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Aço, petróleo e carne trazem o Ibovespa de volta aos 120k

Demanda global pelo trio confirma ciclo de alta no valor das commodities – e de baixa no valor do dinheiro. Entenda.

Por Alexandre Versignassi, Juliana Américo
Atualizado em 14 abr 2021, 20h15 - Publicado em 14 abr 2021, 19h35
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 (Laís Zanocco/VOCÊ S/A)
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Demorou três meses, mas rolou. O Ibovespa voltou a fechar acima dos 120 mil pontos, o que não acontecia desde o dia 19 de janeiro. Foram 0,84%. Terceira alta seguida, que leva o Ibov agora aos 120.294 pontos.

A explicação começa com uma queda de braço na China. De um lado, o governo tem limitado a produção local de aço, num esforço para reduzir as emissões de carbono do país (o objetivo é chegar à “neutralidade”, ou seja, emitir e sugar CO2 em proporções iguais, até 2060). 

Aço

Legal. Do outro lado, porém, está a própria economia chinesa, em franca recuperação, com cada vez mais prédios, fábricas e obras em geral saindo do forno. Tudo isso demanda aço em quantidades colossais. 

E quem ganha aí é o Brasil. A demanda por minério de ferro (matéria prima do aço) segue firme. Isso ajuda a Vale (alta de 3,40% hoje e de 33% no ano). E ajuda mais ainda as empresas que exportam o aço já pronto para a China (deixando a poluição por aqui mesmo, o que complica para o planeta do mesmo jeito, mas essa é outra história). 

O ponto é que as siderúrgicas estão voando em céu de brigadeiro. É o caso da CSN (3,17% hoje, 46% no ano) – vale lembrar: além de produzir aço, ela é a segunda maior mineradora do país, atrás da Vale. 

Carne

A China também tem dado uma mão para os frigoríficos. Há meses, um surto de gripe suína tem reduzido o rebanho de porcos no país, o que fez parte da população trocar a proteína de porco pela de boi. Os efeitos da gripe suína já não são tão pesados: o abastecimento de carne suína tem voltado à normalidade. 

A boa notícia para o Brasil é a de que muitos chineses parecem ter gostado da troca. E colocaram a carne de boi definitivamente na lista de supermercado.    

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Em março, nossas exportações de carne subiram 8%, de acordo com a Abrafrigo (a Associação Brasileira de Frigoríficos). Como de cada 10 peças de carne que mandamos para o exterior seis embarcam para a China, dá para você ter uma ideia de quem está por trás dessa alta.

Nisso, a JBS subiu 2,96%; a Minerva, 4,05% e a Marfrig, 5,37%. No caso dessas duas última, o mercado entende que os papéis estão particularmente baratos (as ações custam pouco diante do lucro que elas têm dado). Logo, as maiores altas ficaram com elas também.  

Petróleo

A Petrobras viu suas ações subirem junto com o salto de quase 5% do barril. O do tipo Brent, que serve de referência para os preços internacionais, subiu 4,57%, enquanto o tipo WTI (que é referência nos EUA) subiu 4,94% – impulsionado pela queda de 5,89 milhões de barris nos estoques americanos, ante a previsão de 2,5 milhões. 

A IEA (Agência Internacional de Energia) e a Opep também melhoraram a perspectiva de demanda global de petróleo. Em seu relatório mensal, a agência indica que a demanda subiu de 230 mil barris diários para 5,7 milhões. Já a Organização dos Países Exportadores ampliou a sua projeção para 6 milhões de barris diários.

Mesmo com tudo isso, a alta da Petro foi discreta (1,59% – blame it on Bolsonaro). Mas, dada a participação titânica da Petro no Ibovespa, ela também ajudou o índice a subir. 

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Eneva

Na ponta negativa, destaque para a Eneva. A desvalorização de 3,03% das ações da empresa de energia é resultado da notícia de que o BTG se desfez de 27 milhões de ações, o que equivale a 10% da sua participação na companhia. Até então, o banco possuía 22,89% do capital da Eneva; a mesma quantia que o fundo Cambuhy. Agora, que o BTG é dono de um pouco menos de 21%, o escritório de investimentos da família Moreira Salles passa a ser  o acionista majoritário. 

O movimento faz parte de uma revisão dos investimentos do BTG, que está aumentando a sua participação no Banco Pan e na InfraCo – uma divisão especializada em fibra óptica da operadora Oi. 

CVC

Que o Brasil está no epicentro da pandemia todo mundo sabe. Ontem, foram mais de 80 mil novos casos confirmados e 3.687 mortes. Além disso, já é o quarto dia seguido que a média móvel de óbitos está acima da marca de 3 mil. Em meio a tanta tragédia, porém, surgiu uma notícia boa lá do Ministério da Saúde. 

Marcelo Queiroga confirmou que o Brasil vai receber uma antecipação de 2 milhões de doses da vacina da Pfizer. O governo tem um contrato de compra de 100 milhões de doses do imunizante e o cronograma inicial previa que a farmacêutica enviasse 13,5 milhões até junho – agora, são 15,5 milhões. Dessas novas doses, pelo menos 1 milhão estão previstas para chegar já em abril. 

E a esperança da retomada de viagens animou o setor de turismo. A CVC foi a segunda maior alta do dia (5,21%). 

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Na gringa

Em NY, as atenções estão voltadas para o início da temporada de resultados do primeiro trimestre. Os primeiros a divulgarem seus balanços foram os bancos Goldman Sachs e JPMorgan.

E os dois bombaram. No caso do Goldman, o lucro líquido aumentou para US$ 6,7 bilhões nos três primeiros meses do ano, contra US$ 1,12 bilhão registrado no mesmo período do ano anterior. Já o JPMorgan teve lucro líquido de  US$ 14,3 bilhões, sendo que no ano passado foram US$ 2,9 bilhões. 

Mas hoje também teve relatório do Federal Reserve, o banco central dos EUA, que mencionou a alta na inflação

O Fed não fez alarde. Acha que a inflação americana é controlável. Mas o fato é que a alta de março (0,6%) foi a maior em nove anos. E a taxa anualizada está em 2,6% (bem acima do “teto da meta” deles, de 2%). 

Acontece que o receio de uma alta na inflação leva a uma alta nos juros dos treasuries, que são os títulos públicos do governo americano com vencimento em 10 a 30 anos. Os títulos de 10 anos subiram de 1,61% para 1,63%; já os de 30 anos avançaram de 2,29% para 2,31%. 

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Parece pouco, mas não é. Inflação do dólar significa o seguinte: você, grande importador, vai precisar de mais dólares para comprar commodities. 

É isso: talvez não seja só a alta na demanda que esteja criando um novo ciclo de alta nas matérias-primas. Mas também a queda no valor do dinheiro. Os bancos centrais, afinal, ainda não imprimem aço, petróleo, carne. Quanto mais dinheiro eles produzirem, então, mais caras as commodities vão ficar. Isso não ajuda em nada no preço da gasolina, do material de construção ou da picanha. Mas o Ibovespa agradece. Com 120 mil aplausos.    

Maiores altas

Marfrig: 5,37%

CVC: 5,21%

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Usiminas: 4,20%

Minerva: 4,05%

Vale: 3,35%

Maiores baixas

Cogna: -3,92%

SulAmérica: -3,49%

Eneva: – 3,03%

Lojas Americanas: -2,99%

Iguatemi: -2,81%

Ibovespa: 0,84%, aos 120.294 pontos

Em NY:

S&P 500: -0,40%, aos 4.124 pontos

Nasdaq: -0,99%%, aos 13.857 pontos 

Dow Jones: +0,16%, aos 33.732 pontos 

Dólar: -0,82%, a R$ 5,67

Petróleo

Brent: +4,57%, a US$ 66,58

WTI: +4,94%, a US$ 63,15

Minério de ferro: alta de 0,17%, no porto de Qingdao (China)

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