Presidente da Zodiac no Brasil fala sobre os desafios das mulheres no mundo corporativo
Em entrevista, Heloisa Simão também comentou sobre o momento da empresa e seu estilo de gestão
Com uma carreira de mais de duas décadas no mercado farmacêutico, Heloisa Simão, de 57 anos, é uma das poucas mulheres a assumir uma cadeira de presidência – entre as companhias do Guia VOCÊ S/A – As 150 Melhores Empresas para Você Trabalhar de 2016, por exemplo, apenas 16% das organizações são lideradas por executivas.
Hoje, Heloisa está à frente da farmacêutica Zodiac, comanda mais de 500 profissionais e tem orgulho de dizer que 48% do quadro é formado por mulheres. Mas foi apenas depois de ter começado a participar de conselhos e fóruns de discussão sobre a ascensão feminina no mercado de trabalho que a executiva percebeu que, inconscientemente, adotou um estilo de trabalho masculino durante sua trajetória profissional.
A Zodiac completou 25 anos no Brasil em 2016. Como foi o ano para a companhia?
No ano passado, a matriz solicitou que algumas métricas fossem readequadas. Com isso, no Brasil, passamos de 570 funcionários para 555. Não foi uma grande redução, mas houve impacto, principalmente em áreas menores.
O que fizeram para lidar com isso?
Estimulamos as lideranças a entender que a reestruturação demandaria a reorganização de tarefas e que seria preciso rever tudo o que estava sendo feito para que os processos tivessem mais eficiência. As áreas que responderam bem, mesmo com o acúmulo de tarefas, estão com um bom clima. Para passar por momentos difíceis, precisamos de profissionais que façam diferente – só assim os resultados serão diversos. O problema é que muitos acreditam que fazendo como sempre fizeram terão novas entregas.
Sua carreira a levou a trabalhar em uma empresa americana e em outra dinamarquesa. O que aprendeu com essas culturas?
Trabalhei durante 25 anos na Bristol-Myers Squibb (BMS), uma empresa americana; depois fui comandar a chegada da Leo Pharma, uma companhia dinamarquesa, ao Brasil; agora estou na Zodiac, que é latino-americana. Com os Estados Unidos aprendi que a eficiência é muito importante para a produtividade. Um exemplo simples é que eles começam e terminam as reuniões sempre no horário previsto, o que é um grande desafio para nós, brasileiros. Os dinamarqueses me ensinaram que o balanço da vida pessoal e profissional é possível. Lá, às 15h30, todos os funcionários que têm filhos – independentemente de ser homem ou mulher – saem do escritório para buscar as crianças na escola. Ninguém é malvisto por isso, e as reuniões podem ser marcadas até, no máximo, as 14h30 para não atrapalhar esse esquema. Então, eles vão para casa e, à noite, quando tudo está organizado, acessam os e-mails para resolver as pendências do dia.
A senhora chegou ao cargo de presidente num mercado dominado por homens. Em algum momento sentiu dificuldade por ser mulher?
Eu nunca tive consciência de limites por ser mulher, nunca senti que me impunham alguma restrição. Quando tinha de ir a um jantar de negócios, por exemplo, eu não falava que tinha de me arrumar, saía direto com os homens. Muitas vezes, eu era a única mulher na sala de reunião. Só fui perceber algumas coisas muito mais tarde, quando comecei a estudar a fundo o tema da ascensão feminina. Aí caiu a ficha: percebi que eu tinha um modelo muito masculino de trabalho. Senti dificuldade quando fiz tratamento para engravidar e não me sentia à vontade para dizer às pessoas que eu precisava sair do trabalho para ir ao médico fazer esse acompanhamento.
Esta matéria foi publicada originalmente na edição 223 da revista Você S/A e pode conter informações desatualizadas
Você S/A | Edição 223 | Dezembro de 2016