Ibovespa ignora maior inflação em 26 anos e sobe 1,25% com commodities
IPCA desacelerou em abril, mas a inflação anual ultrapassa os 12%. Nos EUA, a alta nos preços também está mais branda, mas continua a mais alta em 40 anos.
Foram quatro pregões consecutivos de quedas. Nesses dias, o Ibovespa acumulou uma desvalorização de 5% e os investidores estavam preparados para mais um dia de perdas: o Brasil registrou a sua maior inflação para o mês de abril desde 1996. Mas o mercado deixou esse detalhe de lado e foi aproveitar a alta das commodities.
No mês passado, o IPCA ficou em 1,06%, o que representa uma desaceleração em relação ao mês de março, quando o indicador ficou em 1,62%. Ainda assim, a inflação acumula alta anual de 12,13% – essa é a maior taxa em 12 meses desde outubro de 2003, quando registrou um acumulado de 13,98%.
O que demonstra que o Banco Central aparentemente tinha motivos para estender o ciclo de altas da taxa básica de juros, que estava previsto para acabar agora em maio. Na semana passada, o BC elevou a Selic 1 ponto percentual e a taxa passou para 12,75% ao ano. A projeção é de uma alta de 0,5 pp em junho.
Apesar da maior inflação para o período em 26 anos, o Ibovespa subiu 1,25%, a 104.396 pontos. A alta foi apoiada pelo avanço das commodities. Depois de cair quase 10% nos últimos dois dias, o petróleo disparou (Brent 4,93%; WTI 5,96%) em meio à expectativa de queda na oferta – o Departamento de Energia dos EUA cortou a previsão de alta na produção americana neste ano de 833 milhões de barris diários para 731 milhões.
O preço também ganhou força com os desdobramentos da Guerra na Ucrânia. A União Europeia está discutindo o embargo ao petróleo russo, mas enfrenta a resistência de Hungria e Bulgária. Além disso, a Rússia impôs sanções à Europol Gaz – uma controladora de gasoduto que liga o país a Alemanha e Polônia. Por aqui, as empresas do setor aproveitaram para acompanhar o movimento de alta do petróleo: a Petrobras e a PetroRio subiram 4,90%, seguida pela 3R Petroleum (2,40%).
O minério de ferro também se recuperou (4,92%), depois de um começo de semana no negativo, e ajudou nos papéis das mineradoras e siderúrgicas. Destaque para a Vale e a Metalúrgica Gerdau, que subiram 3,89% e 3,80%, respectivamente.
Ontem, o setor reagiu mal ao plano do governo de zerar os impostos de importação do aço, como uma forma de forçar uma redução de preço da indústria nacional. O que veio, no final, foi uma redução da alíquota de 10,8% para 4%.
Inflação americana
Hoje teve uma Super Quarta diferente: quem estava alinhado não eram os bancos centrais, mas sim a inflação. Os EUA também registraram desaceleração nos preços, a primeira em oito meses. O CPI (que é o IPCA deles) subiu 0,3% em abril, ante o avanço de 1,2% em março.
Na comparação anual, a inflação americana chegou a 8,3%, pouco acima das projeção de 8,1%. Já o núcleo do CPI (que desconsidera a volatilidade dos alimentos e da energia) subiu em 0,6%, contra os 0,3% em março. No acumulado dos últimos 12 meses, foi 6,2%.
A inflação americana continua sendo uma das mais altas dos últimos 40 anos e preocupa os investidores. A Nasdaq desabou 3,18%, aos 11.364 pontos, seguido pelo S&P 500 (-1,64%, aos 3.935 pontos).
A expectativa é de que o Federal Reserve mantenha uma postura mais agressiva para tentar controlar a alta dos preços. Na semana passada, o banco central americano também reajustou a sua taxa de juros, com um aumento de 0,5 ponto percentual – sinalizando uma alta da mesma magnitude para junho.
Troca no governo
Enquanto o mercado se resolvia com a inflação, Bolsonaro trocou o comando do Ministério de Minas e Energia. Bento Albuquerque foi exonerado um dia após entrar em vigor o novo preço do diesel determinado pela Petrobras.
Na segunda, a Petro anunciou o aumento de 8,87% no preço do diesel, que não sofria reajustes há 60 dias; o último foi em 11 de março, quando o preço subiu 25%. E Bolsonaro já criticou em diversos momentos a política de preço da estatal – ele inclusive já trocou o presidente da companhia três vezes.
Bolsonaro sabe que não pega bem trocar o presidente da Petrobras todo mês – esse já é o terceiro do seu governo. Então, ele achou um bode expiatório para tentar tirar do seu colo o desgaste político que a alta no combustível pode causar em ano eleitoral. Quem substitui Albuquerque é o economista Alfredo Sachsida, chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia e indicação do ministro Paulo Guedes.
Buscar culpados faz sentido. Parte da base política de Bolsonaro é formada por caminhoneiros, grupo mais afetado pelo reajuste. E eles já ameaçam uma paralisação no Espírito Santo por conta do aumento. Logo, cabeças rolaram para a culpa não cair em cima do presidente. Resta saber até quando essa desculpa cola.
Maiores altas
PetroRio (PRIO3): 4,90%
Petrobras (PETR3): 4,90%
Bradespar (BRAP4): 4,11%
Vale (VALE3): 3,89%
Metalúrgica Gerdau (GOAU4): 3,80%
Maiores baixas
Qualicorp (QUAL3): -12,80%
Hapvida (HAPV3): -5,97%
Locaweb (LWSA3): -5,71%
CVC (CVCB3): -5,47%
Rede D’Or (RDOR3): -5,38%
Ibovespa: 1,25%, a 104.396 pontos
Em NY:
S&P 500: -1,64%, a 3.935 pontos
Nasdaq: -3,18%, a 11.364pontos
Dow Jones: -1,01%, a 31.834 pontos
Dólar: 0,21%, a R$ 5,1446
Petróleo
Brent: 4,93%, a US$ 107,51
WTI: 5,96%, a US$ 105,71
Minério de ferro: 4,92%, US$ 133,12 no porto de Qingdao (China)