Abertura de mercado: um olho no emprego dos EUA, outro no combustível do Brasil
Bolsa brasileira terá mais um dia de caos político para enfrentar. Com queda acumulada de mais de 3% até quinta, fica difícil terminar a semana no positivo.
Faz uma semana que Jerome Powell ofereceu um bilhete premiado a investidores. Você sabe, o presidente do Fed (banco central dos EUA) disse que até pretende reduzir um pouco a enxurrada de dinheiro que há um ano irriga a economia americana (e o mundo também), mas fará isso em doses homeopáticas, observando os dados do mercado de trabalho.
Bem, hoje às 9h30 saem os dados do payroll de agosto, a estatística oficial de emprego dos EUA. Segundo a Bloomberg, a expectativa é de que 725 mil postos de trabalho tenham sido abertos, em um ritmo menor que o dos últimos dois meses, mas definitivamente um dado mais sólido que o do começo do ano.
Aqui vem a diversão de Wall Street. Existem mais três reuniões do Fed daqui até o fim de 2021 (a saber, 22 de setembro, 3 de novembro e 15 de dezembro). A “brincadeira” dos investidores será apostar em qual dessas três reuniões Powell e seus amigos começarão a enxugar um naco de dinheiro do mercado, tudo com base no payroll de hoje.
Por enquanto, os ânimos estão serenos. Os índices futuros americanos operam em alta, ignorando a baixa das bolsas europeias. Na Ásia, os sinais também também foram positivos. O índice amplo MSCI Ásia-Pacífico emendou o sexto pregão de alta, a maior sequência desde janeiro. No Japão, o anúncio de que o primeiro-ministro, Yoshihide Suga, deixará o cargo impulsionou as ações por lá também. Só a China ficou de fora dessa sexta-feira positiva, ainda reflexo das intervenções do governo nas big techs de lá.
Já o Ibovespa precisará contar com a sorte. Faz dias que o índice não consegue pegar carona no otimismo do exterior, reflexo da confusão política e econômica instalada no país. A queda acumulada na semana é de 3,31%, o que significa que fechar a semana nos 120 mil pontos seria uma tarefa hercúlea.
A frente de tretas do dia é em combustíveis. Com gasolina e diesel nas alturas, Bolsonaro ameaçou ontem ir ao Supremo contra os governadores por causa da cobrança de ICMS sobre os produtos. Na melhor estratégia “a culpa não é minha”, o presidente vem há um ano batendo nessa tecla, mesmo estando errado.
E não que as relações dele com os ministros do STF estejam amenas. Também ontem, o ministro Luiz Fux clamou para que a manifestação pró-governo de 7 de Setembro, com contornos golpistas, seja pacífica. A resposta de Bolsonaro foi que “não há o que temer”.
Na toada da escalada da crise institucional, a Febraban (federação dos grandes bancos) reforçou o endosso ao manifesto “A Praça é dos Três Poderes”, isso após as ameaças do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, aos bancos privados.
Mais uma sexta normal em solo brasileiro. Sigamos.
Índices futuros nos EUA no início da manhã:
Futuros S&P 500: alta de 0,19%
Futuros Nasdaq: alta de 0,12%
Futuros Dow: alta de 0,17%
*às 7h50
Índice europeu (EuroStoxx 50): baixa de 0,20%
Bolsa de Londres (FTSE 100): alta de 0,16%
Bolsa de Frankfurt (Dax): alta de 0,11%
Bolsa de Paris (CAC): baixa de 0,43%
*às 7h45
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): baixa de 0,54%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): alta de 2,05%
Hong Kong (Hang Seng): baixa de 0,72%
Petróleo (Brent)*: alta de 0,58%
Minério de ferro: alta de 1,89% cotado a US$ 144,71 a tonelada no porto de Qingdao (China)
9h30: governo dos EUA libera relatório de empregos (payroll) de agosto
18h: Paulo Guedes participa de evento do TC
Big techs em apuros
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos pode abrir em breve um novo processo contra a Alphabet (dona do Google) por monopólio na área de publicidade digital. É a segunda investida legal do governo americano contra a empresa (a outra foi no final do ano passado). A notícia foi revelada na quarta (1º) pela Bloomberg. Há duas semanas, os Estados Unidos processaram também o Facebook por monopólio – a tentativa é fazer com que a empresa tenha que vender o WhatsApp e o Instagram. E aí, ontem, um juiz federal decidiu que a Apple deverá responder na justiça sobre denúncias de invasão de privacidade por causa de sua assistente virtual, a Siri. Os denunciantes poderão tentar provar no tribunal que a robô ouve nossas conversas sem permissão. As medidas judiciais fazem parte de um movimento de maior controle e responsabilização das todas poderosas big techs. E tem tudo para pressionar as ações delas lá em Nova York.
Estreantes
A partir da próxima segunda, o Ibovespa estará maior do que nunca. Sete novas ações deverão entrar no índice, e nenhuma vai sair, anunciou a B3, empresa que administra a bolsa de São Paulo. As novatas são: Alpargatas PN (ALPA4), Banco Inter PN (BIDI4), Banco Pan PN (BPAN4), Dexco ON (DXCO3), Méliuz ON (CASH3), Petz ON (PETZ3) e Rede D’Or ON (RDOR3). No total, serão 94 papéis no índice. A carteira valerá até o final do ano. Curiosamente, a bolsa alemã também ganhará novas companhias a partir de segunda. O índice Dax subirá de 30 para 40 empresas e ainda passará por uma mudança de regras para a participação no índice. O Valor contou a história.
Desigualdade, antes e depois da pandemia
A pandemia afetou a vida de todos os trabalhadores pelo mundo – mas as mulheres, já em posição de fragilidade, foram mais afetadas que os homens. Só no primeiro ano da crise, 54 milhões de profissionais femininas perderam o emprego. Nesta longa reportagem, o Washington Post traz dados de 55 países, conta histórias de mulheres que foram deixadas de fora da força de trabalho com a pandemia e reflete sobre como combater esse gap. Leia aqui, em inglês.
A reforma do IR é boa para quê?
Para nada, de acordo com Vanessa Rahal Canado, que foi assessora especial do ministro da Economia nesta gestão, e deixou a pasta no começo do ano. Ela argumenta que o texto não resolve os problemas de equidade, simplicidade e desenvolvimento econômico esperados de uma reforma tributária. Dizer que a taxação de dividendos trará justiça social, na opinião dela, é ingenuidade, cobrar impostos das empresas em IR e dividendos complica o sistema e a isenção de lucros para micro e pequenas empresas premiaria empresas ineficientes. O artigo completo você lê aqui.