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Espiral negativa afunda Ibovespa a 117 mil pontos

Dados da economia dos EUA decepcionam e derrubam bolsas mundo afora. Aqui, a gente ainda contou com um empurrão da reforma do IR para descer a ladeira.

Por Bruno Carbinatto, Tássia Kastner
17 ago 2021, 18h26
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 (Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
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Há uma espiral negativa dragando o mundo financeiro. Dados da economia americana confirmaram que a variante delta está mesmo afetando o consumo por lá, isso enquanto o mundo assiste entre atônito e chocado a fuga de afegãos após a volta do Taleban ao poder do país. Não há sinal de alento, o que é um prato cheio para a sangria de bolsas de valores. Os índices americanos tiveram a maior queda em um mês, enquanto o Ibovespa acelerou sua queda, resultado do combo de problemas internos com as pressões que atravessam fronteiras. 

Na manhã desta terça, saiu o número das vendas no varejo americano em julho. A expectativa do mercado era de uma leve queda de 0,3%, mas o dado real veio bem pior: -1,1%. Não só a maior economia do mundo tem uma recuperação claudicante, o mesmo acontece com a segunda colocada, a China. O país asiático também apresentou, na segunda, dados fracos de atividade econômica. 

É o suficiente para passar uma mensagem: a recuperação da economia global seguirá os soluços da pandemia. Nem outro dado positivo divulgado pouco depois conseguiu reverter a amargura. A produção industrial dos Estados Unidos cresceu 0,9% de junho para julho, acima da previsão de 0,5%. Legal, mas ficou coadjuvante no dia.

E depois da manhã sombria, Jerome Powell, o presidente do Fed, afirmou que mesmo as poderosas ferramentas do banco central têm limitações. Ele falava sobre a impressão de dinheiro para estimular a economia, algo que discute-se reduzir, só não se sabe a partir de quanto. Por outro lado, ele amenizou a questão delta: “ainda não está claro se a variante Delta terá efeitos importantes na economia”.

Delta

Não está claro mesmo. A onda da pandemia causada pela variante Delta é chamada de “pandemia dos não-vacinados”. E olha que, por lá, estão sobrando vacinas – mas está faltando gente disposta a se imunizar. Só que ela também é, em geral, menos severa que as ondas anteriores, porque as vacinas ainda mantêm altas taxas de eficácia contra casos graves e mortes. Em resumo, ela ainda causa estragos econômicos porque mesmo que não haja perspectiva de medidas agressivas como lockdowns, a população em geral passa a evitar sair de casa e colocar menos dinheiro em circulação.

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Daí vem parte do pessimismo do mercado financeiro. O S&P 500, maior e mais importante índice americano, caiu 0,70%, no maior tombo em um mês. Não foi tão feio, já que no pior momento do dia ele chegou a cair mais de 1%. 

Nos EUA, quem se saiu bem mesmo foi a farmacêutica Moderna, cujas ações lideraram as altas do S&P 500 com mais de 7%. O motivo? O governo americano está começando a avaliar a necessidade de uma terceira dose da vacina para parte de sua população; Pfizer também subiu 3,03%. Além disso, a agência regulatória do Reino Unido autorizou a aplicação da vacina da Moderna em jovens de 12 a 17 anos no país europeu.

Mas uma coisa é uma queda depois de renovar cinco máximas históricas consecutivas, como aconteceu nos EUA. Não é o fim do mundo, claro. No Brasil, não dá para dizer o mesmo.

Ibovespa

O Ibovespa já vinha capotando mesmo com os recordes americanos lá fora. Sem o sinal positivo, foi como uma ladeira abaixo sem freio: -1,07%, aos 117.903 pontos. Ok, teve um breque no calcanhar: uma fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ajudou a tirar os índices da mínima de 116 mil pontos, um patamar não visto desde abril deste ano. Ainda assim, foi um dia medonho: das 84 ações da carteira, só 10 fecharam em alta.

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Nada de novo – o que também pode ser uma péssima notícia. O governo seguia no toma-lá-dá-cá com o Congresso para tentar aprovar a reforma do Imposto de Renda. A negociação agora chegou à transferência de verbas para municípios. O lance é que a proposta parece desagradar todo mundo, com CPF ou CNPJ. A última tábua de salvação do presidente da Câmara, Arthur Lira, para defender o texto é a cobrança de IR sobre dividendos, hoje isentos. O problema é que até esse ponto da proposta é considerado falho.

Isso sem falar nas outras questões fiscais que o governo pretende solucionar com malabarismos contábeis, caso da PEC dos Precatórios. O projeto quer empurrar com a barriga as dívidas da União – alguns chamam de moratória, outros de calote. O lance é que a PEC tenta arrumar dinheiro do nada para turbinar o Bolsa Família, que passaria a ser chamado de Auxílio Brasil. 

Ele parece ainda mais necessário agora, caso o presidente Jair Bolsonaro queira ter alguma chance na eleição de 2022. A pesquisa XP/Ipespe divulgada hoje mostra que a desaprovação do governo Bolsonaro atingiu sua máxima histórica: 54% consideram a gestão ruim ou péssima. No segundo turno, o atual presidente perderia com folga para o petista Lula. 

Inflação

Só que esse descontrole nas contas públicas já vinha pressionando a inflação, o que bagunça toda a economia. Agora a conta de luz virou um outro problema. A Aneel calcula que os aumentos devam continuar em 2022 – 17% na média.  

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Aí toca juro alto para enxugar dinheiro do mercado. O terreno é tão pantanoso que hoje o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que “ruídos sobre efeitos do [novo] Bolsa Família afetam projeções do mercado”, mas reafirmou compromisso de controlar a inflação. 

No fim, conseguiu dar algum alento para o mercado. Os juros futuros, que subiram com a fuga de investidores da bolsa, reduziram o ímpeto de alta. O dólar, que bateu de novo os R$ 5,30, fechou em queda a R$ 5,2701. 

Minério de Ferro

Como se já não bastasse, o minério de ferro fechou queda de 0,81% no porto chinês de Qingdao, cotado a US$ 160,75 – o valor mais baixo desde 25 de março. Ruim para o mundo todo, mas especialmente para uma economia baseada em commodities como é a nossa: a Vale, maior empresa do Ibov, acompanhou a queda e fechou com -1,65%.

Agora é descobrir de onde virá o combustível para subir o morro.

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Maiores altas

Yduqs: +6,23%

Cemig: +2,82%

Ultrapar: +2,16%

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Telefônica: +1,60%

WEG: +0,81%

Maiores baixas

Locaweb: -6,91%

Embraer: -6,63%

Usiminas: -5,09%

Cielo: -5,00%

JHSF: -4,96%

Ibovespa: queda de 1,07%, aos 117.903 pontos

Em Nova York

S&P 500: -0,70%, aos 4.448 pontos

Nasdaq: -0,93%, aos 14.656 pontos

Dow Jones: -0,79%, aos 35.345 pontos

Dólar: baixa de 0,20%, a R$ 5,2701

Petróleo

Brent: queda de 0,69%, a US$ 69,03

WTI: queda de 1,04%, a US$ 66,59 

Minério de Ferro: queda de 0,81%, cotado a US$ 160,75 a tonelada no porto de Qingdao (China)

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