Ibov retoma rally, BRKM5 sobe e petróleo tropeça com Angola fora da Opep
Após um respiro para realização de lucros, a B3 não deixou a peteca cair e bateu o quarto recorde de dezembro, inspirada pelo combate à inflação nos EUA
Após uma pausa para realização de lucros no pregão de ontem – quando a bolsa sobe muitos dias seguidos, é natural que a Faria Lima tire um dia para vender papéis e embolsar a grana –, o rally de fim de ano do Ibovespa voltou com tudo nesta quinta (21): o índice fechou em alta de 1,05%, puxado pela euforia de Wall Street com o combate à inflação nos EUA. Os 132.182 pontos no fechamento, diga-se, são um novo recorde – o quarto do mês de dezembro.
A Braskem (BRKM5, 7,07%) está de novo no topo do ranking de maiores altas – os investidores permanecem entusiasmados com o anúncio de que a Petrobras, dona de 36% da empresa, vai ajudá-la a aguentar o tranco financeiro do pagamento de indenizações em Maceió.
Ninguém deu muita bola para o fato de que a Polícia Federal visitou a sede da petroquímica hoje cedo, em mais uma etapa da investigação sobre o colapso da mina 18. Os investidores viram o lado cheio do copo: de acordo com um comunicado da Defesa Civil de Maceió emitido ontem, o pior já passou e o subsolo está em fase de estabilização.
Enquanto isso, a petroleira em si teve um dia ruim: nem a crise no Mar Vermelho conseguiu impedir a queda no preço do barril induzida pela notícia de que a Angola deu o fora da Opep. Vamos explicar tópico a tópico:
Petróleo
No animado mundo do suco de dinossauro, não faltam fofocas. A Angola saiu do cartel porque ele anda limitando artificialmente a extração de combustível por seus países-membros – uma tentativa de forçar o preço do barril para cima. Se o país africano fez isso, é porque ele quer extrair mais petróleo do que seus colegas consideram prudente. E com uma oferta maior em 2024, o preço cai.
Só mesmo um golpe do tamanho de um país para compensar a alta brusca e recente no preço do barril – fruto da crise militar no Mar Vermelho. Você já sabe: os Houthis – um grupo islâmico radical do Iêmen que controla a capital e uma boa parte do território do país desde que uma guerra civil eclodiu em 2014 – atacaram navios de carga que passavam ao largo do litoral do país como demonstração de apoio ao Hamas contra Israel.
O Mar Vermelho é rota para o Canal de Suez, e as empresas de frete marítimo – como as que transportam petróleo e outras commodities – estão com medo de passar por lá e perder carga e tripulantes. Esse pavor generalizado força o preço do barril para cima, já que a ameaça é de menos oferta. Só mesmo um evento grande, como a saída de um membro da Opep, tem força para peitar essa tendência e gerar um dia de queda. O Brent fechou o dia em -0,39%, mesmo assim, PETR4 se recuperou no finalzinho do dia e subiu ligeiros 0,02%.
EUA
Hoje, às 10h30, saiu um combo de dados americanos que deram grande motivo para alegria: PCE e PIB do terceiro trimestre.
PIB dispensa explicações. Já o PCE é o índice de inflação que o Fed mais gosta de usar para embasar suas decisões de política monetária. O PCE de um mês sai por volta do dia 20 do mês seguinte – o de novembro, por exemplo, será divulgado amanhã (22) de manhã, o que é garantia de sexta-feira animada em Wall Street.
O PCE chega mais tarde que o CPI, que é o dado de inflação oficial. Mas o cálculo do PCE é mais refinado porque considera mudanças no comportamento dos consumidores – como trocar carne de boi por frango quando o preço da picanha sobe – que o CPI ignora (entenda melhor aqui). É por isso que o Banco Central dos EUA o considera uma leitura melhor da realidade.
O PCE do terceiro trimestre, especificamente, é só uma versão aperfeiçoada de três dados que a gente já conhece: os PCEs de julho, agosto e setembro. Por isso, em geral, não se trata de um número capaz de causar grande comoção toda nas bolsas. Se não é novidade, não faz preço.
Desta vez, porém, a combinação de PIB e PCE confirma que o combate à inflação está funcionando nos EUA. A alta nos preços ao longo do 3T23 foi de 2,6%, contra a previsão consensual de 2,8%. E o núcleo do PCE (um dado mais preciso ainda, porque exclui preços de alimentos e energia, que são voláteis) veio em 2% – cravado na meta de inflação do Fed – , contra os 2,3% prenunciados pela bola de cristal do mercado.
Esses sinais de que os preços estão esfriando vieram acompanhados de um PIB ainda bastante robusto, em 4,9%, contra uma expectativa de 5,2%. Em condições normais de pressão e temperatura, ninguém quer PIBs menores. Mas, neste caso específico, um crescimento um pouco mais lento é sinal de que a política monetária restritiva do Fed está sendo bem-sucedida em esfriar a economia e combater a inflação. Resultado: S&P 500 fechou em alta de 1,03%; Nasdaq em 1,26%.
Até amanhã, com o PCE de novembro!
MAIORES ALTAS
Braskem (BRKM5): 7,07%
Soma (SOMA3): 5,41%
Gol (GOLL4): 5,35%
Usiminas (USIM5): 3,75%
CNS (CSNA3): 3,65%
MAIORES BAIXAS
Casas Bahia (BHIA3): -5,12%
Alpargatas (ALPA4): -2,25%
IRB (IRBR3): -2,02%
MRV (MRVE3): -1,84%
Eztec (EZTC3): -1,71%
Ibovespa: 1,05%, a 132.182 pontos (recorde)
Em Nova York
S&P 500: 1,03%, aos 4.746 pontos
Nasdaq: 1,26%, aos 14.963 pontos
Dow Jones: 0,87%, aos 37.404 pontos
Dólar: -0,49%, a R$ 4,88
Petróleo
Brent: -0,39%, a US$ 79,39
WTI: -0,44%, a US$ 73,89
Minério de ferro: 3,53%, cotado a US$ 135,48 por tonelada na bolsa de Dalian (China).