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Clarissa Sadock tem a missão de transformar a AES Brasil em uma gigante

Nova CEO prepara crescimento em energia solar e eólica e ainda tem a tarefa de migrar a empresa para o Novo Mercado da B3.

Por Juliana Américo
Atualizado em 18 fev 2021, 21h31 - Publicado em 8 fev 2021, 08h00
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 (Carlos Pedretti/VOCÊ S/A)
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Em 2015, a então AES Tietê começou um processo de transformação. Ela fabricava seu produto, energia, exclusivamente por meio de usinas hidrelétricas. Nos últimos anos, passou a montar parques de geração eólica e solar. Nos próximos, pretende investir R$ 7,5 bilhões para elevar a sua capacidade de geração dos atuais 3,9 GW para 5,2 GW (para comparar: a Eneva, sua concorrente, tem 2,8 GW).

No início de 2020, a empresa esteve envolvida em uma negociação de fusão com a Eneva. Na época, a companhia avaliava a AES Tietê em R$ 7,9 bilhões e ofereceu uma proposta de R$ 1,99 bilhão com o restante em troca de ações. A AES americana, controladora da empresa, não aceitou.

O plano é andar com as próprias pernas. Para marcar o momento, a empresa mudou de nome em novembro do ano passado, para AES Brasil. E, além de ampliar sua capacidade de geração, pretende migrar para o Novo Mercado, o segmento de maiores exigências de governança corporativa da B3. Tudo sob uma nova liderança. Clarissa Sadock, de 44 anos, assumiu em janeiro o cargo de CEO. Ela substituiu Ítalo Freitas, que estava como presidente há cinco anos e assumiu como VP de Novos Negócios da matriz na América do Sul – que cuida de Argentina, Chile e Colômbia, além do Brasil.

A carioca, formada em Economia, passou por Claro, Contax e Aracruz Celulose. Começou na geradora de energia em 2004 e chegou ao cargo de vice-presidente de finanças e relações com investidores em 2017. Aqui, ela conta sobre o novo momento da empresa – e da sua vida.

 

Quais são os desafios de assumir a presidência de uma companhia que passa por uma reestruturação?

Estamos em um momento próspero, trabalhando nossa estratégia de crescimento. Tanto que, no ano passado, fizemos algumas aquisições para energia eólica. Agora, estamos não só em M&A [fusões e aquisições, em inglês], mas também na construção de novas plantas. Além disso, precisamos estar cada vez mais próximos do cliente. E eu diria que esse é meu grande desafio hoje: conhecer o cliente, entender o que ele precisa. O setor elétrico sempre foi um segmento muito regulado, no qual a energia produzida pelas geradoras era vendida pelas distribuidoras. Hoje, o mercado livre de energia permite que as indústrias e grandes comerciantes estejam em contato direto com as geradoras [as compras podem ser feitas diretamente]. Então, precisamos criar produtos que atendam às necessidades desses clientes.

Por isso que vocês lançaram uma plataforma de venda, certo?

Sim. Lançamos a Energia+ em novembro do ano passado. É uma plataforma de venda de energia para o varejo, criada justamente para atender essas empresas que querem fazer a migração para o mercado livre. Na verdade, nós já tínhamos um relacionamento com esse tipo de cliente, mas era uma relação mais bilateral. A plataforma é muito importante para impulsionar o mercado livre. A ideia é entregar um produto mais simples. Hoje, para um cliente sair da distribuidora e ir para o mercado livre de energia, ele tem que fazer investimentos. É preciso mudar a entrada de energia, fazer obras… E tudo isso tem um custo. Então criamos uma plataforma colaborativa com parceiros. Eu consigo disponibilizar alguém que faça as mudanças necessárias. O cliente pode fazer tudo por conta própria, se quiser. Mas, se ele precisar de ajuda, eu tenho parceiros disponíveis.

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No ano passado, a AES recebeu uma proposta da Eneva para uma fusão. Por que vocês decidiram se manter independentes?

Fizemos uma avaliação profunda na proposta e entendemos, junto com o conselho administrativo da companhia, que não era algo interessante do ponto de vista financeiro, nem do estratégico. Somos uma empresa 100% renovável, alinhada às melhores práticas de ESG do mercado. E a fusão não seguia essa linha [a Eneva é especializada em usinas termelétricas].

Por que vocês decidiram investir em energia eólica e solar?

Nós acreditamos nesse modelo de ser 100% renovável. Essa é uma bandeira da companhia e faz parte do nosso plano de crescimento. A energia renovável é uma realidade, tem peso competitivo e os clientes têm metas cada vez maiores de aumentar o percentual de energia limpa em seus portfólios. Como já temos expertise na energia hídrica, focamos em energia eólica e solar, mesmo porque essas fontes se complementam. Por exemplo, num ano em que chove muito, venta menos; então vai ter uma queda de um lado da geração e um aumento no outro. Isso é muito importante para que possamos crescer com fluxo de caixa robusto.

Como vocês incentivam a inovação dentro da companhia?

O Ítalo Freitas [ex-CEO da AES Brasil] liderou a criação do nosso centro de operações em Bauru. Isso trouxe uma vantagem competitiva muito grande para nossa operação, porque a gente consegue controlar todos os nossos ativos em um único centro. Trabalhar dessa forma não garante só eficiência financeira, mas também concentra inteligência, e isso aprimora a forma como operamos as plantas. Também estruturamos de forma mais organizada o nosso programa de diversidade e inclusão. Ter um time diverso é muito importante na construção das inovações e para garantir um alto nível de competitividade no mercado. Nosso time de operação é majoritariamente masculino. Para o parque eólico de Tucano, na Bahia, anunciamos a contratação de uma equipe 100% formada por mulheres. Estamos oferecendo inclusive um programa de formação e capacitação para as interessadas lá no Senai de Salvador.

A AES sempre foi uma das grandes pagadoras de dividendos da bolsa. Como vocês pretendem continuar assim, mesmo com os planos de alavancar os investimentos?

Somos grandes pagadores de dividendos e somos também grandes geradores de caixa. O objetivo é otimizar a nossa capacidade financeira. Quanto mais eu cresço, mais dividendos consigo pagar. Para ter essa otimização, foi pensada uma mudança na nossa estrutura para aumentar a capacidade de alavancagem, ou seja, nossa capacidade de colocar dívida no nosso negócio. Além disso, foi criada uma nova holding onde todos os nossos acionistas minoritários vão estar. Como anunciamos no ano passado, estamos trabalhando na migração da AES Brasil para o novo mercado, dando o mesmo direito de voto a todos os acionistas da empresa. Vamos levar a companhia para o mais alto grau de governança da bolsa brasileira e do mercado. Isso aumenta o interesse dos investidores.

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Como você se preparou para o cargo de CEO?

Me tornei diretora aos 31, então estou em cargos de alta liderança há 13 anos, e sem dúvida a gente carrega muito do que aprendeu ao longo da nossa experiência profissional. Quanto mais você cresce na organização, mais é importante essa capacidade de liderar e de delegar. O que mais me preparou foi passar por diversas situações na minha carreira, como atuação em planejamento financeiro, estratégico e reestruturações. Gosto de observar tudo, de entender as situações e as decisões. Também aprendi muito com os diversos líderes que tive ao longo da carreira.

Que dica daria para os jovens que estão entrando no mercado de trabalho?

Acho que o mais importante é escolher uma profissão que goste muito e buscar por uma organização na qual você se identifique com os valores. Porque só gostando do que a gente faz para ser capaz de dedicar o tempo necessário para alcançar os nossos objetivos.

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