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Brasil preso entre a inflação americana e a PEC Kamikaze

Câmara aprovou em 1º turno o pacote de mais de R$ 40 bilhões para turbinar a eleição de Bolsonaro. Entenda quem pagará a conta.

Por Tássia Kastner, Camila Barros
13 jul 2022, 08h17
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 (Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
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Bim dia!

O dado econômico mais importante do mundo é a inflação oficial americana – pelo menos no dia de hoje. A expectativa dos economistas é que os preços nos EUA, medidos pelo CPI, tenham subido 8,8%.

Quando se fala da terra de Joe Biden, é uma inflação alta para dedéu, a maior desde 1981. E mesmo assim, existe algum otimismo no ar. Economistas começam a suspeitar que esse possa finalmente ser o pico. Primeiro porque os preços das commodities começaram a cair, e isso deve aliviar o bolso dos consumidores nos próximos meses.

Segundo que, com o bolso curto e outras prioridades no verão, americanos estão reduzindo as compras de roupas e outros bens de consumo. As varejistas anunciaram descontos expressivos para tentar baixar os estoques. Isso também pode significar alívio em geral.

E alívio nos EUA é alívio também para o mundo, já que a alta de juros do Fed para segurar a inflação tem feito o dólar se valorizar mundo afora. É como se os americanos tivessem socializando com o mundo a disparada de preços deles. Pois é.

Se o Fed começa a ver no horizonte um alívio de preços, pode eventualmente precisar apertar menos o torniquete da “Selic” deles. Aí o dólar tende a perder força.

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Só não espere isso para o Brasil. Ontem a moeda americana fechou a R$ 5,44, maior patamar desde meados de janeiro, o que diminuiu qualquer alívio de preços por aqui. A bagunça global ajudou? Claro. Mas Brasília também tem culpa no cartório.

Ontem os Deputados aprovaram em primeiro turno a PEC Kamikaze, que libera mais de R$ 40 bilhões em benefícios sociais até o fim do ano. E logo depois, Arthur Lira, presidente da Câmara, suspendeu a votação dos destaques, alterações no texto principal, sob a alegação de que o sistema eletrônico apresentava instabilidade. Ele chegou a acionar a Polícia Federal. Ninguém sabe o que aconteceu. O lance é que Lira não seguiu as regras da casa para interromper o plenário, que poderia durar no máximo uma hora. Ele deixou a suspensão valendo até hoje de manhã, para não ter que esperar que todos os Deputados marquem presença novamente. No dialeto de Brasília, se chama manobra.

Antes esse fosse o maior dos problemas do Brasil hoje. O fato é que a PEC Kamikaze dribla a lei eleitoral, que existe para evitar que o governo de turno abra o cofre para comprar votos, o teto de gastos e o próprio rito legislativo de aprovação de PECs. As “bondades”, o jeito que o ministro da Economia, Paulo Guedes, quer ver chamada a proposta eleitoreira, foram contrabandeadas para dentro de uma PEC com outra proposta – e que já vinha em discussão antes.

O malabarismo eleitoreiro cobrará um preço salgado. Primeiro, haverá o despejo de dinheiro na economia justamente quando o Banco Central tenta enxugar uma parte da grana para controlar a inflação. Mas isso vai passar um tanto despercebido, já que o corte de impostos sobre combustíveis fará a inflação cair no curto prazo – de maneira artificial.

O estouro vem em 2023, quando a grana das bondades deixar de pingar e os impostos voltarem ao patamar anterior. E lá a economia tenderá a estar em frangalhos. Investidores cobram juros cada vez mais altos para financiar o governo. Economistas começam a prever que a nossa Selic precisará subir para 14% para dar conta das “bondades”. 

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O que é lindo para quem tem dinheiro para colocar na renda fixa, mas péssimo para um país que quer atrair investimentos e crescer de verdade, e não apenas tapar um buraco nas eleições.

Boa quarta.

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humorômetro: o dia começou com tendência de alta

Futuros S&P 500: 0,14%

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Futuros Dow: 0,10%

Futuros Nasdaq: 0,24%

às 8h08

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): -0,81%

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Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,79%

Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,88%

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às 8h08

Fechamento na Ásia

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Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 0,18%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,29%

Hong Kong (Hang Seng): -0,22%

Commodities

Brent*: 0,60%, a US$ 100,09

Minério de ferro: 1,95%, a US$ 110,30 por tonelada em Singapura

*às 8h10

Agenda

9h Câmara deve votar destaques e 2º turno da PEC Kamikaze

9h IBGE divulga vendas no varejo em maio

9h30 EUA divulgam a inflação oficial do país, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI)

15h Fed publica Livro Bege, com as condições da economia americana

market facts

Dia das varejistas

Ontem foi dia de respiro para as varejistas da bolsa: Americanas, Via e Magazine Luiza estiveram entre as maiores altas do pregão. As três companhias atingiram o fundo do poço no último dia 4. Desde então, as ações vêm subindo: Americanas avançou 34,76%, Via 39,34% e Magalu 37,55%. Apesar de julho ter dado uma trégua pro varejo, a situação no acumulado do ano continua desastrosa: queda de 46% para AMER3, de 51% para VIIA3 e de 59% para MGLU3. Os desafios do setor também persistem – competição acirrada, aumento dos custos de logística e queda nas vendas online.

Vale a pena ler:

Musk vs. Twitter

Desde que o Twitter aceitou a oferta de Elon Musk, em abril, as ações da companhia perderam mais de 30% do valor – os investidores desconfiavam, desde o início, que o acordo não sairia como combinado. Não deu outra. Musk está tentando desistir da compra e tudo indica que uma longa batalha judicial será travada entre os dois lados. Nesta reportagem, o New York Times explica como o empresário corroeu a imagem pública do Twitter ao expor dificuldades financeiras e falta de perspectiva financeira da empresa. 

Q&A: PEC Kamikaze

A Câmara dos Deputados começou a votar ontem a PEC Kamikaze. A proposta, que vale só até dezembro deste ano, aumenta o valor de benefícios sociais e cria auxílio para caminhoneiros e taxistas. O Senado já aprovou a medida, que terá custo estimado de R$ 41,3 bilhões para além do teto de gastos. A Folha preparou um perguntas e respostas sobre os detalhes da PEC.

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