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Bolsonaro (quase) reconhece derrota. Ibovespa sobe 0,77% e dólar cai 0,92%

Aceno a uma transição pacífica – feita por Ciro Nogueira, e não pelo presidente – confirma as expectativas e acalma o mercado. Na China, rumores de reabertura da economia também animam.

Por Bruno Carbinatto
1 nov 2022, 18h05
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 (Brenna Oriá/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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Foram mais de 40 horas de silêncio. E menos de dois minutos de fala. Mas Jair Bolsonaro finalmente falou, pela primeira vez, depois de ser derrotado nas eleições de domingo.

O mercado fez a festa quando a notícia de que haveria um pronunciamento veio à tona. O Ibovespa, que já estava no azul, acelerou a alta nas últimas duas horas do pregão. Foi à máxima do dia (1,92%) logo no início do pequeno discurso, quando o atual presidente deu a entender que poderia condenar os movimentos golpistas que fecham rodovias pelo Brasil e pedem por medidas antidemocráticas.

A euforia durou tão pouco quanto o próprio discurso. A tão esperada fala veio basicamente vazia de conteúdo. Bolsonaro não reconheceu diretamente a derrota, não citou o resultado de domingo, não passou nem perto do nome de Lula. Suas “críticas” aos movimentos extremistas foram breves, ambíguas e nada assertivas – reconheceu a legitimidade dos “protestos”, mas disse que não podem ser violentos.

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O mais perto que Bolsonaro chegou de reconhecer a própria derrota foi quando, logo antes do pronunciamento, cochichou para Ciro Nogueira, ministro-chefe da Casa Civil: “Vão sentir saudades da gente”. De resto, falou apenas com e para seus apoiadores da chamada “ala ideológica”.

Coube ao próprio Ciro Nogueira, em uma fala também breve, confirmar que haverá uma transição pacífica entre o governo do atual mandatário e a gestão petista. De certa forma, isso serviu para que Bolsonaro admitisse a derrota sem ter que falar com todas as palavras.

Só isso, porém, não serviu para justificar um otimismo entre investidores, até porque ninguém esperava que realmente o atual governo de fato tentasse contestar o resultado das eleições. Nos últimos dois dias, autoridades de todo o mundo reconheceram a vitória de Lula; mesmo por aqui, governadores e outros políticos, incluindo os aliados de Bolsonaro, fizeram o mesmo. 

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Mais: os movimentos antidemocráticos, apesar de causarem barulho, são minoritários e não tiveram ampla adesão popular – e já começam a ser desmontados em todo o país, após ações dos governadores e das polícias locais. A leitura predominante, então, é que por estar isolado, Bolsonaro não teria forças para ir contra ao resultado democrático.

No fim, o discurso, feito meia hora antes do pregão fechar, não mudou muita coisa no humor. O Ibovespa terminou o dia com alta de 0,79%, aos 116.958 pontos, patamar que já se mantinha antes da notícia de que haveria um pronunciamento. O volume financeiro foi forte, de R$ 40,7 bilhões – num dia comum, esse número costuma rondar os R$ 30 bi.

O dólar, por sua vez, teve um dia bastante instável, mas fechou em baixa de 0,92%, a R$ 5,1186. Ontem, no pregão pós-eleitoral, a moeda americana já tinha fechado o dia em -2,54%.

No segundo dia da vitória de Lula, e agora com Bolsonaro parecendo abandonar o discurso golpista, a novela política começa a deixar de ser a pauta número um da Faria Lima. 

Se a política econômica do petista, até então misteriosa (Lula não anunciou o nome de seus ministros), causa algum tipo de medo nos investidores, essa preocupação ainda não reflete na bolsa brasileira. Desde a vitória do ex-presidente, o Ibovespa tem alta de 2%.

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Mudança também na China?

Até os papéis da Petrobras fecharam no azul hoje, apesar do “fator Lula”. Ontem, eles haviam desabado exatamente porque as chances de uma gestão petista privatizar a estatal é zero. Hoje, porém, tiveram alta leve (PETR3, 0,33%; PETR4, 0,17%), graças à valorização do petróleo no mercado internacional. 

É que notícias da China foram tão importantes para o pregão desta terça-feira quanto a novela política brasileira. Na verdade, não foram exatamente notícias, mas sim rumores.

Nas redes sociais do país asiático, começaram a se espalhar boatos de que o governo chinês estaria se preparando para, finalmente, acabar com a política de “Covid zero” por lá. A China é o único país entre as grandes economias a manter regras extremamente restritivas para conter o avanço do vírus. O efeito colateral disso, é claro, é uma desaceleração na segunda maior economia do mundo.

Os boatos diziam que, inclusive, o governo estaria preparando uma espécie de “comitê de reabertura” para organizar a transição à normalidade. No entanto, nenhuma fonte oficial confirmou a informação; pelo menos uma autoridade chegou a dizer que não estava ciente sobre a existência de tal comitê.

Fato ou fake, qualquer perspectiva de uma reabertura chinesa, mesmo com base em rumores, faz com que o preço das commodities avancem. Na bolsa de Dalian, o minério de ferro avançou 2,45% hoje. O petróleo tipo Brent, por sua vez, subiu 2%.

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Aqui, ações desses setores reagiram também com forte alta. A Vale (VALE3), de maior peso no índice, avançou 3%. 

Não dá para dizer que o fator político foi totalmente deixado de lado, é claro. Os papéis da Petrorio (PRIO3), empresa privada, avançaram quase 5%; os da 3R Petroleum (RRRP3), mais de 1%. Os da Petrobras se mantiveram tímidos, ainda que no azul.

Agora, investidores vão curtir o feriado, mas não devem se desligar 100% nesta quarta-feira. É que, nos Estados Unidos, tem evento importante: o Fed anuncia sua nova decisão de política monetária. Espera-se que o banco central americano suba os juros por lá em 0,75 ponto percentual pela quarta vez seguida, numa tentativa de lutar contra a inflação alta e persistente.

Dias de decisão do Fed costumam ser sensíveis para as bolsas, já que qualquer palavra de Jerome Powell, o presidente do banco, pode mudar o humor dos investidores abruptamente. Hoje, já sofrendo por antecedência, os índices americanos fecharam em baixa. A ver se o mau humor se justificará.

Bom feriado.

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Maiores altas

Copel (CPLE6): 8,92%

CSN Mineração (CMIN3): 7,58%

IRB (IRBR3): 6,38%

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São Martinho (SMTO3): 6,30%

Dexco (DXCO3): 5,88%

Maiores baixas

CIelo (CIEL3): -7,73%

Hypera (HYPE3): -3,74%

Totvs (TOTS3): -3.17%

Carrefour (CRFB3): -2,67%

Braskem (BRKM5) -2,55%

Ibovespa: 0,77%, aos 116.928 pontos

Em Nova York

Dow Jones: -0,25%, aos 32.650 pontos

S&P 500: -0,41%, aos 3.856 pontos

Nasdaq: -0,89%, aos 10.890 pontos

Dólar: -0,92%, a R$ 5,1186

Petróleo

Brent: 1,98%, a US$ 94,65 

WTI: 2,12%, a US$ 88,37 

Minério de ferro: 2,45%, a US$ 86,38 a tonelada na bolsa de Dalian (China)

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