Governo Bolsonaro mira Petrobras e acerta Banco do Brasil
Ações do BB caíram 4,10% com ameaças de mudança na lei das estatais. Ibovespa cede 0,17% e perde carona do S&P 500, que subiu 2,45%.
A novela Petrobras deixou a bolsa brasileira com o freio de mão puxado, enquanto os mercados no exterior aceleraram em recuperação à sangria da semana passada.
Brasília deu mais um passo para colocar a estatal no centro de sua campanha eleitoral, e aí não deu outra: as ações da companhia tiveram uma nova queda nesta terça-feira, arrastando o também estatal Banco do Brasil.
O plano é o seguinte: para ter mais poder sobre a política de preços de combustíveis da Petrobras, o governo pretende mudar, via Medida Provisória, a Lei das Estatais, instaurada no governo de Michel Temer. A ideia é facilitar a troca dos dirigentes da companhia, que hoje segue um processo burocrático e arrastado, e depende da aprovação de acionistas em assembleia.
A lei das estatais foi criada justamente para evitar ingerência governamental nas companhias. E a MP afetaria não só a petroleira, mas também o BB.
Além disso, aliados do governo de Jair Bolsonaro (PL) colhem assinaturas no Congresso para instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a Petrobras e seus dirigentes, como se fosse 2015. O foco, por sinal, é a companhia sob os anos do PT, algo amplamente investigado, e não a estatal e a política de preços agora.
Os flashbacks não param por aí. Lula, candidato à presidência, se opõe à CPI e sugeriu que Bolsonaro poderia reduzir o preço do diesel e da gasolina com “uma canetada”.
A disputa política em torno da Petrobras ontem parecia conversa passada, e as ações subiram. Só que era feriado nos Estados Unidos, e o jogo era outro. Hoje os investidores de lá e daqui decidiram enfrentar o elefante na sala, também conhecido como risco de mudança na política de preços da Petrobras. O ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, disse que talvez a paridade de preços não esteja funcionando bem e que poderia pedir uma mudança.
Abandonar a paridade, por si só, não coloca a Petrobras em prejuízo – no máximo, faz ela ganhar potencialmente menos. O que dá prejuízo é ela precisar importar combustível, a preços de mercado, e vender no Brasil a valores mais baixos para garantir o abastecimento. Hoje, quem faz isso são importadores privados, mas sem a política de preços eles não conseguem competir com a estatal e deixam o mercado doméstico desabastecido. Esse é um risco real, é bom lembrar. Essa balbúrdia toda ao redor da Petro existe depois de ela ter segurado os preços dos combustíveis por cerca de 100 dias, e mesmo após o reajuste, eles são vendidos abaixo da paridade internacional.
Segundo o Goldman Sachs, o preço do diesel ainda é 11% mais barato no Brasil que a paridade de importação, quando comparado com o preço do produto importado dos EUA. A gasolina está 27% abaixo desta régua.
Resultado da bagunça: -1,99% para PETR4, -1,06% para PETR3 e -4,10% no Banco do Brasil, que caiu na história de paraquedas.
O Ibovespa sucumbiu a Brasília e caiu 0,17%. Este é o terceiro pregão seguido abaixo dos 100 mil pontos – fechou a 99.684,50 pontos.
Mas nem só de crise política vive a bolsa. Outro motivo para a queda foi a divulgação da ata do Copom. O Banco Central sugeriu que os juros devem ficar na lua mais tempo que o mercado vinha estimando para conseguir conter a inflação. O J.P. Morgan, por exemplo, aumentou a sua projeção para a Selic ao fim de 2023 para 11%, de 9,75% anteriormente.
Enquanto isso, as bolsas americanas iniciaram uma recuperação após o tombo da semana passada. O Ibovespa perdeu a carona. Até amanhã.
Maiores altas
Qualicorp (QUAL3): 6,68%
WEG (WEGE3): 4,98%
IRB Brasil (IRBR3): 4,04%
Natura (NTCO3): 3,60%
Totvs (TOTS3): 3,58%
Maiores baixas
Cogna (COGN3): -4,76%
Banco do Brasil (BBAS3): -4,10%
CPFL (CPFE3): -3,69%
Yduqs (YDUQ3): -3,45%
Renner (LREN3): -3,18%
Ibovespa: -0,17%, a 99.685 pontos
Em NY:
S&P 500: 2,45%, a 3.765 pontos
Nasdaq: 2,51%, a 11.069 pontos
Dow Jones: 2,15%, a 30.532 pontos
Dólar: -0,63%, a R$ 5,1537
Petróleo
Brent: 0,46%, a US$ 114,65
WTI: 1,42%, a US$ 109,52
Minério de ferro: 3,33%, US$ 115,41, no porto de Qingdao (China)