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Ibovespa cai 1,49% na esteira de NY e da ata do Copom

As projeções de juros mais altos nos EUA seguem deprimindo as bolsas globais: -1,4% para o S&P 500 também. Na B3, o setor varejista tem mais um dia ruim: PETZ3 e PCAR3 tombam mais de 5%

Por Jasmine Olga
26 set 2023, 18h34
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 (Tamires Mazzo/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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A digestão do mercado financeiro aos últimos desdobramentos da última Super Quarta tem sido muito parecida ao do PF clássico das quartas-feiras em São Paulo — lento como uma feijoada completa sob um calor de 35º C. 

Os ecos do último comunicado do comitê de política monetária do Fed (Fomc) seguem fortes nos ouvidos dos investidores — os juros ficarão altos por mais tempo. Os problemas não param por aí: o setor imobiliário chinês segue cambaleando. Além disso, a falta de um acordo nos EUA para votar o Orçamento de 2023 pode levar a uma suspensão do funcionamento do governo e atrasar dados cruciais para as tomadas de decisões do BC americano, como as leituras do PIB, de inflação e do mercado de trabalho. 

Falando em dados, alguns divulgados hoje não agradaram e patrocinaram a queda de 1,57% da Nasdaq e de 1,14% do S&P 500. O Ibovespa acompanhou quase que de mãos dadas: -1,49%. 

A confiança do consumidor tombou de 103 em setembro nos EUA, contra os 108,7 do mês passado. O índice de expectativas, que serve de termômetro para o sentimento dos consumidores com relação ao futuro da economia americana, caiu para 73,7. Sinal vermelho: historicamente, um número abaixo de 80 costuma ser acompanhado por recessão no ano seguinte. 

O rendimento dos títulos públicos americanos com vencimento de 10 anos (benchmark do mercado) segue rondando as máximas vistas pela última vez em 2007 — a 4,55%. Além de pressionar o mercado acionário, isso leva à reboque também a curva de juros brasileira. Primo do Treasury americano, nosso Tesouro Prefixado 2033 passou de uma taxa de 10,38% ontem para 10,49% nesta terça-feira. 

Mais popular entre os títulos públicos, o IPCA+2035 foi a 5,65% de juro real – a maior taxa desde o já distante mês de maio (se você tem IPCA+ na carteira: é por isso seu saldo está caindo com força, pois quanto maior o juro menor o valor de mercado da coisa). 

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Mas não foi só Fed que temperou a feijoada difícil de engolir. Pela manhã, o IPCA-15, considerado uma prévia da inflação oficial, e a ata da última reunião do nosso Comitê de Política Monetária (Copom) também fizeram sua parte. 

No caso do IPCA-15, o indicador subiu um pouco menos do que se projetava para o mês — ao invés de 0,37%, o número de setembro foi de 0,35%. O problema é que isso significa uma aceleração da inflação. No mês passado, o resultado foi de 0,28%. Agora, o índice atinge a marca de 5% em 12 meses, ante 4,24% em agosto. 

Para os analistas, essa trajetória da inflação não traz o conforto necessário para voltar a sonhar com um corte de juros maior do que os 0,50 ponto percentual já cravados pelo Copom para os próximos encontros. 

Primeiro porque a alta recente de commodities como o petróleo e o minério de ferro devem contrariar a tendência do primeiro semestre, pressionando as próximas leituras. 

Segundo porque a ata da última reunião do Copom não deixou brecha para os sonháticos. Os diretores do BC brasileiro fizeram questão de ressaltar a incerteza com o futuro dos juros no cenário global e a resiliência da economia brasileira — com revisões cada vez mais otimistas para o resultado de 2023. Isso é bom, claro. Mas também pressiona a inflação (simplesmente porque aumenta o consumo). Para acelerar o ritmo dos cortes, então, somente surpresas muito positivas com a trajetória da inflação — algo que, por ora, não está na conta. 

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Além da bolsa, a alta dos títulos americanos pressionou também o câmbio. No fim do dia, Brasília adicionou uma dose extra de cautela, levando o dólar a subir 0,42%, a R$ 4,98 e o Ibovespa acelerar para sua queda de 1,49%, aos 114.193 pontos. O relator da reforma tributária, Eduardo Braga, adiou a entrega do relatório final da pauta para o dia 20 de outubro, atrasando ainda mais a votação do texto — que é visto como primordial para que o governo persiga as suas metas fiscais para os próximos anos. 

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PETZ3 (-5,60%), LREN3 (-4,64%) e PCAR3 (-5,10%) 

Com o foco dos investidores voltados mais uma vez para a pressão na curva de juros futuros, o setor varejista, que já vem apanhando na bolsa, teve mais um dia sangrento no ringue — com uma queda em bloco e os papéis entre os piores desempenhos da sessão.

A explicação segue a mesma dos últimos dias: a expectativa de juros altos por mais tempo restringe o acesso ao crédito da população, levando a uma redução na compra de itens não essenciais, e pressiona os resultados futuros do varejo em um efeito dominó. Juro alto é sinônimo de receita limitada e dívidas mais salgadas para as empresas. 

No Ibovespa, a pior queda ficou por conta da Petz (-5,60%), seguida de perto por Grupo Soma (4,30%), Lojas Renner (-4,64%) e Pão de Açúcar (5,10%) — este último com mais preocupações para além dos juros altos, como explicamos aqui. Os papéis da rede de supermercados acumulam queda de 79% no ano. 

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ELET6 (1,88%)

O mau humor generalizado deixou apenas 10 das 86 as ações do Ibovespa no azul hoje. A Eletrobras foi uma delas. Alta de 1,88% para ELET6. Durante a maior parte do dia, a companhia liderou os ganhos do Ibov. 

A empresa destoou do clima geral por conta dos anúncios de mudanças no alto escalão e da antecipação no pagamento de compromissos financeiros. Elvira Cavalcanti Presta, que estava no cargo de diretora financeira e chegou a ser presidente interina da companhia em 2021, renunciou e será substituída por Eduardo Haiama. A companhia também fará a quitação antecipada de títulos de dívida de curto prazo (conhecidos como notas comerciais) no valor de R$ 6 bilhões. A emissão das notas foi feita em dezembro de 2022, com vencimento em junho de 2024. 

O governo federal voltou a chiar sobre as mudanças na gestão. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse ter sido surpreendido pela notícia. Segundo ele, o movimento confirma as críticas recentes da União. Desde o início do Lula 3, há uma briga por maiores poderes de influência e escolha dentro da Eletrobras.

Já o mercado recebeu bem o nome do novo dono da cadeira, de olho no histórico do executivo. Haiama vem da Yduqs, empresa que passou por uma grande reestruturação financeira nos últimos anos. Antes disso, o novo CFO da Eletrobras ocupou o mesmo cargo na  Equatorial, onde comandou um processo para reduzir o endividamento da companhia e concluiu uma forte agenda de fusões e aquisições. 

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E é isso. Apesar do dia fraquíssimo, a queda do Ibovespa no mês ainda não é tão pesada: 1,3%. Ainda.  

Até amanhã.

MAIORES ALTAS

BRF (BRFS3): 2,79%

Eletrobras PN (ELET6): 1,88%

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Eletrobras ON (ELET3): 0,92%

Casas Bahia (BHIA3): 1,69%

Natura (NTCO3): 0,52%

MAIORES BAIXAS

Petz (PETZ3): -5,60%

Pão de Açúcar (PCAR3): -5,10%

Grupo Soma (SOMA3): -4,30%

Lojas Renner (LREN3): -4,64%

Locaweb (LWSA3): -4,24%

Ibovespa: -1,49%, aos 114.193 pontos

Em Nova York

S&P 500: -1,47%, aos 4.273 pontos

Nasdaq: -1,57%, aos 13.063 pontos

Dow Jones: -1,14%, aos 33.618 pontos

Dólar:  0,42%, a R$ 4,98

Petróleo

Brent: 0,72%, a US$ 93,96 por barril

WTI: 0,79%, a US$ 90,39 por barril

Minério de ferro: -1,64%, a US$ 115,06 por tonelada na bolsa de Dalian (China).

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