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BRFS3 lidera quedas de frigoríficos com gripe aviária, e Biden não emociona Ibov

Apesar do fim do impasse em torno da dívida pública americana, a bolsa brasileira caiu nesta segunda de baixo volume de negócios e feriado nos EUA.

Por Bruno Vaiano
29 Maio 2023, 17h57
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 (Juliana Briani/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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Era para ser um dia ótimo. O novo arcabouço fiscal está no Senado. Biden fechou um acordo preliminar com McCarthy, o presidente da Câmara dos EUA, para resolver o impasse em torno do teto da dívida pública. Uma alta inesperada na cotação do minério de ferro (a commodity está em queda desde março) tinha tudo para ajudar as ações de mineradoras e siderúrgicas. E o Boletim Focus desta segunda trouxe uma projeção menor para o IPCA de 2023: 5,71%, versus 5,80% na edição da semana passada. 

Mas não teve choro nem vela: o Ibovespa abriu a semana em queda de 0,52% Entre os culpados, estão as petroleiras, os bancos e os frigoríficos: os investidores estão assustados com o terceiro caso de gripe aviária registrado recentemente no estado do Rio de Janeiro. Desde 22 de maio, o Brasil está em estado de emergência zoossanitária por causa do vírus H5N1. A BRF liderou os prejuízos no setor, fechando em queda de 3,29%.

Vale dizer que foi um pregão mequetrefe. As bolsas americanas estão fechadas para o Memorial Day – dia de celebração dos mortos em guerras –, e o volume de negócios na B3 tende a ser bem menor quando os investidores brasileiros não têm Wall Street para usar de parâmetro. Nossa bolsa movimentou “apenas” 11 bilhões hoje, quase um terço do habitual. 

Na falta de negociações para valer nos EUA, os futuros são um bom termômetro do humor por lá, é claro – em feriados como hoje, eles dão um vislumbre de como NYSE e Nasdaq estariam se comportando caso estivessem abertas. Mas a verdade é que o pessoal em Nova York demonstra animação contida com o fim do imbróglio da dívida: às 16h, o S&P 500 subia 0,27% e o Dow Jones, 0,14%. 

A bolsa com futuros mais ouriçados era a Nasdaq, que subia 0,50%, mas essa alta tem um ingrediente importante: o surto de interesse em ações de empresas de tecnologia envolvidas com inteligência artificial, liderado pela explosão recente nos preços dos papéis da fabricantes de chips Nvidia, que produz as placas usadas para treinar bots como o ChatGPT. 

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Outro bom referencial, na ausência de expediente em Manhattan, são as bolsas europeias. Mas Londres, Paris e Frankfurt fecharam em ligeira baixa. Essa alegria contida com a trégua entre Biden e McCarthy é uma reação razoável considerando que o fim dessa dor de cabeça é o começo de outras. 

Por um lado, o calote seria desastroso para a boa reputação dos títulos públicos americanos, os treasuries – eles são considerados sinônimo de investimento seguro pela percepção generalizada de que o governo americano é o credor mais confiável do mundo. Um indicador particularmente importante para averiguar a reação ao acordo é o precificação dos credit default swaps (CDS), papéis que representam uma espécie de seguro contra calotes. Os CDS de 1 ano caíam 12,8% hoje à tarde, os de 10 anos recuavam 10,9%. 

Por outro lado, a suspensão do limite de US$ 31,4 trilhões até 2025 – que em princípio isenta Biden do problema, já que seu mandato vai só até 2024 –, libera o Tesouro americano para emitir mais títulos públicos. O Bank of America (BofA) prevê US$ 1 trilhão em dívida fresquinha no terceiro trimestre. Esse movimento é atraente para os bancos privados, que preferem comprar esses títulos a emprestar dinheiro para empresas ou clientes pessoa física. Isso aumenta os juros dos empréstimos. Também é atraente para as próprias empresas e pessoas físicas, que podem preferir comprar títulos a depositar dinheiro no banco. 

O BofA calcula que as consequências dessa emissão equivalem às de uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros americana. Isso põe ainda mais pressão no já fragilizado sistema bancário, que lida com a ressaca da quase-crise de março, quando o SVB faliu e o Credit Suisse foi comprado às pressas pelo UBS. Em paralelo, a emissão massiva de títulos tira grana de ações e outros ativos de risco, o que é ruim para as bolsas. 

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O novo acordo deve ser votado na quarta-feira, e ainda não se sabe qual parcela da maioria republicana na Câmara vai acompanhar McCarthy. Há uma ala mais conservadora do partido que permanece avessa a alguns termos do documento (como a já mencionada decisão de prolongar o estouro do teto até depois das eleições presidenciais de 2024).

Se essa alta “virtual” de 0,25 p.p. nos juros já joga água no chopp das bolsas, o risco de uma alta bem real nos juros é cada vez maior. Esta semana teremos Payroll (o relatório de desemprego dos EUA) e a divulgação do Livro Bege do Fed  – um relatório sobre a situação econômica americana publicado oito vezes por ano. Ambos são termômetros importantes para prever os próximos passos no combate à inflação

O país lida com um caso crônico de alta nos preços desde o ano passado, e as gôndolas não estão desacelerando no ritmo que o banco central americano gostaria para bater a meta de 2% ao ano. Embora os últimos aumentos na “Selic” dos EUA sequer tenham tido tempo de manifestar qualquer efeito terapêutico sobre a economia, a chance de mais uma alta de 0,25 p.p. na próxima reunião do comitê de política monetária já é calculada pela bola de cristal do mercado em 60%, contra 25% uma semana atrás. Ou seja: o pessimismo tomou conta. 

Amanhã Wall Street volta bem-humorada da segunda de descanso e terá sua chance de reagir ao acordo da dívida. A ver se os investidores vão ver o lado meio vazio ou o meio lado cheio do copo. 

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Maiores altas

Cogna (COGN3): 3,99%
CVC (CVCB3): 3,69%
Eztec (EZTC3): 2,80%
IRB (IRBR3): 2,31%
Raízen (RAIZ4): 2,27%

Maiores baixas

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Vibra (VBBR3): -3,47%
BRF (BRFS3): -3,29%
Fleury (FLRY3): -2,43%
Equatorial Energia (EQTL3): -2,11%
Energisa (ENGI11): -2,00%

Ibovespa: 0,52%, a 110.333 pontos. 

Em NY: Bolsas fechadas por causa do feriado nos EUA.

Dólar: 0,48%, a R$ 5,01.

Petróleo

Brent: 0,16%, a US$ 77,10.
WTI: sem negociações por causa do feriado nos EUA. 

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Minério de ferro: 

1,93%, a US$ 103,05 a tonelada na bolsa de Cingapura;
4,89%, a US$ 101,58 a tonelada na bolsa de Dalian.

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