Ações do Itaú (ITUB4) disparam após preju com dívida da Americanas fazer “cosquinha” no lucro
Os outros bancos subiram por tabela, o petróleo deu uma forcinha e o Ibovespa fechou em alta de 1,97%. Enquanto isso, nos EUA, o bot do Google criado para rivalizar com ChatGTP cometeu uma gafe e derrubou os papéis da Alphabet.
O Itaú mostrou nesta quinta que é um Bruce Willis da bolsa brasileira: duríssimo de matar. Carregou uma dívida de R$ 1,3 bilhão da Americanas nas contas, e ainda entregou um ROE (retorno sobre o ativo) de tempos áureos: 19,3% (seria 21% sem a Americanas). A ação (ITUB4) fez juz ao resultado impressionante e subiu 8,27%.
Mas vamos por partes. Embora o escândalo AMER3 tenha estourado em janeiro – depois, portanto, da janela de tempo entre outubro e dezembro de 2022 que os balanços desta temporada cobrem –, os bancos que emprestaram dinheiro para a varejista (e agora estão de mãos abanando) precisam considerar esse buraco nababesco nas contas.
Você sabe da recuperação judicial, que vai adiar esses pagamentos por anos. O banco também. Aí o jeito é colocar na conta do trimestre que passou, e chamar de “evento subsequente”, que veio quando a folha do calendário já estava em 2023.
Funciona assim: Itaús, Bradescos e afins são obrigados a classificar suas operações de crédito de “AA” a “H”, passando por todas as letras do alfabeto entre essas duas. Quanto mais próximo do “H” está o cliente que pega o empréstimo, maior a chance de que ele dê calote.
O negócio do banco é prever quanto dinheiro costuma perder, em média, com cada tipo de cliente. Aí o segredo é distribuí-lo entre as categorias. Por isso, o banco calcula as provisões: uma certa quantidade de dinheiro que precisa estar no cofre para cobrir eventuais calotes. Esse percentual quem determina é o Banco Central. Um cliente AA exige 0% do valor do empréstimo como provisão. Um cliente A, 0,5%. Um cliente B, 1%. Um cliente H, 100%. (Veja aqui a tabela.) Em outras palavras: você não pode emprestar R$ 10 reais para um cliente H se não tiver outros R$ 10 guardadinhos para compensar o potencial calote.
Esse dinheiro das provisões, embora esteja são e salvo, é tratado como algo perdido nos balanços. É claro que sempre há uma chance de alguns dos clientes classe F ou G acabarem pagando o valor integral devido. E aí, o banco acaba reembolsando aquela grana. Mas, por via das dúvidas, o dinheiro das provisões já fica separado no cofre para tapar os buracos que podem vir.
O caso da Americanas é o oposto. A dívida da empresa habitava qualquer faixa do espectro entre AA e G. Quando o escândalo da Americanas estourou, o rating caiu para algo como ZZZ premium plus (rs) e a provisão da varejista precisou subir para 100%. Totalizar esse valor exigiu que o Itaú depositasse mais R$ 1,3 bilhão – o total devido pela varejista ao banco é de R$ 2,7 bilhões. Esse dinheiro embaixo do colchão é dado automaticamente por perdido. E deixa de contar para o lucro do banco.
A dívida da Americanas já existia no 4T22 – ela só estava classificada com um grau de risco menor –, aí o aumento na provisão associada à ela já foi considerado no balanço do trimestre passado. De acordo com o Valor, as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) do Itaú foram de R$ 9,9 bilhões no 4T22. Isso dá uma alta de 19,7% em comparação ao mesmo dado do 3T22. Boa parte dessa alta é culpa de AMER3.
Ainda assim, o Itaú lucrou R$ 7,6 bilhões no quarto trimestre de 2022, alta de 7,1% em relação ao mesmo período do ano anterior – isso apesar da Americanas. Aí pouco importou que o número veio 7,3% abaixo da previsão consensual de R$ 8,2 bilhões publicada pela Refinitiv. A subida foi grande o bastante para colocar o ITUB4 no ranking das maiores altas e das ações mais negociadas do dia. E ele ainda puxou os coleguinhas. Bradesco (BBDC4) fechou o dia em alta de 4,88%; Banco do Brasil (BBAS3), 2,36%. O papel do Santander, que também provisionou perdas para a Americanas, cresceu 4,84%.
Os números do Bradesco, que também deve sentir os efeitos da varejista, saem nesta quinta (9).
Against all odds
O setor bancário não trabalhou sozinho. A Petrobras também ajudou o índice da B3, encerrando o pregão em alta de 1,67%.
A petroleira se deu bem porque o petróleo se deu bem. Na verdade, os dois se deram bem na mesmíssima proporção. O Brent também fechou em alta de 1,67% apesar de, bem… muita coisa. A produção nos EUA aumentou, o que normalmente significaria mais oferta e, portanto, preços mais baixos. Os estoques nos EUA também aumentaram – pela sétima semana consecutiva, diga-se –, o que significa que há menos demanda, algo que também deveria derrubar a commodity. Por fim, as exportações americanas caíram 529 mil barris diários em relação à semana passada.
Quem segurou a cotação foi a China, como sempre. As expectativas em torno da recuperação econômica do tigrão asiático com o fim dos lockdowns estão gerando pequenos ralis de alta para o petróleo nos últimos meses, ainda que o barril não esteja ultrapassando a casa dos US$ 80 – bem abaixo dos preços além-US$ 110 alcançados com a Guerra na Ucrânia ano passado.
Razões para (não) acreditar
Com tanto otimismo no ar, mal houve espaço para esquentar a cabeça com a rixa entre Lula e o Banco Central. Tampouco os investidores tiveram olhos para os índices de Nova York, que fecharam em queda unânime. Foi um caso clássico de medo do Fomc: um dos membros do comitê de política monetária americano, Christopher Waller, fez um discurso duro em defesa do combate à inflação, e agora o mercado teme que a “Selic” americana alcance 6% antes de se estabilizar.
Fed à parte, um destaque negativo mais lúdico foi um ligeiro mico pago por uma nova inteligência artificial do Google.
O robozinho, chamado Bard, é uma tentativa de rivalizar com o fenômeno ChatGTP. Mas ele respondeu errado a uma pergunta – afirmou que o recém-lançado telescópio espacial James Webb foi o primeiro equipamento a fazer imagens de um planeta localizado fora do Sistema Solar, sendo que já temos registros assim desde 2004 (e eles foram feitos aqui da Terra, mesmo, por um telescópio gigantesco localizado no Atacama. A engenhoca é tão grande que o nome dela é VLT, de very large telescope. “Telescópio muito grande”).
Errar nesse Show do Milhão custou aproximadamente US$ 100 bilhões para o valor de mercado da Alphabet; GOGL34 fechou em queda de -7,64%.
Pode pôr na lista de motivos para estudar astronomia. Até amanhã.
Maiores altas
Itaúsa (ITSA4): 8,46%
Itaú Unibanco (ITUB4): 8,27%
São Martinho (SMTO3): 7,98%
Banco Pan (BPAC11): 5,17%
Raízen (RAIZ4): 5,11%
Maiores baixas
Gol (GOLL4): -5,38%
Pão de Açúcar (PCAR3): -5,17%
Hapvida (HAPV3): -3,66%
Carrefour (CRFB3): -2,73%
Embraer (EMBR3): -2,35%
Ibovespa: 1,97%, a 109.951 pontos
Em NY:
S&P 500: -1,11%, a 4.117 pontos
Nasdaq: -1,68%, a 11.910 pontos
Dow Jones: -0,61%, a 33.949 pontos
Dólar: -0,06%, a R$ 5,19
Petróleo
Brent: 1,67%, a US$ 85,09
WTI: 1,72%, a US$ 78,47
Minério de ferro: 0,71%, a US$ 125,00 a tonelada na bolsa de Dalian