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Ibovespa sacode a poeira com a primeira alta do ano

Mas o momento não é de volta por cima: a pressão para baixo do Fed nos mercados globais segue firme.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 6 jan 2022, 19h02 - Publicado em 6 jan 2022, 18h51
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 (Caroline Aranha/Foto: Reprodução/VOCÊ S/A)
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O Ibovespa tinha começado o ano de marcha ré: 3,6% de queda acumulada nos três primeiros pregões de 2022. Hoje, o índice levantou e sacudiu a poeira: alta de 0,55%, aos 101.561 pontos. Não que tenha sido exatamente uma volta por cima. Ainda há um certo chão para voltarmos ao patamar do último dia de 2021, que fechou em 104.822 pontos. 

O destaque foi a BRF. A dona da Sadia e da Perdigão ficou com o posto de maior alta pelo segundo dia seguido, depois de o Credit Suisse recomendar a compra de ações da empresa. A avaliação do Credit rolou ontem. Mas, com a bolsa toda em baixa, a BRF liderou com parcos 1,25%. Hoje, ela deslanchou: 5,77%.  

Lá fora, o S&P 500 e o Índice Nasdaq até ensaiaram altas ao longo do dia. Mas acabaram engolindo poeira e dando aquilo que Paulo Vanzolini, o compositor (e estrela da imagem deste post) chamaria de volta por baixo: -0,10% e -0,13%.    

Porque o Fed operou uma mudança climática nos mercados que tem tudo para ser eterna, enquanto durar: vai aspirar de volta uma parte razoável dos dólares que colocou em circulação. E haja dólar. Existem US$ 21,4 trilhões na forma de notas, depósitos em conta corrente e aplicações financeiras com alguma liquidez. Em fevereiro de 2020, antes da pandemia, eram US$ 15,4 trilhões.

Ou seja, de cada US$ 100 que existem hoje, US$ 28 surgiram depois da pandemia.  

E sua mãe estava certa: dinheiro não dá em árvore. Foi o Banco Central dos EUA que produziu. 

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Uma parte disso saiu dos juros perto de zero (entre 0% e 0,25%, banda que há quase dois anos serve como a “meta da Selic” deles). Colocar os juros nesse patamar significa o seguinte: o BC imprime moeda para emprestar aos bancos. Se o juro por essa moeda fosse, digamos, de 3%, talvez os bancos não quisessem. A 0%, não tem muito erro: eles topam. E o Fed produz para emprestar. 

Uma vez nos bancos a grana flui para a rua na forma de financiamentos para as pessoas e empréstimos de capital de giro para as empresas. Mas dinheiro é igual infiltração: não morre, segue seu curso economia adentro. Você compra um carro a prazo com essa grana nova do Fed. O dono da concessionária tira um lucrinho e coloca num fundo de ações. As ações sobem. 

Por isso o S&P 500 subiu 27% no ano passado: não faltou dólar para tanto.

Agora vai faltar. 

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O Fed avisou que vai subir os juros logo, provavelmente a partir de março. O mercado já espera que rolem altas de 0,25% a cada trimestre, de modo que os juros por lá cheguem perto de 3% em 2023. Ou seja, o suprimento de moeda nova diminui. 

Mas a pancada mesmo veio ontem. É que o Fed não produz dinheiro só via juros baixos. Ele também faz isso comprando títulos de dívidas em poder dos bancos.

Tipo: você deve mil dinheiros para o banco. Isso gera um título de dívida. O Fed chega no banco, paga os mil dinheiros (mais juros) e fica com título para ele. Aí o banco central que lute para te cobrar. É um jeito de “oferecer liquidez” ao mercado. Ou seja, trocar dinheiro a receber no futuro por grana na mão hoje. 

Desde o início da pandemia, o Fed imprimiu mais de uma Apple em trilhões de dólares para fazer essas operações. Em fevereiro de 2020, eles tinham US$ 4,1 trilhões em títulos no cofre. Hoje são US$ 8,7 trilhões.

Beleza. O Fed já avisou que até março para com essas compras. E o mercado estava ok com isso. A diferença é que agora eles avisaram que vão vender esses títulos no mercado. 

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Sabe aquela sua dívida de mil dinheiros que ficou com eles? Então. Eles vão pegar e vender para os bancos, por um 500 dinheiros. O objetivo dos bancos centrais, lembre-se, não é dar lucro, é controlar o suprimento de moeda.

Ao vender essas dívidas no mercado a preço de pai para filho, o Fed vai tirar dólares de circulação. Talvez trilhões de dólares, com o objetivo de controlar a inflação. Como Gil do Vigor ensinou, afinal, um efeito colateral adverso da criação tresloucada de dinheiro é a inflação. 

Se o mercado já tinha engolido o fechamento da torneira do Fed, não dá para dizer que fará o mesmo tão cedo agora, com a abertura do ralo. 

Até amanhã.   

Maiores altas

BRF (BRFS3) 5,77%

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Lojas Renner (LREN3) 5,76%

Grupo Soma (SOMA3) 3,55%

Hapvida (HAPV3) 3,42%

Totvs (TOTS3) 3,17%

Maiores baixas

Positivo (POSI3) -5,31%

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Via (VIIA3) -4,81%

Pão de Açúcar (PCAR3) -3,77%

Rumo (RAIL3) -3,43%

Assaí (ASAI3) -3,42%

Ibovespa: 0,55%, a 101.561 pontos

Nova York

Dow Jones: -0,47%, a 36.237 pontos

S&P 500: -0,10%, a 4.696 pontos

Nasdaq: -0,13%, a 15.081 pontos

Dólar: -0,56%, a R$ 5,68

Petróleo

​​​​Brent: 1,47%, a US$ 81,99

WTI: 2,06%, a US$ 79,46

Minério de ferro: ​​2,15%, a US$ 127,58 a tonelada no porto de Qingdao, na China

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