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Compre a Tesla, e espere 1.328 anos até o dinheiro dar retorno

Após ver suas ações subirem 727% no ano e chegar a um P/L monstro, montadora de Musk vai estrear nesta segunda no S&P 500. É bolha? 

Por Alexandre Versignassi
18 dez 2020, 20h27
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 (Tiago Araujo/Você S/A)
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Hoje foi o último dia de adolescência da Tesla. A partir de segunda-feira (21) ela vira gente grande: passa a integrar o S&P 500, o clube das 500 maiores empresas americanas. Em valor de mercado, ela já é a maior montadora do mundo faz tempo: são US$ 640 bilhões – o dobro da Toyota (US$ 214 bi) e da Volkswagen (US$ 98 bi) juntas.

Faltava dar lucro. Toyota e Volkswagen, a segunda e a terceira maiores em valor de mercado, lucraram, respectivamente, US$ 16,9 bi e US$ 23,6 bi em 2019. Enquanto isso, a Tesla fechou o ano passado com um prejuízo de US$ 862 milhões – valor que se somou aos US$ 5 bilhões que a montadora já tinha dado de prejuízo desde 2014. 

Mas essa história começou a mudar. Faz cinco trimestres que a Tesla registra lucro. E, para entrar no S&P 500, sua empresa precisa apresentar pelo menos quatro trimestres seguidos no azul – além de valer mais de US$ 8,2 bilhões (fácil para a Tesla) e estar entre as mais negociadas da bolsa (idem).

Os tais dos lucros são relativamente pequenos, mas sólidos. Nos últimos 12 meses, a Tesla amealhou algo próximo de US$ 500 milhões. Pouco perto do que as montadoras tradicionais tiram. Mas o fato é que 60% desse resultado positivo está no último trimestre (US$ 331 milhões). Sim, uma trajetória bem ascendente. 

A produção de carros da Tesla também cresce. No terceiro trimestre de 2020, saíram 145 mil da linha de montagem. Não dá nada perto de uma Volkswagen, que faz 3 milhões de veículos no mesmo período. Mas estamos falando de um crescimento de 50% em relação ao mesmo período do ano passado. 

É com essas credenciais que a montadora de Elon Musk estreia no S&P 500. E isso não é só uma honraria, claro. Fazer parte do índice mais importante dos EUA significa dinheiro. Todo país do mundo tem algumas coisas em comum: hino, bandeira, time de futebol e fundo de acões que investem no S&P 500 (geralmente ETfs). No Brasil mesmo, o ETF mais popular é o IVVB11. E ele é um ETF de S&P 500 (ou seja, cada dinheiro que você coloca lá fica dividido entre as 500 maiores empresas dos EUA). O IVVB11 tem 114 mil cotistas brasileiros. Mais que os 106 mil do BOVA11, que replica o Ibovespa.

Ou seja: estar no S&P 500 significa ver suas ações serem compradas a rodo por zilhões de fundos – o que deixa elas muito bem nutridas. Taí um clube que nem Groucho Marx rejeitaria se fosse chamado para ser sócio.  

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Como não existe bobo no mercado, todo mundo correu para comprar acões da Tesla logo que veio o anúncio da futura entrada no S&P 500, dia 16 de novembro. De lá para cá, as ações da Tesla subiram de US$ 408 para US$ 695. Uma arrancada de 70% em um mês. 

Leve em conta que os US$ 408 lá de 16 de novembro já significavam uma alta de 385% no ano – as ações  tinham começado 2020 valendo tímidos US$ 84. Quem comprou a esse preço experimentou um ganho de 727% – o que faria R$ 10 mil se transformarem em R$ 82.700. 

 Por essas, as ações da Tesla seguem firmes entre as BDRs mais negociadas na bolsa brasileira.  

E agora as ações da Tesla são mais caras que qualquer uma do S&P 500. Não em valor nominal, porque não é isso que indica o preço real de uma ação. Para saber esse preço real, você precisa dividir o valor de mercado pelo lucro dos últimos 12 meses. Aí você obtem o P/L (preço sobre lucro). O P/L da Tesla é de 1.328. Isso significa que, se você comprasse a Tesla inteira hoje, precisaria esperar 1.328 anos para que o investimento desse retorno. Exato. 

O P/L da Apple, para comparar, é de 38 – na média do S&P 500. Um próximo de 100 já é sinal de ação inflada, Acima de mil, então, socorro. É para chamar a ambulância imediatamente.

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Claro: se o lucro da empresa cresce, o P/L tende a diminuir, entrando em um território realista. Ninguém que compra Tesla hoje espera passar 1.328 anos à espera de um retorno. A aposta é que o lucro da empresa engorde. Digamos: se a Tesla passa a lucrar o dobro da Volkswagen (uns US$ 50 bi por ano) a ação pode estar a U$ 2.000 que tudo bem, o P/L dela será de 38. Isso: igual ao da Apple.

Essa é a aposta, então. A de quem um dia a Tesla venda uns 20 milhões de carros por ano, sob uma estrutura funcional, lucrativa. É possível? Cada um tem sua opinião. O Goldman Sachs acha que preço justo para as ações da Tesla é de US$ 780. Logo, imagina que os lucros da empresa vão chegar a patamares Volskwagianos pelo menos. O JP Morgan acha que não, que o preço certo da acão seria US$ 90 – em outras palavras, imaginam que ela continuará sendo uma montadora boutique, que faz belos e poucos carros, para ricas e poucas pessoas – seu modelo de entrada custa R$ 175 mil nos EUA.

Uma casa de análise menor, a Ark, fez barulho neste ano dizendo que o preço-alvo deles para as ações da Tesla é de US$ 7.000. Mais: que, num cenário realmente otimista, ela bateria nos US$ 15.000 – o que elevaria o valor de mercado da companhia a US$ 14 trilhões. Exagero? Claro. Óbvio. Isso dá sete vezes o da Apple, a empresa mais valiosa do Grupo Local de galáxias. 

Mas vai saber…. Nada impede que, daqui uns 30 anos, a Tesla domine o “mercado de mobilidade” com tanta força quanto o Google comanda o de buscas pela internet. Mas nada garante. A alta da Tesla, por enquanto, é feita de sonho, não de realidade.  

Antes tarde: as ações dela subiram 5,96% hoje. É mais do que qualquer ação brasileira subiu neste dia morno, em que o Ibovespa se manteve basicamente estável (-0,33%). Os destaques de alta aqui foram puxados pelas altas no aço, na carne e na celulose, puxados pela demanda chinesa, que vem ganhando força semana após semana. Aí é aquela história que todo mundo já conhece: commodities felizes, Brasil feliz. Ok. Mas quem dera tivéssemos por aqui uma montadora de carros elétricos que andam sozinhos para ficar dizendo que as ações dela estão caras demais.

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Maiores altas

Usiminas: 4,95%

CSN: 3,33%

Suzano: 2,67%

Gerdau: 2,61%

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Minerva: 2,06%

Maiores baixas

Gol: -4,04%

WEG: -3,82%

Cielo: -2,59

PetroRio: -2,57%

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CVC: -2,60% 

Em NY

S&P 500: -0,34%, aos 3.709 pontos 

Nasdaq: -0,07%, a 12.755

Dólar: estável (-0,04%), a R$ 5,07

Petróleo

Brent: alta de 1,48%, a US$ 52,26  

WTI: alta de 1,44%, a US$ 49,24 

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