BC promete Selic a 14% sem alívio em 2023 – VIIA3 e MRVE3 desabam em resposta
Campos Neto lembra que não há motivo para um otimismo exacerbado com a curva de juros. E o varejo chora.
Já faz algumas semanas que os investidores dormiam em paz com o consenso de que a Selic não passaria dos atuais 13,75%. Hoje, eles acordaram sem beijo do príncipe: o Ibovespa fechou em -2,17%. Apenas 7 das 92 ações do índice encerraram o pregão no verde.
Ontem à noite, Campos Neto lembrou a B3 que o mundo é um moinho – e que ele está prestes a transformar certas ilusões da Faria Lima em pó. Durante um evento organizado pelo jornal Valor Econômico, o presidente do Banco Central disse, em linhas gerais, que:
1. Parabéns para nós: o Brasil apertou sua taxa básica de juros antes dos EUA e da Europa, que agora encaram inflações mais resistentes que a nossa.
O resultado previsto dessa rédea curta são três meses seguidos de deflação – julho (que já saiu) mais agosto e setembro. Crédito principalmente do corte de ICMS sobre os combustíveis e da Petrobras, que cortou várias vezes os preços da gasolina e do diesel nas refinarias. Essas duas forças reduziram os custos com frete de todos os outros setores da economia – um alívio que tende a se refletir nos preços finais praticados nas gôndolas.
2. Porém, a guerra contra a alta de preços ainda não está ganha. Portanto, o provável é que a próxima reunião, marcada para os dias 20 e 21 de setembro, acabe com um reajuste, nas palavras de Neto, “residual” (leia-se: partiu arredondar em 14%). E que esse aperto permaneça por um inverno mais longo e tenebroso do que os analistas apostavam.
3. O Banco Central não entendeu bem o motivo de um mercado tão otimista com queda nos juros para 2023 – especialmente considerando que o mesmíssimo mercado não acredita no controle efetivo da inflação para o longo prazo (o Boletim Focus mais recente projetou inflação de 3,4% em 2024 – até baixa, mas acima da meta do BC, que será de 3% daqui a dois anos).
“Parece inconsistente projetar inflação acima do centro da meta, em particular para 2024 (…) e discutir queda de juros”, disse Bruno Serra, diretor de política monetária do BC, em outro pronunciamento, realizado em um evento organizado pelo Bradesco na manhã desta terça (6). “É uma coisa, no mínimo, desafiadora para quem está do lado de cá.”
Os pronunciamentos de Campos Neto e Bruno Serra entre ontem e hoje sacramentam os sinais mais conservadores que o Banco Central vinha dando nas últimas semanas. É o que o jargão de Wall Street denomina “postura hawkish”.
Isso desencadeou uma fileira de dominós: com essa nova expectativa de Selic no talo por (talvez) todo o ano de 2023, a vida do varejo fica mais difícil (já que os juros altos encarecem as compras a prazo). Logo, Magalu e Via desabaram na bolsa hoje, com -7,41% e -7,67%. O mercado imobiliário também devolveu parte dos ganhos que vinha tendo nos últimos dias (a construtora MRV liderou o ranking de baixas, com -8,51%).
Petrobras (PETR4, -3,69%) e Vale (VALE3, -2,37%), as duas âncoras do Ibovespa, não puderam ajudar: com o barril e o minério em queda na expectativa de uma recessão global, os vendedores de commodities naturalmente saem no prejuízo.
Para o investidor, resta se descabelar com o noticiário político atribulado previsto para o 7 de setembro. E lembrar que a preocupação do Copom é com a inflação, não com o humor do happy hour da Faria Lima.
Até quinta!
Maiores altas
Tim (TIMS3): 2,27%
Carrefour (CRFB3): 0,79%
BRF (BRFS3): 0,61%
Suzano (SUZB3): 0,58%
Telefônica (VIVT3): 0,57%
Maiores baixas
MRV Engenharia (MRVE3):-8,09%
Via (VIIA3): -7,35%
CVC (CVCB3): -6,94%
Magalu (MGLU3): -6,87%
Azul (AZUL4): -6,34%
Ibovespa: -2,17%, a 109.763 pontos
Em NY:
S&P 500: -0,40%, a 3.908 pontos
Nasdaq: -0,74%, a 11.544 pontos
Dow Jones: -0,54%, a 31.148 pontos
Dólar: 1,63%, a R$ 5,23
Petróleo
Brent: – 3,04%, a US$ 92,83 o barril
WTI: – 0,01%, a US$ 86,88 o barril
Minério de ferro: –0,61%, a US$ 97,00 a tonelada, na bolsa de Cingapura