Dados econômicos da China em fevereiro revelam recuperação lenta no pós-Covid
A esperança de que o tigrão asiático seguraria a barra da economia global em meio às inflações de dois dígitos no Ocidente está se provando exagerada. Enquanto isso, PPI e vendas do varejo de fevereiro podem mexer com as expectativas para os juros nos EUA.
A China se tornou o deus ex machina dos faria limers. Desde que Xi Jinping anunciou o fim da política covid zero, no finalzinho do ano passado, os investidores aguardam a economia do tigrão asiático voltar dos lockdowns em ritmo de festa – o que ajudaria o Ocidente a lidar com as inflações de dois dígitos, os juros doloridos e o perspectiva de recessão que estão assolando o clubinho de países desenvolvidos em 2023.
O problema: será que Beijing entrega? Ou o enredo desse filme não será salvo de última hora pela segunda maior economia do mundo? Alguns dados de atividade econômica ligeiramente xoxos revelados ontem à noite não responderam a essa pergunta com a firmeza que os investidores desejavam.
A produção industrial subiu 2,4% em doze meses, contra a previsão de 2,8%. As vendas no varejo bateram 3,5% no mesmo período (na mosca em relação à bola de cristal dos analistas). Porém, produtos mais caros, como automóveis e móveis, permanecem com pouca saída nas lojas.
Não são números ruins. Mas tampouco indicam um crescimento pujante – estão mais para uma recuperação lenta. Algo que se reflete até na inflação de fevereiro, em 1%: uma alta tão humilde nos preços é sintoma de economia fria demais.
Alguns setores estão esperando sentados pelo milagre. Caso da Vale e das demais mineradoras brasileiras, cuja fonte-mor de receita é a exportação de minério de ferro para a construção civil chinesa. Esse setor já chegou a perfazer 25% do PIB do país, mas estagnou durante a pandemia, após várias incorporadoras revelarem dívidas bilionárias e começarem a não honrar a entrega de apês já comprados por seus clientes.
Em novembro de 2022, quando Xi Jinping anunciou não só o fim dos lockdows como uma injeção de grana para salvar o setor, a cotação do minério de ferro saiu dos US$ 87 a tonelada e disparou para o patamar atual, a mais de US$ 130. Uma alta de 54%.
As ações da Vale vieram junto: subiram 25% desde então, e agora são negociadas a R$ 84, versus os R$ 67 de novembro. O problema é que, em janeiro – no auge das esperanças com o bailout na China – elas chegaram a alcançar R$ 94, uma valorização de 45% em relação ao pior momento de novembro. Sinal de que os investidores já estão reajustando suas expectativas, e precificando uma recuperação mais lenta.
O minério de ferro não parece abalado, ainda: a cotação da commodity em Singapura está em alta de 0,19%, a US$ 132,25 a tonelada. No porto de Dalian, o preço é perfeitamente estável: 0%, a US$ 134,20. Vale acompanhar, ao longo do dia, como as mineradoras e siderúrgicas responderão a esses dados.
Nos EUA, será um dia de agenda animada. Teremos a inflação do produtor (PPI) e as vendas no varejo de fevereiro.
Desde segunda, reina o otimismo com os juros: a falência do SVB, que foi essencialmente um efeito colateral das oito altas consecutivas na “Selic” americana desde 2022, fez o mercado acreditar com força que Powell e sua turma vão pisar no freio na próxima reunião do Fomc, cuja decisão sai em 22 de março.
De acordo com a plataforma de monitoramento do CME Group, 38% do mercado acredita que o Fed manterá a taxa atual, no intervalo entre 4,5% e 4,75%, e 61% aposta em um hike de 0,25 ponto percentual. A ideia de 0,5 p.p., que era consenso até a bomba SVB estourar, passou para o campo do devaneio na opinião dos analistas: 0% de chance.
Os dados econômicos de hoje têm potencial para mexer com essas expectativas – trazendo mais gente para o time dos 0,25 p.p. caso a economia americana mostre sua resiliência já usual contra as altas nos juros. Por ora, os futuros de Nova York vão caindo forte: S&P 500 em -1,71%, Nasdaq em -1,42%.
Algumas atualizações sobre o caso SVB: o Fed prometeu endurecer as regras para bancos de médio porte, e o Bank of America recebeu US$ 15 bilhões em depósitos nos últimos dias – parte do processo natural de reacomodação da grana que ficou sem casa no SVB, bem como um reflexo do medo dos correntistas de que outros bancos menores possam ir pelo mesmo caminho.
Em Brasília, não há notícias pivotais: Alckmin conheceu ontem o novo arcabouço fiscal – e gostou do que viu. Lula já mandou marcar uma reunião para conhecê-lo ainda esta semana. E a ideia é que o documento venha a público no máximo até dia 22, antes do Copom e de uma viagem de Lula à China.
Trata-se de uma ideia reconfortante para o mercado: já estão no ar apostas de que nosso comitê de política monetária começará a cortar a Selic ainda em maio. Um voto de confiança em Tebet, que prometeu que o novo pacote de regras fiscais está alinhado com pautas caras à ortodoxia econômica – como reduzir a relação dívida/PIB e zerar o déficit nas contas públicas.
A ver como os humores chineses e americanos vão mexer com o mercado brasileiro hoje.
Bons negócios!
Futuros S&P 500: -1,71%
Futuros Nasdaq: -1,42%
Futuros Dow: -1,64%
*às 8h00
JPMorgan recomenda venda de CVCB3, e mercado obedece
Ontem o JPMorgan baixou a recomendação das ações da CVC de neutro para venda. Os analistas do banco consideram que a receita não deve crescer tanto quanto o esperado, e que eles precisariam ter pelo menos R$ 1 bilhão em caixa para sustentar algum crescimento – coisa que a empresa não tem. Por isso, a previsão agora é de perdas até 2025.
O JPMorgan mandou vender e o mercado obedeceu: as ações CVCB3 fecharam em queda de 7,89%, a R$ 3,27. Os papéis têm vivido um verdadeiro momento montanha-russa-de-madeira-do-Hopi-Hari nas últimas semanas. Do dia 3 ao dia 9, as elas chegaram a subir 58,93%, surfando no otimismo do mercado em relação às companhias aéreas. De lá pra cá, a queda já foi de 21,58%.
EUA, 9h30: Inflação ao produtor (PPI) de fevereiro;
EUA, 9h30: vendas do varejo em fevereiro.
Índice europeu (EuroStoxx 50): -3,38%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -2,47%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -3,04%
Bolsa de Paris (CAC): -3,53%
*às 8h10
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): +0,06%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): +0,03%
Hong Kong (Hang Seng): +1,52%
Brent: -1,68% a US$ 76,15 o barril
*às 8h13
Minério de ferro: 0%, a US$ 134,20 a tonelada, na bolsa de Dalian
*às 7h00
O que as taxas de juros altas revelam sobre os mercados mais frágeis
O mercado ficou mimado. Por quase duas décadas, os bancos centrais dos países ricos ficaram em prontidão para oferecer um pacote de estímulos toda vez que alguma coisa dava errado na economia. Rolou na crise imobiliária de 2008, na crise da zona do euro e na pandemia. Essas instituições compraram títulos públicos a rodo e baixaram as taxas de juros a níveis recordes. Resultado: dinheiro barato por 20 anos. Esse período chegou ao fim no passado, quando o combo guerra na Ucrânia e volta da demanda pós-pandemia fez com que a inflação virasse a pauta da vez. Este mini-documentário do Financial Times mostra quais setores têm sofrido mais agora que o dinheiro encareceu – começando pelo mercado de pensões do Reino Unido, que tomou o primeiro baque de todos.
Como a crise nas varejistas está afetando os fundos imobiliários
Que as varejistas estão em maus bocados todo mundo já sabe. Depois do escândalo na Americanas, todo o setor vem sofrendo com um olhar pesado de desconfiança dos credores. Para elas, conseguir dinheiro emprestado ficou mais caro – como se a Selic a 13,75% já não fosse problema o bastante. A novidade é que os fundos imobiliários estão começando a se afundar junto. Parte do rendimento deles vem do aluguel de galpões e lojas para as varejistas. Só que algumas delas têm sido más inquilinas: com dívidas demais, elas deixaram de pagar parcelas do aluguel. É o caso da Americanas, Marisa e Tok&Stok. A Folha conta essa história aqui.
Brasil, sem horário definido: Marisa
Brasil, após o fechamento: Yduqs e Taesa