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Entenda como a China está derrubando mercados globais

Crescimento fraco, crise imobiliária e poucos estímulos do governo: veja a tempestade que se formou no dragão asiático, e que afeta também o Ibovespa.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 21 ago 2023, 19h02 - Publicado em 21 ago 2023, 18h18
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 (Tamires Mazzo/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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Dos quinze pregões que aconteceram em agosto até agora, o Ibovespa fechou no vermelho em quatorze deles – só na sexta-feira passada houve uma trégua. Hoje mesmo rolou mais um tombo: -0,85%, aos 114.429 pontos. Toda essa sequência de mau humor é explicada por vários fatores, desde brasileiros (investidores de olho nas novelas de Brasília) até americanos (juros altos por mais tempo nos EUA).

Mas um dos fatores que mais pesa por aqui é a China. E nem só aqui, diga-se. O mau humor com o país asiático fez a bolsa de Hong Kong entrar em bear market na semana passada – isto é, queda de 20% desde o último pico. As próprias bolsas chinesas foram às mínimas em sete meses nesta segunda-feira (21). E até o tombo de 4,11% do S&P 500 acumulado até agora em agosto se deve, em partes, ao pessimismo com a segunda maior economia do mundo.

O que acontece no dragão asiático?

Primeiro: não é de hoje. Há alguns meses a China vem decepcionando com resultados aquém dos esperados por todo mundo. Desde que abandonou sua draconiana política de Covid-zero no final do ano passado, muita gente achou que a economia chinesa iria disparar aceleradamente, agora que não havia mais lockdowns travando o crescimento do país. Só que isso não aconteceu.

Pelo contrário. Dados da atividade econômica por lá – incluindo de consumo, indústria, mercado de trabalho, exportações e importações e etc. – vieram sequencialmente menores do que o esperado, e economistas passaram a diminuir suas projeções para o PIB chinês em 2023. 

Todos os anos, o Partido Comunista Chinês estabelece uma meta de crescimento para o país, e é raro ela não ser cumprida. Aconteceu em 2022, quando a economia cresceu só 3%, bem abaixo dos 5,5% – justamente por causa dos lockdowns. Antes disso, só em 1998, quando o crescimento ficou 0,2% aquém do esperado por Pequim.

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A meta para 2023 é de 5%, considerado um alvo bastante conservador para os padrões chineses. Acontece que, agora, após tanta decepção, vários analistas preveem que nem essa meta “baixa” será cumprida. Entre os bancos que projetam um crescimento abaixo dos 5% para o final do ano estão Morgan Stanley, JP Morgan, UBS, Citi…

Por lá também está acontecendo um cenário de deflação – ou seja, queda nos preços. Preocupante, porque indica uma demanda fraca entre os chineses, o que pressiona ainda mais o crescimento para baixo.

Segundo ponto: recentemente, o já fragilizado mercado imobiliário chinês deu mais sinais de fraquezas. A titânica construtora Country Garden anunciou que não consegue pagar suas dívidas, numa situação semelhante à da Evergrande há dois anos (que segue em uma situação ruim, diga-se). O temor é que a crise vire um efeito dominó no país, incluindo outras incorporadoras e instituições financeiras.

Seria gravíssimo, já que o setor imobiliário corresponde a um quarto do PIB chinês. Não à toa: é um segmento que foi muito estimulado pelo governo nas últimas décadas, a fim de dar conta da transição de milhões de chineses do campo para as cidades. Estimulado até demais, diga-se, a ponto de que construtoras embarcaram em projetos megalomaníacos de expansão, se endividando com força no processo, e agora não possuem demanda por suas casas e não têm dinheiro para pagar as dívidas.

O que nos leva ao terceiro ponto: a resposta do governo chinês. O Partido Comunista é o principal motor da economia do país, por razões óbvias. E vem prometendo que vai sim estimular a economia (ou seja, abaixar juros e injetar dinheiro para induzir o consumo), a ponto de, pelo menos, cumprir a meta de crescimento.

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Acontece que investidores estão vendo uma diferença entre o discurso e a ação do governo chinês. Na prática, pouco tem sido feito para turbinar o crescimento do dragão asiático. Hoje mesmo uma nova decisão das autoridades causou decepção no mercado: a queda dos juros por lá. 

O Banco Popular da China cortou a taxa básica de empréstimo de um ano em 0,10 ponto percentual, de 3,55% para 3,45%. Essa taxa é a referência principal para empréstimos de famílias e empresas chinesas. Acontece que analistas esperavam um corte um pouco maior, de 0,15 p.p.

O pior, porém, foi uma outra taxa, a de cinco anos, que permaneceu alterada em 4,2%. Ela é a referência principal para a maioria das hipotecas no mercado imobiliário – justamente no momento que o setor passa por uma crise de liquidez. Os analistas também esperavam por um corte de 0,15pp para a taxa de cinco anos.

O corte brando não parece o suficiente para turbinar a economia cambaleante da China. A decepção foi grande, e contribuiu para a queda das bolsas na Ásia e também no tombo do Ibovespa. 

A leitura que predomina é que o governo chinês, sob a mão de ferro de Xi Jinping, está atuando com uma política claramente diferente da que a China se acostumou nos últimos anos. Os estímulos governamentais, antes abundantes e generalizados, estão mais escassos e focalizados. É um jeito de evitar, no futuro, possíveis novas bolhas em partes da economia que foram inflados artificialmente por anos – como acontece agora no setor imobiliário.

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Não é do estilo de Xi, por exemplo, salvar empresas que estão endividadas injetando grana aos montes – elas que paguem por suas irresponsabilidades. Ou, pelo menos, o estado chinês não ajuda sem nada em troca. No caso da Evergrande, por exemplo, o governo chinês até deu as caras para amenizar a crise, mas estabelece uma série de regras rígidas que a empresa tem que seguir no seu processo de recuperação. Não foi um cheque em branco.

Nas bolsas

De qualquer forma, a cautela do governo chinês deprime as bolsas mundiais. As de países emergentes são especialmente afetados, porque o país é o maior consumidor de commodities do mundo, o que explica o mau humor especial no Ibovespa.

No pregão desta segunda-feira, com a agenda esvaziada, os investidores reagiram ao corte modesto dos juros chineses e a bolsa caiu 0,85%, de volta aos 114 mil pontos. O dólar, por sua vez, voltou a flertar com os R$ 5, fechando em alta de 0,22%, a R$ 4,9787.

Nos EUA, o medo dos juros altos seguiu assombrando Wall Street, mas um rali nas ações tech ajudou a segurar o tranco e o S&P 500 e o Nasdaq subiram. Veja abaixo.

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Até amanhã.

 

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MAIORES ALTAS

Petz (PETZ3): 2,45%

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Cemig (CMIG4): 1,67%

Magazine Luiza (MGLU3): 1,67%

São Martinho (SMTO3): 1,18%

Fleury (FLRY3): 0,86%

MAIORES BAIXAS

IRB Brasil (IRBR3): -9,24%

Carrefour (CRFB3): -4,14%

Yduqs (YDUQ3): -3,88%

Marfrig (MRFG3): -3,40%

Arezzo (ARZZ3): -3,26%

Ibovespa:  -0,85%, aos 114.429 pontos

Nova York:

Dow Jones:  -0,11%, aos 34.464 pontos

S&P 500: 0,69%, aos 4.399 pontos     

Nasdaq: 1,56%, aos 13.497 pontos

Dólar: 0,22%, a R$ 4,9787

Petróleo

Brent: -0,40%, a US$ 84,46 

WTI:  -0,66%, a US$ 80,12

Minério de ferro: 0,91% a US$ 107,76 por tonelada

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