BCs linha-dura jogam balde de água fria no mercado
Além do Copom, autoridades monetárias de EUA e Europa reforçam discurso hawkish contra a inflação, e petróleo cai quase 4%.
O mercado não gostou nada do recado do Banco Central na noite de ontem. O Copom manteve o tom hawkish das reuniões anteriores, agora mostrando preocupação com uma projeção de alta na inflação no segundo semestre. A leitura do mercado é que um corte na Selic em agosto, como esperava anteriormente, ficou improvável, e o ciclo de redução na taxa de juros deve demorar mais um pouco para se iniciar. E, quanto mais tempo a taxa básica de juros fica em 13,75%, maior o impacto para a economia.
Sem o tão esperado aceno a cortes no juro, o mercado aproveitou para realizar ganhos. Depois de bater os 120 mil pontos, o Ibovespa fechou em queda de 1,23%. A PETR4, que subiu mais de 4% ontem, caiu 1,26%.
O BCB não foi o único a bater o pé contra a inflação. Ontem e hoje, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse no Congresso americano que devem rolar mais dois aumentos de juros nos Estados Unidos. Isso, se tudo correr como o esperado, ou seja, se o mercado de trabalho americano finalmente perder força de maneira significativa, reduzindo a inflação. Caso contrário, o aperto monetário pode ser maior.
Hoje, o Departamento do Trabalho dos EUA divulgou que os pedidos de auxílio-desemprego na semana até 17 de junho somaram 264 mil, levemente acima dos 260 mil previstos. Os da semana anterior foram revisados para 264 mil, de 262 mil. Mas isso ainda é muito pouco. O desemprego no país atinge apenas 3,7% da força de trabalho por lá. Para se ter ideia, no Brasil, este número era de 8,8% no primeiro trimestre deste ano. E, mesmo assim, a inflação por aqui custou a baixar.
Nos EUA, a alta dos preços soma 4% nos últimos 12 meses. No Brasil, em 3,94%. Lá na terra do Tio Sam isso significa que o juro real está a 1,25% ao ano. Aqui, em 9,8%.
“Continuamos vendo níveis inaceitavelmente altos de inflação. Há mais trabalho a fazer. Altas de juros adicionais serão necessárias”, reforçou Michelle Bowman, diretora do Fed nesta quinta.
Sim, 4% é alto pros EUA. Por lá, a meta inflacionária é 2%. Aqui no Brasil, ela é de 3,25%, com 1,5 ponto percentual para mais ou para menos de tolerância.
Ou seja, já estamos dentro da meta, por isso a pressão para que se reduza os juros logo. Fora que o dólar baixou, as reformas fiscal e tributária tramitam no Congresso e a S&P elevou a perspectiva de risco do Brasil de estável para positiva. Por isso que os investidores contavam tanto com um alívio do BC.
Dentre as maiores quedas no pregão estão companhias super sensíveis à Selic, como as construtoras EzTec e MRV e as varejistas Via e Magalu.
Hawkish é o novo preto
Na Europa, mais uma onda hawkish: pela manhã, o BoE (BC da Inglaterra) subiu inesperadamente a taxa de juro em 0,50 ponto percentual, para 5%, diante de uma inflação persistente.
Joaquim Nagel, dirigente do BCE (BC da zona do euro), por sua vez, sinalizou que novas altas vêm por aí. Segundo ele, 3,5% ao ano ainda não é “alto o suficiente” para conseguir controlar a inflação na região.
As autoridades monetárias da Noruega e da Suíça também se somaram ao coro hawkish e prometeram novas altas em suas taxas de juros.
Com tantas iniciativas para esfriar a economia, o petróleo refletiu o medo de investidores de uma recessão e caiu mais de 4%.
O que o BCB precisa é nadar contra a corrente, mesmo que não seja de braçada. Um cachorrinho já ajuda o Brasil a não se afogar.
MAIORES ALTAS
Ambev (ABEV3): 1,77%
Hapvida (HAPV3): 0,95%
Vibra (VBBR3): 0,83%
Carrefour (CRFB3): 0,82%
Natura (NTCO3): 0,75%
MAIORES BAIXAS
EzTec (EZTC3): -6,64%
Alpargatas (ALPA4): -5,95%
Magazine Luiza (MGLU3): -5,05%
MRV (MRVE3): -5,04%
Minerva (BEEF3): -4,65%
Ibovespa: -1,23%, a 118.934 pontos
Em Nova York:
S&P 500: 0,37%, a 4.382 pontos
Nasdaq: 0,95%, a 13.631 pontos
Dow Jones: -0,01%, a 33.9467 pontos
Dólar: 0,09%, a R$ 4,7723
Petróleo
Brent: -3,61%, a US$ 74,35
WTI: -4,16%, a US$ 69,51 por barril
Minério de ferro: 1,13%, a US$ 113,62por tonelada na bolsa de Qingdao, na China.