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Agora a inflação dos EUA deu medo, Fed?

Pela primeira vez, membros do BC americano decidiram discutir mudanças nas regras de “impressão de dinheiro” adotadas na pandemia. Ficou para junho, mas assustou (mais) os investidores.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
Atualizado em 19 Maio 2021, 19h08 - Publicado em 19 Maio 2021, 18h42
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 (Tiago Araújo/VOCÊ S/A)
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E agora, a volta da inflação nos EUA é ou não é um problema? Pela primeira vez o Fed indicou ao mercado financeiro que também tem as suas preocupações. Foi de um jeito bastante sutil, claro. Uma espécie de “tá bem, a gente conversa sobre isso na próxima reunião”.

O lance é que, até ontem, só investidores mostravam alguma preocupação mais concreta. Os juros dos títulos americanos subiam, enquanto as bolsas recuavam, o melhor jeito que o mercado financeiro dizer que está com medo. Agora que o Fed está mais atento ao problema, a coisa azedou. Tanto que nesta quarta o mercado americano ficou no vermelho pelo terceiro dia seguido. 

O que mudou é que o Fed divulgou a ata da reunião de abril, quando decidiu mais uma vez manter o juro básico do país perto de zero. Além disso, os membros do BC americano votaram por manter a compra de títulos em US$ 120 bilhões por mês. Beleza.

Esse foi o combo de reação à crise causada pelo coronavírus, que o Fed adotou em março do ano passado. Um ano e um mês depois, alguns membros do órgão levantaram a mão para dizer uma coisa na linha “quem sabe o pessoal lá em Wall Street, a economia está indo melhor que o esperado e a gente deva repensar algumas dessas medidas”.

Aí eles combinaram de debater o tema mais a fundo na próxima reunião, marcada para junho.

E olha que eles falaram nisso antes da divulgação da inflação de abril. Ela foi de 0,80% em abril em ante março, a maior variação mensal em 12 anos. Até semana passada, o Fed defendia com unhas e dentes que a inflação alta é passageira, e que não tinha problema se a alta nos preços ultrapassasse a meta anual de 2%. Acontece que já ultrapassou bastante: nos últimos 12 meses a inflação foi de 4,2%.

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Além disso, esses membros do Fed “que levantaram a mão” começaram a dizer que talvez ela não seja tão de curto prazo assim. Um dos problemas é que as pessoas estão com dinheiro para gastar, mas a produção nas fábricas não se recupera no mesmo ritmo.  

Na reunião de junho, o índice de preços de maio também já terá sido divulgado.

Tem um outro detalhe: o que eles devem debater não é um aumento de juros. Eles concordam que a taxa precisa continuar perto de zero. A pauta deve se concentrar em uma eventual redução da compra bilionária de títulos, os US$ 120 bilhões mensais que fazem parte da “impressão de dinheiro” do Fed. 

Wall Street reagiu. Com o Fed atento à inflação, os juros dos títulos de dívida de longo prazo da economia americana avançaram. Os contratos de 10 anos, conhecidos como T-note, avançaram de 1,63% para 1,67%. Já os de 30 anos (T-bond) subiram para 2,37%, ante os 2,36%. Os juros mais altos tendem a atrair dinheiro para esses títulos mais seguros, o que derruba as bolsas. O S&P 500 caiu 0,29%, aos 4.115 pontos; Nasdaq, -0,03% aos 13.299 pontos; e Dow Jones, -0,48% aos 33.897 pontos. 

Outra consequência é o dólar subir ante moedas mais fracas, como o real. A moeda americana avançou 1,17%, cotada a R$ 5,31. 

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Commodities

O dia foi de tanta aversão a risco que as matérias-primas, em alta expressiva no ano, tiveram um tombo. O preço do minério de ferro, por exemplo, recuou 3,77%. 

Isso deixou o setor de mineração e siderurgia sem saída aqui no Brasil. A CSN liderou as quedas (3,98%), mas quem pesou foi a Vale. A empresa é responsável por quase 13% da carteira do Ibovespa, então qualquer queda dela já faz um estrago no índice. E foi uma desvalorização de 2,05%.  

Quem caiu também foi o petróleo. Culpa do aumento de casos de coronavírus na Ásia, que pode reduzir a demanda por combustível. Além disso, o mercado também está focado no eventual acordo nuclear entre o Irã e os Estados Unidos. A ideia é restringir o desenvolvimento de armas nucleares do país da Opep. Caso isso aconteça, cai a sanção de compra do petróleo iraniano por parte dos EUA, o que impulsionaria as ofertas de petróleo.

O tipo Brent (que é referência internacional) caiu 2,98%, enquanto o WTI (que é referência nos EUA) recuou 3,25%. A Petrobras acompanhou o movimento de baixa, ainda que mais modesta, e fechou o dia com perda de 0,76%. 

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Resultado: o Ibovespa não resistiu e cedeu 0,28%, aos 122.636 pontos. 

Frigoríficos e Eletrobras

Mas o dia não pode ser ruim para todo mundo. É o caso dos frigoríficos. Depois de caírem no último pregão por causa da suspensão das exportações na Argentina, os papéis das companhias reagiram. 

A BRF liderou entre os maiores ganhos do bloco (4,65%). A empresa anunciou que investirá R$ 319 milhões de reais em sua fábrica em Uberlândia, Minas Gerais. A unidade, que exporta 31 mil toneladas de alimentos por ano, terá sua capacidade expandida em 25%.

A Eletrobras também figurou entre as maiores altas:  4,17% (ELET3) e 3,62% (ELET6). 

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A votação da medida provisória que viabiliza a privatização da companhia iniciou logo após o fechamento do pregão. O plano original era começar mais cedo, mas partidos de oposição ao governo entraram com nova ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir a votação. De qualquer forma, a expectativa do mercado era de que a privatização fosse decidida hoje, por isso as ações encerraram o dia em alta. 

Ontem, o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA) divulgou um relatório com mudanças na MP que agradaram os investidores. Mas os governadores do Nordeste são contra. Eles apresentaram um documento afirmando que a privatização acarretará no aumento do preço da energia em pelo menos 8% para os pequenos consumidores e de até 15% para os grandes consumidores, como a indústria.

Quando a gente fala de privatização, leia-se a venda de novas ações da estatal de energia. A ideia do governo é reduzir a sua participação na Eletrobras. Esse processo é conhecido tecnicamente como capitalização. Somando as parcelas a cargo da União e do BNDES, o governo é dono de 58% da empresa. Agora, essa fatia deve ser reduzida a cerca de 45%. 

Bitcoin

Para quem gosta de fortes emoções, teve ainda a saga do bitcoin. A criptomoeda entrou em seu quinto dia seguido de quedas (-7,93%) e arrastou o resto das outras criptos. Mas quem olha esse número, nem imagina que a moeda digital caiu mais de 31% de manhã – descendo para pouco mais de US$ 30 mil – e subiu 33% à tarde.

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As oscilações estão relacionadas à decisão da China de proibir que instituições financeiras e empresas de pagamentos ofereçam serviços que envolvam transações em criptomoedas. Segundo o Banco do Povo da China (o BC chinês), moedas digitais não são consideradas moedas reais e por isso não podem ser usadas como forma de pagamento (com essa volatilidade, eles nem precisariam se preocupar com isso).

Mas a queda das criptomoedas começou na semana passada, depois que Elon Musk suspendeu a venda de carros da Tesla com pagamento em bitcoins e ainda sugeriu que a montadora poderia vender o US$ 1,5 bilhão investidos na cripto em fevereiro. 

Por sinal, foi o bilionário quem deu um empurrão para o dia terminar menos pior. Ele tuitou (claro, onde mais) que a Tesla tem mãos de diamante (com emojis e tudo), um meme da internet para dizer que a empresa não venderá os criptoativos, ainda que eles sejam voláteis. 

Ufa, foi um dia difícil para o mercado. Agora é esperar os investidores digerirem a promessa do Fed de discutir sobre a inflação e, quem sabe, tirarem Wall Street do jejum de altas. 

Maiores altas

Cemig: 5,07%

BRF: 4,56%

Eletrobras (ELET3): 4,17%

Marfrig: 4%

Eletrobras (ELET6): 3,62%

Maiores baixas

Cyrela: -4,03%

CSN: -3,98%

Embraer: -3,23%

Hering: -3,01%

CVC: -2,70%

Ibovespa: 0,28%, aos 122.636 pontos

Em NY:

S&P 500: -0,29 %, aos 4.115 pontos

Nasdaq: -0,03%, aos 13.299 pontos 

Dow Jones: -0,48%, aos 33.897 pontos 

Dólar: alta de 1,17%, a R$ 5,31

Petróleo

Brent: baixa de 2,98%, a US$ 66,66

WTI: baixa de 3,25%, a US$ 63,36

Minério de ferro: baixa de 3,77%, US$ 237,57 no porto de Qingdao (China)

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