ar, a mudança de governo já gerou um claro efeito de reversão de expectativas junto ao empresariado do país. “Esse efeito é muito mais psicológico do que prático, mas isso não é um avanço pequeno se comparado ao quadro de paralisia que vínhamos enfrentando no governo Dilma Rousseff”, diz. Ele ressalta que, em se tratando de economia, a expectativa positiva de hoje é o investimento de amanhã. “Basta que o novo governo consiga a aprovação das medidas no Congresso para que a economia se recupere e volte a viver um ciclo de crescimento”, afirma Fernando. É claro que a queda de alguns ministros do governo Temer atrapalha a restauração da credibilidade junto à classe empresarial, mas, segundo o executivo, não compromete a recuperação na economia. “Se o marco regulatório acontecer, vai destravar as atividades do empresariado”, reforça.

A boa notícia é que, para alguns analistas, a recuperação econômica, quando vier, será muito mais forte e talvez mais rápida do que as pessoas imaginam. Este, aliás, é o assunto do recém-lançado Depois da Tempestade, livro onde o economista Ricardo Amorim, CEO da Ricam Consultoria Empresarial, de São Paulo, aborda o cenário pós Dilma Rousseff. Segundo ele, o desemprego ainda deve crescer antes de começar a cair, mas os setores que devem se recuperar mais rápido e contratar são agronegócio, alimentação, educação e saúde. “Os empregos no setor de construção e na indústria automotiva também vão voltar, mas como são mais dependentes de confiança e de crédito – que sumiram do Brasil nos últimos anos – devem demorar muito mais para acontecer”, afirma. 

A melhor estratégia para o período

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Empregos

Para os especialistas, a geração de empregos será diretamente proporcional à capacidade do governo em aprovar as reformas no Congresso. “A exemplo da relação entre as commodities e a taxa de câmbio ou da indústria automotiva com a liberação de crédito pelos bancos”, afirma Fernando Góes, da Ockam. No médio prazo, a retomada progressiva das obras de infraestrutura, das concessões e das parcerias público-privadas deve gerar postos de trabalho nas áreas de engenharia, tecnologia, agronegócio e serviços.

Setores em alta

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Os primeiros setores que vão começar a contratar à medida que a economia melhorar, de acordo com Ricardo Amorim, da Ricam, são: agronegócio, alimentação, educação e saúde. “Este grupo já vem tendo um desempenho econômico melhor do que o restante da economia”, diz. A reação de setores mais dependentes de confiança e estímulos fiscais, como a construção civil ou a indústria automotiva, deve demorar um pouco mais. 

 

Salários

Para Marcos Gouvêa de Souza, do Grupo GS&MD, ainda que a economia se recupere, as taxas de desemprego ainda demorarão a reagir, o que fará com que as negociações salariais continuem difíceis. “A recuperação nesse ponto será cautelosa”, diz ele. Para Rodrigo Soares, da Hays, empresa de recrutamento, de São Paulo, os profissionais que trabalham em empresas que já estão entregando resultados têm mais espaço para negociar. Já aqueles que atuam em companhias cuja previsão de ganhos está afetada pela crise devem aguardar. “O executivo de alta performance deve ter consciência para fazer a abordagem no momento certo”, diz Rodrigo.

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Promoções

Neste período de corte de custos, a melhor estratégia para aumentar as chances de promoção é propor soluções para ajudar a empresa a aumentar sua eficiência e a busca de novas fontes de renda para a companhia. “O profissional não deve se deixar contaminar pelo clima de crise, mas trabalhar para transformar os resultados da empresa”, diz Ricardo Amorim. Quem já está acumulando funções também deve ser recompensado quando o cenário começar a melhorar. Quem não está disposto a esperar, entretanto, deve ficar atento às oportunidades fora do país. 

Educação 

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Com o dólar alto, muitas empresas brasileiras estão sendo adquiridas por grupos estrangeiros. Em junho, por exemplo, foi aprovada uma emenda que permite a empresas estrangeiras deter 100% do capital das companhias aéreas brasileiras. “Neste novo contexto, os profissionais precisam investir no estudo de línguas, em aquisição de uma visão global e em novos conhecimentos”, diz Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral do Grupo GS&MD, de São Paulo. 

Quem está fora do mercado e não pode gastar também pode aumentar sua competitividade recorrendo à grande oferta de cursos gratuitos das principais universidades americanas disponíveis na internet em canais como o Coursera, sugerem os especialistas. Para quem está empregado, é possível investir na aquisição de conhecimento durante o expediente. “Envolver-se com projetos mais complexos, especialmente aqueles que ninguém quer tocar, pode ser um bom caminho. Se o projeto eventualmente der certo e trouxer receitas, catapulta a carreira de quem se envolveu”, diz Ricardo Amorim, da Ricam. 

Imóveis

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Quem pretende adquirir um imóvel e pode dar uma entrada significativa ou fazer a compra à vista deve aproveitar o momento de excesso de oferta e tentar negociar descontos antes que o cenário econômico se inverta. Para se ter uma ideia, em abril de 2016 foram vendidas 7 146 unidades de imóveis em todo o Brasil, um recuo da 14,4% ante as vendas do mesmo mês de 2015. Mas o economista Ricardo Amorim alerta que esta não é uma oportunidade para quem pensa em financiamento imobiliário, por causa dos juros altos. “Entrar num financiamento é aumentar o risco de complicações futuras, principalmente no caso de a economia demorar a se recuperar ou de o financiador perder o emprego”, diz.

 

Consumo

Os indicadores iniciais da mudança no governo apontam para uma leve queda da inflação. Em junho, o IPCA-15, índice usado como prévia da inflação, ficou em 0,40%, bem abaixo do resultado de maio, quando a alta chegou a 0,86%. Segundo o IBGE, esse foi o menor índice para junho desde 2013, quando ele ficou em 0,38%. Ainda assim, quem pretende realizar algum projeto caro neste ano precisa ter cautela. “As pessoas ainda estão preocupadas com o emprego e o salário, mas, quando a confiança voltar, o consumo também voltará”, diz o Marcos Gouvêa de Souza. Em junho, o índice de adequação dos estoques no varejo de São Paulo subiu 7,3%, o que sugere menos mercadoria parada no comércio. Mas é preciso atenção porque os juros permanecerão altos para conter a inflação e se prevê uma nova alta do dólar, o que aumenta o risco de endividamento do consumidor. 

Investimentos

Na atual conjuntura, os especialistas em finanças recomendam aplicações como CDB, LCI, LCA e Tesouro Direto, com baixa ou nenhuma taxa de administração. Os mais vantajosos devem ser os título pré-fixados atrelados à inflação, já que prevê que, até o fim do ano, os juros básicos da economia devem começar a baixar. “Em um cenário de volatilidade, é recomendável pensar de forma conservadora e olhar para a renda fixa. Aplicar em fundos cambiais ou na Bolsa, neste período de incertezas, só mesmo se você for um investidor profissional”, diz Fernando Góes, da Ockam. 

Esta matéria foi publicada originalmente na edição 216 da revista Você S/A e pode conter informações desatualizadas

Você S/A | Edição 216 | Julho de 2016 

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