Corte na Selic não sustenta o Ibovespa: -0,23%
Juros futuros de longo prazo sobem, sinalizando receio de que os cortes na taxa básica possam acelerar demais com BC mais dovish.
É praticamente uma lei da física: juros menores beneficiam a renda variável. Seria natural, então, esperar por uma reação eufórica da bolsa após o corte de 0,50 pp – maior do que a encomenda de boa parte do mercado, que apostava em 0,25pp. Mas a economia é uma ciência humana. Não obedece a fórmulas.
Tanto que a bolsa caiu. O Ibovespa teve um dia bipolar. Bateu nos 122,6 mil pontos, caiu aos 120,3 mil e, no fechamento, nada animados -0,23%, a 120.619, perto da pior marca do dia.
Uma possível explicação: a (tão aguardada) queda na Selic já havia sido precificada pelo mercado, mesmo com o corte número 1 tendo superado as expectativas. Afinal, desde abril, quando as expectativas de cortes começaram a aumentar, o Ibovespa já subiu mais de 20%.
Além disso, o Boletim Focus mostrava uma expectativa de Selic a 12% ao final do ano. O que o BC fez foi cortar 0,50 pp e avisar que tiraria fatias iguais nas próximas três reuniões. Ou seja: cantou uma Selic a 11,75% ao final de 2023. Ponto a favor da tese da precificação antecipada – ainda que os juros futuros de curto prazo tenham caído com força, levando os juros do IPCA+2029 para abaixo de 5% pela vez (ele foi lançado em janeiro deste ano).
Outro fato é que o cenário externo não ajudou. O minério de ferro caiu 2,99% (ainda com preocupações sobre a retomada da China) e as bolsas americanas fechando em baixa (S&P 500 a -0,26%)
Por último, um detalhe na decisão: a votação do Copom foi acirrada. Quatro dos dirigentes votaram pela redução de 0,25 pp, contra cinco que cravaram 0,50 pp. Campos Neto, o presidente do BC, desempatou o placar. Uma votação apertada assim chama a atenção – principalmente porque foi a primeira participação dos novos diretores Gabriel Galípolo e Ailton Aquino, indicados pelo governo Lula.
Ambos têm posturas mais dovish, e votaram pelo corte de 0,50 pp. Já os dirigentes com visões mais ortodoxas da economia votaram pela queda de 0,25 pp. De acordo com um relatório do Itaú BBA, os argumentos do comunicado pós-reunião poderiam ter sido utilizados para sustentar um corte menor.
Em dezembro, acaba o mandato de mais dois diretores, o que pode significar a entrada de outras figurinhas apoiadas pelo governo – que, desde o início do mandato, vem pressionando o BC por reduções nos juros.
Ou seja, corre o receio de que a redução da Selic acelere além da conta, e a inflação volte a ser um problema. Os juros futuros mostram isso: enquanto as cotações para o curto prazo caíram, as de longo prazo, a partir de 2027, subiram. Indício de que o mercado calcula um possível retorno da inflação – e, consequentemente, volta do aperto monetário.
Já o dólar decolou: alta de 1,94% na sessão. Juros mais baixos, afinal, reduzem a atratividade dos títulos públicos brasileiros – o que afasta os dólares dos investidores estrangeiros daqui. Não imediatamente, claro, já que o Brasil continua dono do maior juro real do mundo, em 10,09% (Selic a 13,25% menos a inflação, a 3,16%).
Expectativas americanas
Nos EUA, os dois grandes eventos do dia ficaram para após o fechamento do mercado: balanços da Apple e da Amazon – respectivamente, a primeira e a quarta maiores empresas do S&P 500.
No ano, ambas surfaram no hype das ações de tecnologia e subiram mais de 50%. Ou seja: as expectativas para os resultados estavam altas.
A Amazon divulgou aumento na receita de seu negócio de computação em nuvem, para US$ 22,14 bilhões. A expectativa de Wall Street era de US$ 21,71 bi. Computação em nuvem tem sido ponto-chave dos balanços das techs neste trimestre, já que o ramo vinha apresentando desaceleração há quase um ano.
Ao todo, as vendas da companhia subiram 11%, e a receita ficou em US$134,4 bilhões (contra expectativa de US$ 131,5 bi). No after market, as ações da companhia subiam mais de 7%.
Já os dados da Apple não animaram tanto assim. A receita ficou um pouco acima do esperado, em US$ 81,80 bilhões (projeção era de US$ 81,55 bi). Mas a venda de novos Iphones deixou a desejar: US$ 39,67 bi, contra expectativa de US$ 39,79 bi. No after market as ações da tech caem 1,7%.
Nesta sexta, sai o Payroll, relatório mensal que mostra o desempenho do mercado de trabalho por lá. O dado é importante porque baliza as expectativas para a próxima decisão de juros do Fed, em setembro. Caso os empregos ainda se mostrem muito resilientes, o Copom americano pode decidir seguir com mais uma alta. Por ora, 82% dos investidores apostam na manutenção dos 5,50%, de acordo com dados do CME.
Até amanhã!
MAIORES ALTAS
Dexco (DXCO3): 5,27%
PetroRio (PRIO3): 4,22%
Suzano (SUZB3): 3,65%
Minerva (BEEF3): 2,93%
Cyrela (CYRE3): 2,78%
MAIORES BAIXAS
Via (VIIA3): -8,65%
Méliuz (CASH3): -6,24%
Alpargatas (ALPA4): -5,26%
Eletrobras (ELET3): -5,15%
Magazine Luiza (MGLU3): -5,11%
Ibovespa: -0,23%, aos 120.585 pontos
Em Nova York
S&P 500: -0,26%, aos 4.501 pontos
Nasdaq: -0,10%, aos 13.959 pontos
Dow Jones: -0,19%, aos 35.215 pontos
Dólar: 1,94%, a R$ 4,89
Petróleo
Brent: 2,33%, a US$ 85,14
WTI: 2,59%, a US$ 81,55
Minério de ferro: -2,99%, a US$ 112,95 por tonelada na bolsa de Dalian (China)