Bolsas americanas têm virada histórica: de -4% para +0,63% na Nasdaq
Veja três explicações para a reviravolta – mas conte com a sabedoria de Galvão Bueno para interpretar o dia.
“Ninguém sabe o que faz; ninguém sabe para onde vai; ninguém sabe onde pula e ninguém sabe para onde olha.” A frase de Galvão Bueno foi usada pelo Faria Lima Elevator para, digamos, explicar o que aconteceu no final do pregão desta segunda-feira.
As bolsas americanas tombavam: o S&P 500 caía 3%; o Nasdaq afundava lá pela faixa dos -4%. No pior momento do dia, o principal índice americano chegou ao chamado patamar de correção, um jargão do mercado financeiro para uma queda superior a 10% do pico recente. O Nasdaq atingiu a marca na semana passada. Só que, de uma hora para outra, o terror foi passando. Resultado: os principais índices americanos, como que por milagre, fecharam em alta. S&P 500: +0,29%. Nasdaq: +0,63%.
É daqueles dias que a gente pode – e vai – listar algumas razões do mercado financeiro para a reviravolta. Mas trata-se mais de uma explicação com base no retrovisor, e não motivos exatamente racionais para a virada. Afinal, é difícil justificar uma guinada tão brutal do mercado. Mas vamos lá.
Motivo número 1): investidores andam preocupados com um possível conflito entre Estados Unidos e Rússia. O presidente russo, Vladimir Putin, tem enviado tropas para a fronteira da Ucrânia, e o temor do Ocidente é de que haja uma invasão. Nisso, o americano Joe Biden ameaça reagir com sanções. Nesta segunda, os EUA ordenaram a saída de diplomatas da Ucrânia, dado o risco iminente de invasão, disparando o medo no mercado.
Os ânimos baixaram depois de uma reunião de Biden com líderes europeus – em que eles teriam discutido soluções diplomáticas para o conflito. Menos risco de guerra, menos pânico em Wall Street.
Não só lá. As bolsas europeias, que fecharam bem antes dessa reunião, tombaram na faixa de 4%. Ficaram só com a parte do desespero. Para além da proximidade geográfica com a região do conflito, o bloco depende do gás que vem da Rússia para aquecer casas europeias no inverno. E os estoques nunca estiveram tão baixos.
Motivo número 2): com ou sem disputa com a Rússia, o mercado financeiro continua assombrado pelo medo de uma alta de juros agressiva por parte do Fed (o BC americano), como instrumento de controle da inflação. Uma alta de preços de combustíveis não ajudaria, claro. Nesta semana, os membros do Fed se reúnem, o que eleva a tensão do mercado. A primeira alta nos juros americanos, há quase dois anos perto de zero, só deve acontecer em março, mas agora deve vir a comunicação mais clara do que esperar desse movimento para drenar dólares da economia.
Investidores estão antecipando uma alta ainda mais agressiva neste ano, daí a fuga desesperada das ações, investimentos de risco, em direção a ativos mais seguros. Só que talvez investidores, por hoje, tenham achado que exageraram na dose.
Motivo número 3): os dip buyers reapareceram no mercado. Esses caras são investidores que acreditam na alta a longo prazo, e enxergam nas quedas excessivas uma oportunidade para comprar ações baratas. Eles compram o “fundo do poço”. No pior momento do dia, o índice Nasdaq acumulava uma queda de 16% em relação ao fim de 2021. Não é uma queda normal, equivale à queda livre no mundo das ações.
Com um detalhe: nada garante que esse fundo do poço foi alcançado. Simplesmente é impossível saber.
Por hoje, pouco importa. O alívio veio até para as criptomoedas, que ensaiam uma recuperação. O Bitcoin, por exemplo, beijou os US$ 30 mil, mas estava de volta aos US$ 36 mil no fim da tarde desta segunda.
Só o Ibovespa que, sem saber para onde olhar, perdeu o timing da recuperação. A bolsa brasileira fechou em queda de 0,92%, a 107.937 pontos. O máximo que rolou por aqui foi uma diminuição do tamanho da baixa. Das 93 ações do índice, 24 subiram.
Bem, amanhã é feriado pelo aniversário da cidade de São Paulo. E pela primeira vez, a B3 vai funcionar na data. Nada mais paulistano que trabalhar num feriado – pelo menos os investidores ganharam a chance de tentar tirar o atraso. Até lá.
MAIORES ALTAS
Pão de Açúcar (PCAR3): 7,33%
Marfrig (MRFG3): 4,68%
Braskem (BRKM5): 3,63%
BRF (BRFS3): 3,39%
Usiminas (USIM5): 2,40%
MAIORES BAIXAS
Magazine Luiza (MGLU3): -7,39%
Banco Inter (BIDI11): -6,84%
Banco Pan (BPAN4): -5,88%
IRB Brasil (IRBR3): -5,39%
Locaweb (LWSA3): -5,11%
Ibovespa: -0,92%, aos 107.937 pontos
Em Nova York
S&P 500: 0,29%, aos 4.410 pontos
Nasdaq: 0,63%, aos 13.855 pontos
Dow Jones: 0,30%, aos 34.366 pontos
Dólar: 0,88%, a R$ 5,5032
Petróleo
Brent: -1,84%, a US$ 86,27
WTI: -2,15%, a US$ 83,31
Minério de ferro: -2,82%, negociado a US$ 133,10 por tonelada no porto de Qingdao (China)