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Americanas (AMER3) tem só R$ 800 milhões em caixa. Pedido de RJ é iminente

Valor some ante as dívidas de R$ 40 bilhões. No Ibovespa, previsão de juros americanos acima dos 5% freiam ganhos. Ainda assim, índice fecha em alta de 0,71%.

Por Júlia Moura, Alexandre Versignassi
Atualizado em 18 jan 2023, 19h17 - Publicado em 18 jan 2023, 19h08
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 (Caroline Aranha/Fotos: Getty Images e Divulgação/VOCÊ S/A)
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O cerco está fechando para a Americanas. Hoje, a empresa sofreu uma derrota na Justiça e teve R$ 1,2 bilhão bloqueado a pedido de um dos seus credores, o BTG. O dinheiro está depositado no próprio BTG.

Mais: de acordo com a coluna Pipeline, do Valor Econômico, a companhia tem apenas R$ 800 milhões disponíveis em caixa para serem utilizados imediatamente – e não os R$ 7,8 bilhões informados por Sergio Rial na semana passada. Sem injeção imediata de capital dos principais acionistas, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira da 3G Capital, o único remédio é a recuperação judicial. Assim, o pedido de RJ pode vir ainda hoje. 

A drástica mudança no caixa acontece porque os R$ 7,8 bilhões informados incluíam R$ 3 bilhões em antecipação de recebíveis de fornecedores que os bancos iriam antecipar. Mas, dado o cenário, o dinheiro está travado. A medida cautelar que o BTG conseguiu na Justiça bloqueou mais R$ 1,2 bi. O BV também conseguiu bloquear R$ 220 milhões. Outro R$ 1 bi está em letras do Tesouro sem liquidez imediata. E R$ 1,6 bilhão do total que Rial tinha contabilizado já foi queimado na operação do negócio.

Total: R$ 7 bilhões. Sobram R$ 800 milhões. Dinheiro de pinga. E não falta quem queira tirar essa cachaça das Americanas. 

É o caso do Goldman Sachs. O banco americano também foi aos tribunais para que seja cancelada a proteção de 30 dias que a Americanas conseguiu na Justiça. O banco americano quer exercer o vencimento antecipado dos contratos de derivativos da Americanas, que, segundo reportagem do O Globo, teria tido uma variação em seu valor de R$ 408 milhões nos últimos 30 dias, sendo apenas R$ 307 milhões nas últimas duas semanas. 

Esses derivativos são uma ferramenta de proteção das empresas para que suas dívidas não saiam do controle. Por um determinado juro, as flutuações de variáveis como o preço do dólar e a taxa de juros ficam à cargo do banco contratado. Por não acreditar mais na capacidade de solvência da Americanas, o Goldman corre para matar os contratos enquanto é tempo. 

E essas são apenas algumas das dívidas da companhia, que somam mais de R$ 40 bilhões. Entre elas também estão bonds (debêntures lançadas nos EUA). Os detentores dessas dívidas em dólar já convocaram a empresa para uma reunião amanhã. Nesta crise, o valor unitário dos bonds caiu de US$ 0,68 para US$ 0,20 no mercado secundário (onde rola a compra e venda de dívidas de empresas) – ou seja, a confiança de que um título de dívida da Americanas valha alguma coisa despenca quase tão rápido quanto as ações da empresa.

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Com tudo isso, os papéis da varejista voltaram a ter forte queda na bolsa: 8,42% para R$ 1,74. Antes do Americanas Day, a ação estava a R$ 12. A queda desde lá soma 85,5%. 

Magalu e Via, suas concorrentes, vinham subindo – por conta da expectativa de a competição no varejo diminuir com a eventual saída de campo da Americanas. Hoje, porém, a situação foi outra. A tragédia da Americanas contaminou a confiança do mercado no setor de varejo em si. Ambas tombaram mais de 6%. 

Ibovespa segue pleníssimo

Já o Ibovespa não saiu do positivo o dia todo – cortesia da recuperação dos bancos e da Vale (1,31%). Mas a subida desacelerou com a virada para baixo dos índices americanos (tombo de 1,56% no S&P 500). 

Pela manhã, a queda dos preços ao produtor nos EUA (PPI) animou os mercados, mas logo veio o veio balde de água fria: diretores do Fed reafirmaram que os juros devem superar os 5% (atualmente eles estão em 4,5%).

Em dezembro de 2022, o PPI teve a maior queda mensal desde que a pandemia começou (-0,5%), bem mais que o previsto (-0,1%). O que impulsionou a deflação foi a redução no preço de energia e alimentos. Sem eles, o núcleo do PPI subiu 0,1% em dezembro.

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Mas de nada adianta esse dado por si só. O banco central americano já afirmou que vai continuar subindo juros até ter certeza que a inflação cedeu. 

“Preferimos errar pelo lado de mais aperto monetário. A inflação irá desacelerar, mas não tão rápido quanto o mercado acha; ainda teremos alguma inflação no final do ano. Temos de reagir aos dados que temos agora e não aos que teremos no futuro”, disse James Bullard, um dos diretores do Fed. Para ele, os preços vão começar a baixar quando subirem o juro para 5%.

E os juros mais altos já cobram seu preço. As vendas no varejo americano diminuíram mais do que o esperado em dezembro (-1,1%), após queda de 1% em novembro frente a outubro. Nos EUA, o nível de poupança da população se aproxima de uma baixa recorde enquanto o saldo devedor dos cartões de crédito dispara.

Também é possível observar o efeito negativo de juros maiores nas demissões em massa de empresas de tecnologia, que dependem mais de empréstimos para continuar crescendo. De acordo com a consultoria Challenger, Gray & Christmas, foram 80.978 demitidos no setor de janeiro a novembro de 2022. E o número não para de aumentar. Hoje foi a vez da Microsoft entrar na lista, ao anunciar a demissão de 10 mil funcionários até setembro.

As demissões podem até vir a ser uma boa notícia para a economia americana. Um mercado de trabalho mais fraco reduz o poder de compra, o que leva os preços a pararem de subir, ou até caírem, fazendo com que os juros não precisem subir muito mais.

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Segundo o Capital Economics, dado o cenário, os EUA devem entrar em recessão já no primeiro semestre. Mas pode ser que ela não se espalhe mundo afora. O Citigroup reduziu a chance de recessão global de 50% para 30% neste ano, com a liberação das restrições contra a Covid-19 na China.

Dividendos da Petro

Está programado para amanhã um pagamento de R$ 21,9 bilhões em dividendos da Petrobras. Mas, se depender da Fup (Federação Única dos Petroleiros) e da Anapetro (Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobras), o dinheiro não vai pingar. Elas voltaram a pedir que a Justiça barre a distribuição – consideram que tamanha quantia lesa a companhia em nome de beneficiar a União, sua maior acionista, e o mercado financeiro. 

Caso role  o pagamento, a Petrobras terá distribuído R$ 207 bilhões em desde 2022, seguindo uma política do antigo governo federal de utilizar os proventos para financiar políticas públicas com caráter eleitoreiro, como o Auxílio Brasil de R$ 600 e o vale gás. Em nota, a FUP e a Anapetro defenderam que a Petrobras modifique sua política de dividendos, a fim de privilegiar “o aumento de investimentos da empresa e interesses da sociedade brasileira, e não apenas de acionistas minoritários”.

As ações da Petro (PETR4) fecharam em queda de 1,76% pressionadas tanto por essa tentativa de barrar os dividendos como pelo preço do  petróleo, que cedeu 1,09%.

Até amanhã.

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MAIORES ALTAS

EcoRodovias (ECOR3): 5,02%

CSN Mineração (CMIN3): 4,41%

Localiza (RENT3): 4,25%

3R Petroleum (RRRP3): 3,95%

EzTec (EZTC3): 3,82%

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MAIORES BAIXAS

Americanas (AMER3): -8,42%

Via (VIIA3): -6,67%

Magazine Luiza (MGLU3): -6,07%

CVC (CVCB3): -3,24%

Suzano (SUZB3): -2,66%

 

Ibovespa: 0,71%, aos 112.228 pontos 

 

Em Nova York

S&P 500: -1,56%, aos 3.929 pontos

Nasdaq: -1,24%, aos 10.957 pontos

Dow Jones: -1,81%, aos 33.297 pontos

 

Dólar: 1,12%, a R$ 5,1626

 

Petróleo

Brent: -1,09%, a US$ 84,98

WTI: -0,81%, a US$ 79,80

 

Minério de ferro: 1,85%, negociado a US$ 124,65 por  tonelada em Dalian (China)

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